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Preconceito e violência psicológica: A luta diária da comunidade LGBT

Você já saiu para jantar e foi convidada a se retirar de sua mesa porque uma “família” estava com crianças, na mesa ao lado, e não queria que elas vissem duas mulheres demonstrando afeto?

Você vê todos os dias sua vizinha pegar o elevador de serviço porque não quer descer no mesmo elevador que você?

Quando chega num restaurante, você percebe que ninguém vem lhe atender? Ou quando lhe atendem depois de muita insistência, você percebe que é a primeira mesa a chegar a conta?

Você já saiu para caminhar com sua namorada e ouviu gritos de “isso é uma pouca vergonha!”?

Você já ouviu da mãe de sua namorada que “ainda tem esperança de que ela case com um homem”?

Você já foi xingada de “modista depravada” por ter colocado num questionário acadêmico a pergunta sobre orientação sexual e identidade de gênero?

Ou que tal aquela máxima: “Deus fez o homem para a mulher, dois iguais não reproduzem”, quantas vezes já lhe falaram isso?

Pois bem, o que há de errado comigo? Seria essa a pergunta? Ou seria mais assertivo perguntar o que há de errado com o outro que não consegue aceitar a existência da diversidade? O que há de errado com o outro que não consegue respeitar as diferenças?

Dia 28 de junho celebramos o Dia do Orgulho LGBT, em alusão a Rebelião de Stonewall Inn, considerada o início de todo movimento de visibilidade à causa LGBT nos Estados Unidos e no mundo. A Rebelião de Stonewall, em 1969, foi um basta a toda repressão policial que a comunidade LGBT sofria. Ao invés de apanhar, eles se rebelaram, e tiveram o apoio da população.

O termo Pride ou Orgulho é uma forma de combater a vergonha e a solidão que muitos sentem por serem da comunidade LGBT, dentro de uma sociedade que tende a valorizar quem é cisheteropatriarcal e tende a sufocar quem não segue seus padrões de gênero e orientação sexual.

Historicamente, convencionou-se que a vida e o comportamento das pessoas tinham que se relacionar biunivocamente ao seu sexo ou sua determinação sexual dada ao nascer: masculino ou feminino, homem ou mulher.

Contudo, é preciso que conversemos mais sobre o que é o processo biológico e o que é um constructo social. Eu quero e posso decidir sobre minha vida! A minha identidade de gênero e minha orientação sexual não nascem prontas, e, portanto, não são estáticas. Não é o outro que vai dizer por quem eu devo sentir prazer ou com quem eu devo me relacionar.

Aliás, nem mesmo o sexo biológico se resume ao masculino e feminino, existe uma intersexualidade que deve ser considerada. E quando a gente fala em gênero ou em identidade de gênero, estamos nos referindo a uma construção social com traços Moscovicianos, de como eu me vejo e me sinto no mundo independente do meu sexo biológico. O desejo, o prazer e o que eu busco nos relacionamentos afetivos-sexuais está relacionado a orientação sexual, que nunca deve ser engessada.

Não há prova concreta que relacione a identidade de gênero e a orientação sexual à ligação genética, as pesquisas se concentram numa associação de aspectos psicológicos, biológicos, sociais e culturais. O que pode levar a evidências biológicas são os traços de homossexualidade em animais não-humanos. Os cientistas continuam a fazer seu papel de pesquisar e dar respostas para tantos desafios.

Mas, uma pergunta que sempre me vem à mente e eu já escrevi sobre isso: por que a sexualidade do outro lhe incomoda tanto? É tão difícil assim aceitar o outro como ele é, como ele quer ser, do jeito que ele quer viver? Em que lhe prejudica a liberdade do outro?

É mais fácil para você fazer parte de um grupo que tenta a todo custo invalidar o outro com argumentos pífios e ultrapassados ou, simplesmente, deixar as pessoas viverem suas vidas?

Qual a graça em causar sofrimento a uma pessoa que você nem conhece?

Por isso, mais que aceitar e respeitar a diversidade de gênero ou diversidade sexual, é preciso ser anti-lgbtfobia e lutar contra a o cultivo e perpetuação da mentalidade lgbtfóbica.

Esse é nosso dever social. Lutar por um mundo melhor para os que estão e os que virão. Um mundo em que as pessoas reverenciem o outro com a ausência de julgamentos e passem a respeitar mais a liberdade. Um mundo em que a família não expulse seus filhos de casa por causa de sua orientação sexual, em que as Instituições não façam chacota de seus colaboradores pela sua identidade de gênero, em que as empresas estejam totalmente abertas ao público LGBT, e que a sociedade entenda de uma vez por todas que se combate o preconceito com ativismo.

Stonewall vive!

Natércia Lopes

Natércia Lopes

Licenciada em Matemática, Mestra em Educação Matemática e Tecnológica, Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra e Psicanalista formada pela ABRAPSI.