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Como aceleradora de negócios transforma vidas e apoia empreendedoras do Nordeste

Foto: Linkedin/Marcela Fujiy

“Só vai estar bom de verdade quando estiver bom para todo mundo”. Essa frase é um como um mantra na vida da empresária paraibana Marcela Fujiy. Foi partindo dessa frase que Marcela decidiu ajudar na transformação de empreendedoras criando a primeira aceleradora exclusiva para mulheres no Nordeste: a Be.Labs.

A ideia surgiu após ela e o esposo Christian Fujiy morarem por 12 anos na Suécia, país exemplo na igualdade de gênero. Após voltarem ao Brasil, em 2018, eles fundaram a Be Labs.

Qual o propósito da Be Labs?
Foto: Reprodução/Internet

O intuito é fomentar a base de mulheres empreendedoras com o Efeito Furacão – uma metodologia exclusiva e pensada para mulheres que têm uma ideia e buscam tirá-la do papel, mas também para mulheres que já têm um negócio, mas querem fortalecê-lo.

O nome Efeito Furacão não foi escolhido à toa. “Furacões mais fortes do planeta têm nome de mulheres porque são levados menos à sério. Partimos daí, e construímos vários projetos furacões para reduzir as desigualdades, e polaridades através da nossa metodologia”, explica Marcela.

Empreendedorismo na veia

Filha de pais comerciantes, o empreendedorismo sempre esteve presente na veia de Marcela. Para ela, mais que uma fonte de renda, trata-se de uma forma de vida.

Ela conta ao Eufêmea que nunca enxergou o empreendedorismo como um desafio a mais para mulheres; mas percebeu, após morar na Suécia, que muito do que acontecia estava atrelado à diferença de gênero. “É algo que no Brasil é tão naturalizado que a gente nem percebe”, diz.

Para Marcela, o maior desafio aqui é encontrar parceiros que acreditem no propósito do fomento ao empreendedorismo feminino como ferramenta de transformação e aumento do poder econômico. “Falta olhar para a Be Labs como um negócio, como de fato ele é”. 

Foto: Arte Eufêmea
Donas de negócios no país

De acordo com a última pesquisa do Sebrae, feita com base em dados do IBGE, o número de mulheres empreendedoras vem crescendo no Brasil: no terceiro trimestre do ano passado, havia 10,3 milhões de mulheres donas de negócios no país, mais de 34% dos empreendedores -um recorde.

Mas nem sempre é fácil continuar. Outras pesquisas anteriores mostraram que a cada 10 homens que empreendem, só 69% seguem com o seu empreendimento. Quando trazemos esse dado para as mulheres, apenas 34% delas seguem.

“Ou seja, a gente desiste mais cedo. Então considerando todos esses aspectos, a nossa metodologia foi criada trazendo itens importantes como: plano de negócio, marketing digital, jurídico e financeiro. Mas também, e principalmente, aspectos que são tão importantes para a jornada empreendedora da mulher quanto os já citados como empatia, sororidade e vieses inconscientes. Temos um módulo exclusivo de inovação. Tudo isso faz com que a mulher realmente se sinta uma empreendedora e que ao final do nosso programa saia com seu o seu pitch pronto e que ela consiga seguir nessa jornada”, afirma Marcela.

Foto: Eufêmea
Gerlane antes e depois do Efeito Furacão

Alagoas é um dos estados que a Be Labs está presente. Quem participou do Efeito Furacão foi a alagoana, designer de moda, modelista, costureira e instrutora de modelagem e costura, Gerlane Maria. Na época, ela se inscreveu no curso e passou por um processo seletivo. Tudo isso de forma gratuita por meio do Sebrae.

Ao Eufêmea, ela afirmou que a Be Labs impactou positivamente no negócio dela. Trazendo clareza e estrutura. 

Antes de iniciar seu empreendimento, Gerlane conta que era contratada em uma empresa, onde desempenhava múltiplas funções, como modelista e costureira, e enfrentava altas demandas de trabalho -muitas vezes estendendo-se até altas horas da noite. “Foi quando eu pedi pra sair da empresa, onde eu me sentia muito explorada. Saí certa do que eu queria: trabalhar para mim”, relata a empresária. 

Ela investiu parte de sua rescisão em maquinário industrial semelhante ao que utilizava na empresa, ampliando seu ateliê.

Sua rotina consistia em atender clientes, costurar e viajar para adquirir materiais. Embora não tivesse tempo para se dedicar às redes sociais, ela aproveitava ao máximo os momentos disponíveis para auxiliar os internautas em grupos online, compartilhando seu conhecimento e respondendo dúvidas.

Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Gerlane, foi durante sua participação no Efeito Furacão que ela se deparou com ferramentas e estratégias de estruturação que a ajudaram a se reconhecer como empreendedora.

Ela enfatiza que “há uma Gerlane antes e depois do Efeito Furacão”, duas versões de si mesma que se conectam através dessa metodologia.

