Colabore com o Eufemea

“Falta de valorização e respeito”: artistas se revoltam após Prefeitura de Maceió cancelar grupos de Coco de Roda no São João

Foto: Reprodução/Instagram

No último fim de semana, uma sequência de shows de coco de roda foi cancelada pela gestão municipal no São João de Maceió. Segundo as artistas entrevistadas pelo Eufêmea, elas foram pegas de surpresa minutos antes das apresentações. A FMAC enviou uma nota e disse que houve um problema com a empresa terceirizada.

Na sexta-feira, Gabriela Cravicanela se apresentaria no palco da praça Marcílio Dias, no bairro Jaraguá, às 19h. Em seguida, o grupo Poesia Musicada no Pandeiro entraria em cena. No entanto, ao chegar no local e realizar a passagem de som, Gabriela foi informada de que o evento não prosseguiria devido à falta de pagamento pelos equipamentos.

Nos stories do Instagram oficial do “São João de Maceió”, foram divulgados registros do momento em que os músicos testavam o som, como se o show estivesse ocorrendo.

No domingo, também foi cancelada a apresentação da Zeza do Coco, considerada Patrimônio Vivo da Cultura Alagoana desde 2016. O grupo Coração de Mainha, que se apresentaria na sequência, também foi suspenso.

Ao Eufêmea, Manu Preta, mestra do Coração de Mainha, expressou sua insatisfação e classificou o episódio como “uma total falta de respeito e valorização com a cultura e os artistas da terra”.

“Para quem vem de fora, grandes palcos e cachês generosos. Para os grupos e artistas locais, nada. Temos que brigar por um espaço que já deveria ser nosso por direito. E mesmo quando conseguimos algo, passamos pelo constrangimento de ter tudo cancelado em cima da hora, sem nenhuma justificativa e nenhum aviso”, disse Manu.

Além disso, Manu comentou sobre a disparidade nos investimentos destinados à cultura do estado em comparação aos artistas de outras regiões do Brasil, destacando como o apoio financeiro de órgãos públicos poderia trazer melhorias.

Manu disse que existe uma grande diferença no investimento de verbas para a cultura do estado e para os artistas de outras partes do Brasil.

“Há diversas formas do município incentivar os grupos, seja através de verbas para aquisição de instrumentos, confecção de figurinos, oficinas, entre outros. Mas o que recebemos é um cachê de 2 mil reais em apresentações esporádicas, e acham que isso é um grande investimento na cultura local. Imagine um grupo de 20 pessoas com um cachê de 2 mil, como é o caso do meu grupo. Mal cobre os gastos com transporte para as apresentações”, ressaltou.

Desvalorização dos artistas locais

Vários artistas alagoanos expressaram descontentamento, especialmente após saberem que um cantor mineiro recebeu 1 milhão de reais para se apresentar no palco principal do Jaraguá.

Lore B, cantora maceioense, revelou frustração com a situação: “O sentimento é de desvalorização. O poder público tem um conceito deturpado de cultura, transformando os órgãos em casas de show. Para nós, só resta a indignação mesmo.”

O que diz a FMAC?

A Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC) enviou uma nota à imprensa abordando os últimos acontecimentos e disse que está “trabalhando para solucionar o problema entre a empresa contratada para montagem de palco e suas prestadoras de serviço”.

“A Fundação está cumprindo rigorosamente o que está previsto nos contratos para a realização do evento, que está acontecendo sem nenhuma ocorrência desta natureza em qualquer outro palco da cidade. Trata-se, portanto, de uma questão localizada. A Fundação aproveita para reiterar que os artistas em questão terão seu espaço garantido em Maceió.”

A chefe de gabinete da FMAC, Nidiane Oliveira, afirmou ainda que “os artistas serão remanejados para outro palco em nova data, que será divulgada em breve.”

Lelê Alcântara

Lelê Alcântara

Jornalista e apreciadora de expressões artísticas. Utiliza a Comunicação como forma de valorizar a cultura, dar voz às artistas independentes e desenvolver senso crítico sobre o impacto da arte na construção social.