Foto: Seris
Após 17 meses presa por um crime que não cometeu, Maiara Alves da Silva, de 30 anos, foi declarada inocente por unanimidade pelos 18 desembargadores do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL). Ela havia sido condenada a 24 anos de prisão por um crime de latrocínio ocorrido em Maceió, mas as provas apresentadas durante a revisão criminal confirmaram sua inocência. Agora, do pesadelo à liberdade, a alagoana luta contra o preconceito e o desemprego que ela ainda enfrenta.
Ao Eufêmea, a alagoana relata que a injustiça vivida por ela teve um impacto significativo em sua vida pessoal e familiar. É que durante o período em que esteve presa, ela perdeu a convivência com seus filhos e enfrentou a perda de sua mãe, que faleceu enquanto ela estava detida. A prisão de Maiara aconteceu em março de 2019.
Além disso, Maiara perdeu sua única fonte de renda. Assim que a decisão da revisão que a absolveu saiu, Maiara foi informada de que estava desempregada. Sua antiga empresa, temendo que sua presença como ex-presa manchasse a reputação do local, optou por dispensá-la. “A empresa não quis conciliar a imagem de uma ex-detenta com a loja”, conta.
A cabeleireira também não pode mais exercer sua atividade individualmente porque, durante a sua prisão, os materiais essenciais para o seu trabalho foram roubados de sua casa e ela nunca os recuperou.
Mãe de três filhos, atualmente, ela mora apenas com uma de suas filhas, pois está sem condições de sustentar os outros dois. De acordo com ela, o desemprego e a falta de recursos levaram à separação de seus filhos. “Mais uma vez tive que me separar dos meus outros dois filhos, porque estou sem condições de sustentá-los, conto apenas com a ajuda de alguns amigos”.
“Pior sensação do mundo”
Além de todas as perdas materiais, Maiara também enfrenta as sequelas emocionais. Sua mãe era a única pessoa que ela tinha como família e morreu antes da decisão do tribunal. “Foi a pior sensação do mundo, a pessoa que eu mais amava ir embora de forma repentina e sem ver a minha vitória”, expõe.
Ela relata que carrega a culpa por não ter conseguido proporcionar a ela esse momento de alegria e também acredita que sua mãe sofreu ao presenciar sua injusta prisão. “Eu sei que ela sabia da minha inocência e também sei que ela sofreu meu sofrimento. Infelizmente ela se foi! Foram perdas materiais, mas as sentimentais e psicológicas são maiores”.
Apesar de todas as dificuldades, Maiara mantém a esperança de reconstruir sua vida e superar os obstáculos que lhe foram impostos. Ela busca agora apoio e solidariedade para encontrar um novo emprego e adquirir os materiais necessários para voltar a exercer sua profissão de cabeleireira.
“Luto para que a minha história não caia no esquecimento”
Maiara também tem o sonho de retomar seus estudos no curso de Direito, com o objetivo de ajudar outras pessoas que enfrentam injustiças no sistema judicial.
Ela afirma que outros presos enfrentam situações semelhantes, mas sem recursos para contratar um advogado ou obter informações precisas sobre seus casos. “O Direito entrou na minha vida bem antes disso acontecer, porém por questões financeiras acabei trancando a matrícula, mas acredito que ainda farei a diferença por muitos”, expõe.
Relembre o caso
A alagoana foi apontada como participante do latrocínio que vitimou um taxista no bairro da Mangabeiras, em 2014. No momento do latrocínio, Maiara Alves estava a mais de 130 km de distância da capital alagoana, em Arapiraca, no Agreste de Alagoas, onde morava. Ela se preparava para ir ao velório do pai de um amigo.
Por quatro anos, o inquérito que investigava o latrocínio e o processo do caso não trouxeram nenhuma prova que apontasse Maiara Alves da Silva como participante do crime.
Uma das suspeitas do latrocínio afirmou, em seu primeiro depoimento que, além dela e de dois rapazes, uma amiga sua também estava no grupo. Em seu primeiro depoimento, ela deu apenas um prenome: Maiara. E o endereço onde mora: em um bairro de Maceió.
Ao longo das investigações, inexplicavelmente, apareceu o nome completo de Maiara Alves como sendo a mesma Maiara apontada pela comparsa do crime. A Polícia Civil não demonstrou como o nome completo dela apareceu nos autos do inquérito, já que não houve citação de dados completos por parte da comparsa presa nem de nenhuma outra pessoa.
Também não havia nos autos o reconhecimento fotográfico, ou imagens do momento do delito que pudessem reconhecê-la. Foi somente quando a alagoana já estava presa e condenada injustamente que o processo se desenrolou com novas provas e com a prisão da verdadeira Maiara, que confessou o crime e expôs que Maiara Alves estava presa por engano.