Gerlane. Foto: Arquivo pessoal

“Aprendi a me estruturar de forma que não sofresse por antecipação e guardasse energia para colocar no que realmente interessava. Eu precisei me conectar comigo mesmo para compreender minha localização nesse processo”, diz. 

A empreendedora afirma que o Efeito Furacão foi exatamente o que ela precisava para “dissipar as nuvens que tapavam a visão empreendedora”. 

“Eu empreendia, mas não tinha conhecimento das ferramentas e da estrutura que realmente necessitava. O Efeito Furacão entrou na minha vida e estruturou meu negócio. Eu reafirmei muitos conceitos que já estudava, mas agora pude fazer programações, planejamentos e entender que não era uma instituição filantrópica. Tive que superar minhas dificuldades mentais e aprender a cuidar das finanças do meu negócio de forma assertiva”, relata Gerlane.

Um dos principais desafios enfrentados por Gerlane como empreendedora no âmbito feminino foi lidar com estereótipos de gênero e a falta de confiança de algumas pessoas em suas habilidades.

Ela conta que contratava colaboradores homens que não queriam seguir suas orientações e frequentemente tentavam desvalorizar seu trabalho. “Acredito que, independente do sexo, as mulheres têm uma força e capacidade tão grandes quanto os homens. Sou a única responsável pelo meu sucesso”, afirma.

De aluna para mentora
Elen, Marcela e Chris. Duas alagoanas que integram o time da Be Labs.

Mentora e furacanizadora, a alagoana Elen Toledo conheceu a Be Labs em 2022 quando se inscreveu através do Sebrae para participar do Efeito Furacão como aluna.

Elen é contadora, administradora e mãe da Maria Flor, que tem 1 ano e 8 meses. Na época, ela estava vivendo um momento delicado e estava sozinha para cuidar da filha que tinha meses.

“Eu costumo dizer que de alguma forma o Efeito Furacão salvou minha vida. Estar com mulheres poderosas, me dizendo que eu ia dar conta, fez com que eu me sentisse capaz de atravessar aquela fase com alguma sanidade mental e ainda alçar os novos voos que eu estava buscando na época”, reforçou.

Ao longo do programa, Elen modelou o negócio dela e conseguiu validar a sua proposta. “A minha ideia quando entrei no Efeito Furacão foi completamente ajustada até eu sair de lá, de forma que trouxe muito mais clareza do que de fato eu tinha como proposta de trabalho e como eu deveria gerenciar esse negócio”.

Após deixar de ser aluna, Elen se tornou mentora e hoje ajuda mulheres empreendedoras através da Be Labs.

“O meu trabalho como mentora é principalmente ouvir. Quando a gente trabalha com empreendedorismo feminino, não fala só de negócios, mas trata sobre o impacto de ser multitarefas, da carga mental, da economia do cuidado, entre outras questões que estão diretamente ligadas ao empreender nesse recorte de gênero”, afirma.

Além de ouvir, ela diz que o papel dela é guiar as mulheres que passam por ela para que essas mulheres possam avançar nos seus negócios.

“É transmitir um pouco de conhecimento, experiência, proporcionar novos questionamentos, fazer novas conexões e trazer soluções mais criativas dentro daquilo que elas apresentam como problemática”, disse.

Foto: Arquivo pessoal

A alagoana reforça que, através do Efeito Furacão, a vida da mulher é impactada diretamente. “A gente impacta indiretamente a família e a comunidade. Ver essas mulheres se apropriando de seus negócios, evoluindo suas estratégias, alcançando resultados efetivos e mudando suas realidades é a concretização do propósito”.

Metodologias são importantes para mulheres
Érica Pereira, gestora do Serae Delas

Érica Pereira, gestora do Sebrae Delas, destaca ao Eufêmea que as metodologias como as realizadas pela Be.Labs e outras pré-aceleradoras são significativas para mulheres com a veia empreendedora.

“É importante para que as mulheres possam aumentar o seu poder econômico através do empreendedorismo, visando também a mudança de mentalidade e seguindo as tendências de futuros”, destaca.

Para ela, a aceleradora impacta diretamente na forma como as mulheres empreendedoras passam a enxergar o seu posicionamento dentro dos seus negócios, atuando em rede e melhorando seus resultados.

“A dica é não deixar de se capacitar e colocar em prática nos seus negócios, assim como fazer conexões com outras mulheres de segmentos diversos para formação de parcerias para trocas, divulgação e venda de produtos e serviços”, finaliza.

Dados sobre empreendedoras do NE

A busca pela independência é o principal objetivo das mulheres empreendedoras do Nordeste, segundo aponta o estudo Perfil das mulheres empreendedoras do Nordeste Brasileiro 2023, publicado pela Be.Labs.

O estudo aponta que 78,14% das entrevistadas relatam que seus negócios surgiram pelo desejo de independência e ter seu próprio negócio.

Veja o perfil abaixo:

Foto: Dados Be.Labs

“Na real, a dor do empreendedorismo feminino é a dor de ser mulher”, conclui Marcela Fujiy.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.