A proporção de mulheres que optam por engravidar mais tarde aumentou no Brasil ao longo das décadas. É o que mostra um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2021 que aponta que em uma década houve um aumento de 63% na taxa de nascimentos na faixa etária de 35 a 39 anos, enquanto a mesma taxa entre mães com até 19 anos caiu 23%.
Com os avanços na área da medicina reprodutiva, mulheres têm priorizado carreira e estabilidade financeira. É o caso da advogada Mariana Sampaio que, aos 35 anos, tem adiado a maternidade por uma série de receios que giram em torno da sua profissão.
“Se dependesse do meu esposo, nós já teríamos tido filho, mas no mês em que casei, coloquei logo meu DIU. Sou autônoma, então é complicado pensar nessa mudança radical quando o seu trabalho e rendimentos dependem só de você”, aponta.
Dedicação ao trabalho
Da mesma forma pensa a advogada e estudante de jornalismo, Maria Villanova. Ela sempre teve o sonho de ser mãe, mas diz nunca ter encontrado um parceiro que pudesse dividir com ela as responsabilidades da jornada. Hoje, casada e com um companheiro à altura, aos 35, Maria ainda acha que não é o momento.
“Quero me estabelecer profissionalmente nessa nova área em que escolhi atuar. O jornalismo precisa de dedicação, é muito ativo, e meus horários são bem preenchidos”, afirma.
“Para mim ainda tem o fator financeiro, voltei a ser estagiária, então nosso orçamento nesse período está mais apertado, preciso me estabilizar primeiro”.
Um comparativo feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com base em dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), mostrou que o número de bebês nascidos de mulheres a partir dos 35 anos foi de 16,5% em 2020, em 2000, esse percentual era de apenas de 9,1%.
Relógio biológico
Diante desse cenário, as consultas ginecológicas e de planejamento familiar se tornaram ainda mais relevantes. “A questão é que o relógio biológico, muitas vezes, não acompanha o momento em que a mulher decide engravidar, pois o seu estoque de óvulos é finito”, afirma a médica especialista em reprodução assistida, Maria Eugênia Câmara.
Receios sobre a maternidade
A instrumentadora cirúrgica de 31 anos, Stephanie Aquino, ainda não se vê como mãe. Mesmo vivendo num relacionamento estável há onze anos, com carro e casa próprios, renda fixa, tem muitos receios sobre a maternidade.
“São muitas mudanças: corpo, sono, rotina, rendimento no trabalho, fator financeiro, insegurança no mundo. As pessoas dizem que quando estamos prontas, sentimos. Eu ainda não senti”, afirma.
Quando há dúvidas sobre o desejo de ter filhos no futuro, como no caso da instrumentadora, o ideal é buscar um especialista o quanto antes.
“A idade ideal para se submeter ao congelamento de óvulos, por exemplo, é antes dos 35 anos, momento em que os óvulos têm melhor qualidade, pois quanto mais tarde, menos óvulos disponíveis para o congelamento e menos chances de se tornarem embriões”, completa.