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“O momento mais difícil que passei na vida”: Mulheres relatam demissão após voltarem da licença-maternidade

 Crédito da foto: Mariana Rocha – @pormarianarocha

Com um cenário profissional marcado por desigualdade de gênero e desafios no mercado de trabalho, muitas mulheres são surpreendidas com a notícia de sua demissão após retornarem da licença-maternidade. Instabilidade financeira e insegurança emocional são apenas algumas das dificuldades enfrentadas por essas mães.

No Brasil, a licença maternidade é um direito garantido por lei, que visa assegurar o bem-estar da mãe e do recém-nascido. No entanto, dados recentes revelam que, mesmo com essa proteção legal, muitas empresas têm negligenciado esse período para a mulher e sua família.

Um levantamento aponta que cerca de 56% das profissionais já foram desligadas ou conhecem outra mulher que foi demitida após a licença-maternidade. O mesmo levantamento aponta ainda que quatro em cada dez mulheres já se sentiram discriminadas em um processo seletivo ao contarem sobre a maternidade.

“Entrei em desespero”

Ao Eufêmea, Luana Araújo, relata que passou por uma experiência frustrante após retornar de sua licença maternidade. Luana trabalhava como suporte de gerência para uma operadora de telefonia e tinha uma rotina intensa.

No entanto, quando Luana retornou ao trabalho após quatro meses de licença maternidade e um mês de férias, recebeu uma notícia inesperada. Cinco dias após seu retorno, ela foi demitida.

“Foi um choque muito grande quando aconteceu, porque foram oito anos de empresa, oito anos de dedicação total”, desabafa.

Ela relata que a empresa havia passado por uma centralização em outra cidade durante sua ausência, o que resultou em cortes e na redução de cargos. Como Luana não estava presente, ela foi desligada.

“O momento mais difícil que passei”

Essa demissão repentina causou um choque em Luana. Ela enfrentava a jornada da maternidade sozinha, sem apoio financeiro ou emocional do pai da criança.

“Entrei em desespero! Era meu primeiro emprego, o meu sustento. Eu estava levando uma gravidez sozinha sem o apoio do pai, financeiro ou psicológico. Na minha vida toda esse foi o momento mais difícil que passei”, relata.

Uma pesquisa dos profissionais da Catho de 2018, com mais de 2,3 mil mães, afirma que 30% das mulheres deixam o trabalho para cuidar dos filhos. Já Luana comemora que não entrou nessa estatística. Mesmo amamentando seu filho recém-nascido e lidando com o cotidiano da maternidade, ela procurou novas oportunidades de emprego.

Não demorou muito para conseguir um emprego na Ambev como serviços gerais e, posteriormente, em outra empresa, recebeu uma proposta na para trabalhar externamente, viajando.

“Na hora da entrevista de emprego a minha blusa molhou de tão cheia que eu estava de leite. Mesmo assim recebi total apoio, eles ficaram admirados com a minha garra e disposição para querer lutar”.

“Hoje eu sou gerente de um time de 11 pessoas, em uma joalheria. Isso foi graças a todo esse percurso de crescimento, onde percebi que queria uma segurança financeira, um futuro seguro para o meu filho”, continua.

“Fui pega de surpresa”

A administradora e especialista em marketing de experiência, Bel Alvi, de 43 anos, também conta que foi demitida de seu antigo trabalho após voltar da licença maternidade.

“Eu fui pega de surpresa pela emissora de TV. Foi extremamente difícil lidar com esse processo porque eu associei a maternidade diretamente à incapacidade”, revela.

“Isso desencadeou uma depressão muito severa em mim, foram dois anos de tratamento com psicólogos, com psiquiatras e apoio do meu marido e família”, continua.

A mãe da Giovana, de cinco anos, destaca ainda que após a demissão o processo de voltar ao mercado de trabalho foi complicado devido à falta de rede de apoio. Ela revela que durante os processos seletivos era questionada sobre como poderia conciliar maternidade e a profissão.

“O mercado de trabalho ainda não está preparado para lidar com as mulheres que são mães e profissionais”, afirma.

Trajetória profissional

A ideia de criar a “Bel Avi Soluções e Encantamento” surgiu quando a publicitária percebeu que tinha um diferencial de mercado e fez disso um negócio: ela é a única profissional de Alagoas certificada pelo Disney Quality Service.

De acordo com ela, as empresas alagoanas declaram apoio às mães nas redes sociais através de postagens em homenagem e depoimentos. No entanto, a publicitária alerta que, na prática, essas empresas não oferecem suporte ou estrutura para essas mães.

“Querer trabalhar não quer dizer que a gente vá ser uma mãe omissa, não quer dizer que vá ser uma mãe que não se importa com os filhos. Até porque o que mais fortalece uma mãe é ver o seu filho tendo orgulho do seu trabalho, da sua trajetória profissional”, conclui.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.