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Brilho da Oxum: casal de empreendedoras de Fortaleza cria joias autorais que resplandecem a essência da umbanda

Oxum é uma orixá venerada tanto no candomblé quanto na umbanda, ambas religiões de origem africana. Ela é o nome que inspira a loja de joias criada pelo casal de empreendedoras de Fortaleza, Damillys Kelly Mendes e Luiza Martins: a Brilho da Oxum. Essa marca autoral oferece peças que resplandecem a essência da umbanda

Elas não têm dúvidas de que a orixá as rege. A jornada empreendedora delas teve início após visitarem o terreiro regido por Zé Pilintra. Em uma entrevista ao Eufêmea, Luiza compartilhou que o guia espiritual transmitiu uma mensagem inspiradora.

“Filhas, vendam isso aqui (apontando para nossas joias) com a nossa cara, vendam para o povo do axé”, disse o guia espiritual. Essa orientação instigou a busca por uma forma de incorporar essa temática única no universo da joalheria, culminando na criação da Brilho da Oxum.

O sonho

Alguns meses mais tarde, Damillys, uma das fundadoras, teve um sonho revelador durante uma viagem ao interior do Ceará. Nessa experiência, surgiu a visão do nome ‘Brilho da Oxum’, marcando o início da imagem e identidade que a marca carrega hoje.

“Desde então, a marca abraça suas raízes e incorpora a essência desse momento significativo, oferecendo peças com brilho, beleza e a energia especial de Oxum para todos os amantes de joias e da espiritualidade do axé”, afirmou Damillys.

Empreender não é fácil
Foto: Cortesia ao Eufêmea

No entanto, o início não foi tão fácil assim. As duas empreendedoras precisaram juntar uma parte dos salários provenientes de seus empregos alternativos naquela época e embarcaram com grandes expectativas até o Centro da cidade.

“No entanto, a realidade nos atingiu de forma frustrante e assustadora com nosso primeiro investimento. Com apenas R$300,00, saímos de um fornecedor com uma dívida dez vezes maior do que quando entramos”, relataram.

Apesar disso, o casal decidiu enfrentar o desafio e compreendeu que empreender sempre envolve riscos. “Aprendemos com a experiência e hoje estamos dispostas a assumir esses riscos, sabendo que eles são parte essencial do caminho para o sucesso de nossa jornada empreendedora”.

Olhares preconceituosos

O fato de carregarem o nome de Oxum na marca fez com que elas também enfrentassem olhares preconceituosos. Esse preconceito não se restringe apenas à religião, mas também por serem um casal de mulheres.

“Muitas pessoas não compreendem o verdadeiro significado por trás de Oxum e, por vezes, precisamos explicar com paciência a proposta da nossa marca. Ao final da explicação, frequentemente recebemos olhares reprovadores, cortes abruptos e até mesmo pessoas que viram o rosto, recusando-se a apreciar nossas joias, especialmente em encontros presenciais”, compartilhou Luiza.

No ambiente online, a situação não é diferente. “Também já enfrentamos discriminação, não apenas pelo nome, mas por sermos um casal de mulheres que faz questão de defender todas as bandeiras que nos acolhem. Muitas vezes, nosso trabalho é descreditado por causa da ideia que nossa marca carrega”, compartilhou Luiza.

Ela relatou que certa vez, uma pessoa respondeu a um anúncio, mas aparentemente não prestou atenção ao nome da marca. “Ao pedirmos para ele seguir nossa rede social, ele respondeu com um versículo bíblico e, em seguida, nos bloqueou”.

Mas apesar dos obstáculos, elas continuam firmes no propósito, defendendo a identidade delas.

A produção das joias da Brilho da Oxum ocorre de três diferentes formas:

  • Primeiramente, por meio do serviço de encomenda, onde são acolhidas com carinho as ideias criativas dos clientes, garantindo a execução impecável de suas joias afetivas;
  • Além disso, há as joias em demanda, que são produzidas com frequência e sempre repostas nas lojas e no site, atendendo às necessidades dos nossos clientes de forma ágil e eficiente;
  • Por fim, elas produzem os momentos especiais ao longo do ano em que são lançadas coleções únicas, seja em celebração da religião ou após um cuidadoso processo de estudo e criação de um novo projeto
Propósito

“Ao relembrarmos o início da Brilho, recordamos com carinho o lançamento da coleção “Ecoando Axé”, nossa primeira incursão no direcionamento para os orixás. Embora não tenha alcançado muito sucesso de imediato, com perseverança e participação em feiras ao longo de alguns meses, as joias encontraram seu lugar no coração dos nossos clientes e foram finalmente vendidas”, compartilhou Luiza.

Ao longo da trajetória, elas lançaram a coleção “Encruzilhada”, uma representação artística da junção dos quatro elementos em uma encruzilhada e sua conexão com as entidades da umbanda.

“Recentemente, lançamos a coleção “Meu Ori”, que traz os Orixás como figuras centrais, cada um vinculado a um conjunto de joias que narram suas histórias e características distintas. Essa coleção é um reflexo da nossa dedicação à arte da joalheria e reforça nosso compromisso em transmitir, por meio delas, as essências espirituais e a magia de nossa religião”, enfatizou Luiza.

Foto: Cortesia ao Eufemea
Campo limitado

A produção de joias no mundo da ourivesaria sempre foi um campo limitado para mulheres, apesar das mudanças positivas com a existência atual de cursos e capacitação.

“Esse cenário restrito impactou diretamente nossa maneira de produzir. Inicialmente, encontramos um rapaz que compartilhava nossa crença religiosa e aceitou nossas ideias com entusiasmo. Porém, à medida que nossa demanda aumentava, percebemos que ele começou a limitar nossa criatividade, o que nos motivou a buscar um caminho diferente”, relatou Luiza.

Depois de muita busca, um amigo querido, chamado Iury, indicou uma talentosa joalheira chamada Suyenne Lemos, que não apenas produzia joias, mas também ensinava a arte da ourivesaria.

“Damillys embarcou nas aulas ministradas por Suyenne e, graças a seu talento e dedicação, hoje somos capazes de produzir nossas próprias joias. Essa parceria nos permitiu expandir nossos horizontes criativos e superar as limitações impostas pelo mercado, fortalecendo nosso compromisso em seguir adiante com nossa marca Brilho da Oxum”, concluiu Luiza.

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Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.