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A transfobia e cisgeneridade compulsória mata mais uma mulher

Foto: Istock

Vivemos em uma sociedade patriarcal, conservadora e, consequentemente, machista. O modelo de família nuclear formado por pai, mãe e filhos é o padrão há centenas de anos no Brasil. Isso colabora para a manutenção da ideia de que ser cis-heterossexual é o normal.

Quem ousa ser “anormal” nesta sociedade, quem ousa querer romper com os padrões heteronormativos, corre o risco de não ser aceito em seus meios. Como seres humanos, somos sociáveis por natureza e precisamos dessa aceitação, desse acolhimento, dessa convivência.

Aristóteles dizia que o ser humano só encontra a felicidade através da coexistência humana. Fico pensando até que ponto desistimos de acreditar que as pessoas um dia irão aceitar os outros do jeito que são e começamos a pedir para que sejam felizes sozinhos.

Porque uma coisa é sua autoaceitação, sua legítima escolha de querer viver só, a outra é você ser forçado a limitar seus relacionamentos, ser privado do convívio dos outros pelo que você decidiu ser.

Ninguém quer estar em desacordo com aquilo que é dito como normal, a pressão social heteronormativa faz com que muitas pessoas se autoafirmem heterossexuais para serem aceitas, terem um carimbo de validação dentro dos meios em que vivem.

A cisgeneridade compulsória produz seres humanos incapazes de se aceitarem como são. A régua binária do sexo masculino e feminino como as únicas opções para uma imensa pluralidade de indivíduos é cruel, porque faz com que a pessoa seja determinada a seguir um padrão de expectativa da sociedade.

As construções sociais, as relações afetivas que podem ser afloradas no percurso da vida de alguém são desconsideradas com o eixo binário de rótulos fixos.

A transfobia nasce dessa gama de preconceitos e discriminações contra pessoas cuja identidade de gênero difere do sexo atribuído ao nascer. A transfobia é o ódio a essas pessoas que ousaram romper com a cisheteronormatividade.

A transfobia oprime, marginaliza e desumaniza as pessoas, determinando que suas vidas sejam excluídas da sociedade, porque elas não vão seguir os padrões normais de constituição de uma família nuclear, da “família tradicional brasileira”.

Quando vão perceber que o problema não é a sexualidade do outro, é a compulsão social em obrigar as pessoas a seguirem padrões cisheteropatriarcais, ignorando suas reais vontades e inclinações?!

Mais uma mulher trans morreu, seguindo a expectativa de vida que essa mesma sociedade determinou para ela: metade da média nacional.

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Natércia Lopes

Natércia Lopes

Licenciada em Matemática, Mestra em Educação Matemática e Tecnológica, Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra e Psicanalista formada pela ABRAPSI.