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‘Perdão’ de Daniel Alves é estratégia de culpabilizar a mulher: é muito bom ser homem!

O jogador Daniel Alves está preso desde o dia 20 de janeiro, acusado de estuprar uma jovem de 23 anos na na Boate Sutton, em Barcelona. Durante todo esse tempo, a defesa e o jogador usaram várias estratégias para convencer que a vítima é Daniel Alves.

Em seu primeiro pronunciamento oficial, o lateral disse que é inocente e que “não sabe o motivo pelo qual a mulher fez a acusação, mas que a perdoa pela falsa acusação”. A fala dele é uma estratégia de tirar a responsabilidade de si e se colocando como vítima.

“Estou com a consciência tranquila. Nunca machuquei intencionalmente ninguém. E nem ela naquela noite. Não sei se ela está com a consciência tranquila, se dorme bem à noite. Eu a perdoo, ainda não sei por que ela fez tudo isso, mas a perdoo”, declarou.

Estamos, mais uma vez, assistindo um homem público dando desculpas e colocando a vítima como a vilã. Isso acontece com frequência. É fundamental desmascarar essas tentativas de manipulação e trabalhar em prol de uma sociedade em que o abuso seja condenado e as vítimas sejam protegidas e apoiadas.

A tendência de colocar a mulher como vilã é um um reflexo de uma sociedade machista, enraizada em desigualdades de gênero e estereótipos prejudiciais.

A figura feminina é sempre retratada como como manipuladora, traiçoeira ou responsável por problemas e conflitos. E é exatamente isso que o jogador faz: a coloca como culpada.

Essa representação distorcida e injusta das mulheres é prejudicial, pois perpetua a desvalorização e a objetificação do gênero feminino.

Com essa atitude, o jogador se exime da responsabilidade e conquista a simpatia das pessoas que vão dizer: “quem nunca errou, não é mesmo?”

Daniel Alves ainda será julgado pela justiça espanhola, mas enquanto isso, joga bola e dá autógrafos aos detentos dentro do presídio. É realmente muito bom ser homem.

Não, Daniel Alves, a vítima não precisa do seu perdão, porque ela não tem culpa de nada. E sabe quem é a pessoa que carrega consigo cicatrizes invisíveis e com certeza, culpa? Ela.

Sim, porque mesmo ela não sendo a culpada, a culpabilização feminina é algo que fica impregnada da mulher. Os machistas e abusadores adoram jogar a culpa para a mulher. Então mesmo ela sendo a vítima, eu tenho certeza que ela se culpa todos os dias.

Essa prática de tirar a responsabilidade de si e jogar para a mulher é injusta e perpetua um ambiente onde as mulheres são submetidas a uma dupla penalidade: além de sofrerem as consequências do abuso/violência, também são culpabilizadas injustamente.

Finalizo com uma frase que o jornalista Matheus Pichonelli usou em um texto publicado hoje no UOL: ‘Mas, caso fique provada a acusação, ele terá entrado para a história por imitar o eu-lírico de uma música antiga que resume o cinismo dos canalhas: “Te perdoo por te estuprar”.

Repito: é muito bom ser homem. E ser jogador (amanhã tem texto sobre a traição do Neymar).

Estou no Instagram: @raissa.franca
Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.