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Attenzione pickpocket! Não tenha medo de atribuir a culpa a quem te rouba

Foram 17 anos de casamento e alguém falou para ela que ele estava a traindo. Na verdade, ele já havia constituído família em outra cidade. E, mesmo sendo vítima de um relacionamento unilateral, ela se sentiu culpada pelo fim do casamento.

A culpa é como um alarme que soa em nossa mente dizendo que falhamos. Essa falha pode ser com outra pessoa ou conosco. Sempre vai te remeter a algo do passado, e aí vem mais uma sensação: a de remorso. O remorso nos traz aflição e imensa tristeza porque temos a certeza de que cometemos um ato vergonhoso, nos dá vontade de voltar a esse passado e desfazer este “erro”.

Agora, veja que esse carretel não para. Todos os atos são passíveis de julgamento, principalmente, numa sociedade em que as pessoas mais se preocupam com a vida do outro do que com a sua (é mais fácil apontar o dedo e evidenciar as falhas alheias do que admitir que, enquanto humanos, falhamos todos os dias). Acrescente nesta receita o patriarcalismo em que nós somos julgadas, simplesmente, por sermos mulheres e termos a “obrigação” de corresponder aos anseios impostos pela sociedade machista.

O medo da culpa, do arrependimento e do julgamento, faz com que muitas de nós aceitemos uma relação abusiva, de infidelidade e desrespeito, para não carregarmos esse peso, mesmo quando somos vítimas. Esse quadro tóxico também acende o alerta do quanto não reconhecemos nosso valor no mundo, de como nos ensinaram a aceitar qualquer coisa e não reclamar, do quanto fomos educadas a não termos amor-próprio e vivermos para agradar o outro, mesmo que isso nos roube a paz.

Quando estamos numa relação monogâmica, esperamos lealdade e fidelidade do outro, isso é o mínimo, é a base desta relação. Se alguém falhou, você se culpa? Você fica pensando o que poderia ter feito diferente para manter essa relação? Fica relembrando se a refeição estava sempre posta, se a casa estava arrumada, se você deu atenção mesmo estando cheia de tarefas, se não seria diferente se tivesse largado o emprego?

Se o outro errou a culpa é somente dele! Que não te enganem dizendo que é dos dois! Liberte-se deste peso e afirme que você não merece passar por este sofrimento e ainda se martirizar por tê-lo cometido, não foi você!

A sociedade patriarcal tende a livrar o homem da culpa e buscar na mulher as razões de um fracasso na relação. Por estarmos imersas nesta teia, e termos sido educadas neste estilo, também acabamos por acreditar que, de fato, fomos nós que falhamos e que demos motivos para ele trair.

Caímos em um processo doloroso de revitimização e de perda da paz. Quando você, mesmo vítima, se culpabiliza, você permite que o outro roube toda sua energia vital, e a sua vontade de viver. É preciso sair deste quadro de desfalecimento do amor-próprio e atribuir o erro a quem errou, responsabilizar o outro pelas mentiras e trapaças que ele cometeu, e compreender que seu único erro foi confiar em um borseggiatrici.

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Natércia Lopes

Natércia Lopes

Licenciada em Matemática, Mestra em Educação Matemática e Tecnológica, Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra e Psicanalista formada pela ABRAPSI.