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“Consideramos justa toda forma de amor?”

Eu comecei a pensar no texto para esse título há uns dias. Escrevi num “pulo” só. Senti, num primeiro momento, que estava diante de um tema inspirador (e estava, e estou), desses que têm por efeito justamente uma facilidade de se discorrer a respeito.

Num segundo momento, senti algo que não pude descrever. Fiquei reflexiva. O que havia parecido ter sido vencido, passou a se apresentar como pendência. Havia alguma coisa faltando. E, até ali, eu não sabia o que era.

Os dias se passaram. Eu voltei ao que tinha escrito. Lá, eu abria a reflexão falando sobre como começou o movimento que ficou marcado como o dia do orgulho LGBT+. Entre as linhas, fatos históricos, provocação sobre a ideia de que um dia só é pouco para falar sobre a temática, e uma tentativa frustrada de responder à interrogação que dá nome ao texto dessa quinzena.

Estranhamento, de novo.

Lembrei do meu irmão, Valmir. Ele, mais do que eu, sentiu e ainda sente, na pele, o que nenhuma palavra minha daria conta de dizer.

Então, fiz a ele o convite de trazer o que lhe viesse à alma.

Cá está, um recado para mim e para você. Não para esgotar – nem de longe. A pauta segue aberta…

Lavínia Lins (@minutodapsico)

“Não. Não é justo que se ajustem. Não é justo que se ajustem num espaço tão justo que chega a ser injusto“.

Por centenas de anos se esconderam. No ato de se esconderem do outro, foram se escondendo de si mesmos. Mas os tempos mudaram. O amor virou escassez. Pedra da mais preciosa, da mais valiosa. O jogo virou. Arrancaram a porta do armário e saíram colorindo mundo afora, fazendo da diversidade porta-voz da pluralidade afetiva que é comum ao ser humano desde o início de sua história.

Hoje, talvez no ápice do debate e do enaltecimento da população LGBTQIAP+, ainda falta muito do básico. De nada adiantam bandeiras coloridas na porta de comércios, comunicação publicitária de acolhimento, entre outras parafernalhas comerciais, se o olhar ainda acusa. Se o afeto público ainda é alvo. Se pra existir, melhor que seja discreto, calado, escondido.

De fato, estamos avançando. “Mas chegaremos lá quando todos puderem ser quem são sem ajustes e sem roteiro escrito por quem se sente ameaçado pela liberdade do outro”.

Valmir Lins
Ana Carolina Trindade e Lavínia Lins

Ana Carolina Trindade e Lavínia Lins

Ana Carolina Trindade é advogada, especialista em Direito e Família e Sucessões. Graduada e Mestre em Direito pela UFAL. Também é professora e Doutoranda. Lavínia Lins é psicóloga clínica, psicoterapeuta com base de trabalho na Psicanálise, escritora e palestrante.