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Agressões e desamparo: a dura realidade enfrentada pelas mulheres trans em Alagoas

Foto: Internet

Graziele Junqueiro, uma mulher trans de 38 anos, morreu após ter sido brutalmente espancada por dois homens dentro da sua residência, localizada em Santana do Ipanema, município de Alagoas. Esse caso só reflete a realidade enfrentada pela população LGBTQIAP+ em Alagoas, onde em média duas agressões são registradas diariamente.

De acordo com os dados do Grupo Gay de Alagoas (GGAL), somente neste ano, quase 400 denúncias de agressões foram reportadas. Os números revelam um total de 397 denúncias de agressão, além de dez assassinatos e quatro suicídios.

O Eufêmea conversou com mulheres trans que sofreram violência física, emocional ou verbal, as quais compartilharam os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ no estado e destacaram a sensação de desamparo e insegurança.

Discriminação e violência
Foto: Cortesia ao Eufêmea

Danielle Silva, uma mulher trans, relata que durante as festividades do São João deste ano, viveu momentos de terror e violência. Enquanto retornava do bairro do Jaraguá acompanhada por um rapaz, Danielle foi agredida por três indivíduos dentro de um carro.

Ela foi jogada ao chão enquanto os agressores proferiam insultos direcionados ao rapaz, acusando-o de se relacionar com uma pessoa trans.

“Eles me jogaram no chão e gritavam para o rapaz: ‘você tá saindo com traveco, saindo com travesti’. Foi horrível, tentaram nos roubar, infelizmente meu São João foi assim. Não foi nada agradável, é muito triste”, lamenta Danielle.

Essa não foi a primeira vez que Danielle enfrentou o peso da discriminação e da violência. Ela relata que durante sua adolescência sofreu diversos episódios de agressão verbal e física.

“Uma vez na feira me jogaram tomates e legumes, enfim, foi uma humilhação. São coisas que prefiro não recordar e nem trazer à mente, pois não me agregam em nada”, revela.

No entanto, após sua transição e as mudanças físicas, Danielle relata que enfrenta menos violência atualmente. Ela frequenta bares, shoppings, baladas e feiras, e embora ainda encontre situações desagradáveis, não se compara com as experiências vividas anteriormente.

Durante sua estadia em São Paulo, Danielle viveu outro episódio traumático. Ela foi agredida verbalmente e fisicamente em um encontro com um homem que já tinha conhecimento de sua identidade. Ela conta que gritou por socorro dentro do carro, próximo a uma parada de ônibus, mas ninguém ofereceu ajuda.

“O cara surtou e começou a me agredir, dizendo que eu não deveria existir no mundo, que eu deveria ter nascido morta. Ele me jogou para fora do carro e tentou passar por cima de mim com o veículo, mas graças a Deus não conseguiu”, expõe Danielle.

De acordo com ela, o que torna a agressão ainda mais triste e traumática é o fato de que, logo em seguida, uma viatura policial passou pelo local, mas não ofereceu ajuda. “Me viram jogada no chão e não fizeram nada. Fui à delegacia tentar prestar queixa e fiquei horas lá, mas não fui bem atendida”.

“Desamparo e insegurança”
Foto: Cortesia ao Eufêmea

Jady Francielle dos Santos, de 41 anos, militante em prol do espaço e igualdade de gênero, e conselheira suplente do Grupo Gay de Alagoas (GGAL), compartilha sua experiência como mulher trans em Alagoas.

Segundo Jady, as agressões físicas e a violência verbal estão presentes diariamente na realidade das pessoas trans do estado. “Às vezes jogam ovos e sacos de xixi na gente, ali mesmo na rua”, revela.

Jady compartilha uma experiência de violência ocorrida em Maceió, na Avenida da Paz, onde um carro preto passou rapidamente e lançou ovos em sua direção.

Apesar de não ter sido atingida, ela descreve a sensação de desamparo e insegurança. “Isso foi uma experiência desconfortável porque ficamos à mercê daquela situação. É muito triste estar completamente desprotegida e insegura”.

“O principal tipo de agressão que a gente sofre é xingamento. Chamam a gente de travesti, de porco, de tudo!”, continua.

“Em termos de apoio que temos aqui em Maceió é muito pouco. Ainda há um protocolo muito grande para chegar até a gente. Não é só comigo, mas com a maioria das outras meninas”, diz.

Ela ressalta a dificuldade de buscar segurança nas situações em que precisam lidar com a prostituição à beira das estradas. Jady destaca que as mulheres trans não estão ali por escolha, mas sim por necessidade. No entanto, ao enfrentarem ameaças ou atos violentos e ao chamarem a polícia, muitas vezes são tratadas com desdém e estigmatizadas.

“Às vezes, as pessoas vêm até nós para nos assediar, nos agredir, ameaçar ou fazer piadas. Quando chamamos a polícia, eles não se importam conosco, dizem que estamos ali porque queremos e nos xingam de ‘vagabundos’.”

De acordo com Jady, o apoio oferecido às pessoas LGBTQIA+ em Alagoas é insuficiente, pois as iniciativas e a assistência ainda são difíceis de serem alcançadas. Ela avalia que a burocracia e os protocolos rígidos limitam o acesso a esses recursos.

“Em termos de apoio que temos aqui em Maceió, é muito pouco. Ainda há muitos obstáculos a serem superados para chegar até nós. Não é apenas comigo, mas com a maioria das outras meninas”, diz.

Violência verbal
Foto: Cortesia ao Eufêmea

Andressa, uma mulher trans de 40 anos, também compartilha as agressões verbais, psicológicas e físicas que enfrentou durante seu período como garota de programa.

“Passei um longo tempo na prostituição e, nessa vida, não há como escapar de algum tipo de agressão. Já saí com supostos clientes que me agrediram em motéis, nos carros e me deixaram na beira da estrada. Já tive armas apontadas para mim e fui mandada descer do carro”, diz.

“Já estive nas esquinas da prostituição e rapazes jogaram extintores e ovos em mim. Recentemente, as meninas têm reclamado que estão jogando bombas de São João”, continua.

No entanto, não são apenas as agressões físicas que afetam Andressa. Ela destaca os obstáculos enfrentados no ambiente escolar, onde a inclusão de seu nome social não é plenamente respeitada.

“Para mim, uma forma de agressão é ser chamada pelo meu nome de nascimento. Estou estudando e fui convocada para ser aluna mentora do programa da escola, mas nos documentos não conseguem incluir o meu nome social”, afirma.

Ela ressalta que Maceió ainda tem um longo caminho a percorrer em termos de progresso e igualdade. “Maceió ainda tem muito a evoluir, temos que lutar muito para conquistar isso”, conclui.

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Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.