Foto (Renata Baracho): Ailton Cruz
No auge da Copa do Mundo Feminina, o curta-metragem “Impedimento”, dirigido pela cineasta alagoana Renata Baracho, chega às telas de Maceió neste sábado (29). O filme retrata mulheres apaixonadas pelo futebol sob diversas perspectivas e será exibido em uma sessão única antes de seguir para o circuito de festivais, com entrada gratuita.
Em entrevista ao Eufêmea, Renata compartilha suas expectativas para o lançamento, detalhando o processo de realização do documentário, que levou três anos para ser concluído, e explicando a escolha do título “Impedimento”.
Sessão no dia do jogo do Brasil
A produtora explica que a escolha da data para o pré-lançamento durante a Copa do Mundo Feminina foi intencional.
“Após três anos desde o início das filmagens, o filme estava caminhando para os ajustes finais quando surgiu a ideia de realizar a sessão de pré-lançamento durante a Copa. Como se trata de um filme que envolve muitas pessoas, a exibição em Maceió antes de seguir para os festivais sempre foi nossa intenção. Combinar esses dois eventos é uma maneira de celebrarmos juntos.”
Segundo Renata, a expectativa para a sessão de pré-lançamento é que seja um momento de celebração. “Primeiro, o dia começa com um jogo importante (Brasil x França), e eu espero que as mulheres conquistem mais uma vitória. Além disso, o filme está finalmente pronto após um longo processo, o que é motivo de grande alegria. Poder exibi-lo no Arte Pajuçara, que é a casa do cinema alagoano, durante um evento aberto e gratuito, é emocionante!”, celebra Renata.
Como surgiu o filme?
Ela revela como a ideia para o filme surgiu durante uma partida em 2018 no Trapichão, quando percebeu a possibilidade de transformar suas observações sobre as mudanças na presença feminina no futebol em uma obra cinematográfica.
“Naquele momento, fiz uma anotação no bloco de notas do celular com o título ‘Impedimento’ e a premissa desse documentário. E, quando surgiu a oportunidade de participar do edital do audiovisual em 2019, inscrevi o projeto”, conta.
Renata afirma que desde pequena vai ao estádio com a família e, ao longo dos anos, observou as mudanças em relação à presença das mulheres. “As mulheres estão presentes nas arquibancadas como torcedoras, ao redor do campo como profissionais do esporte e até mesmo dentro de campo como jogadoras (embora ainda estejamos distantes do cenário nacional e do que seria ideal em termos de presença e valorização)”, diz ela.
“Pensando agora, parece até natural que, como realizadora audiovisual, em algum momento esse tema tão cotidiano e significativo para mim se tornasse um filme”, comenta.
A escolha das personagens e do título do documentário

Em relação à escolha das personagens, Renata esclarece que sua intenção era proporcionar a sensação de ser levado cada vez mais para dentro do campo. “Então, achei interessante ter duas torcedoras (representando os maiores times de Alagoas, CSA e CRB), ao redor do campo teríamos as profissionais e um time de mulheres dentro das quatro linhas.”
A decisão de incluir Amanda Balbino aconteceu após conhecê-la de maneira aleatória durante sua pesquisa de referências para o filme. “No YouTube, encontrei um trailer de um documentário que aborda a temática das mulheres no futebol de várzea, e lá tinha um comentário da Amanda que me chamou a atenção.”
“Eu decidi procurá-la no Instagram e descobri que ela não só era de Maceió como também era torcedora do CSA e participava de uma torcida organizada antifascista, o que me pareceu muito interessante. Entrei em contato com ela e compartilhei minha ideia, e logo combinamos uma conversa. Pessoalmente, expliquei o projeto e ela aceitou de imediato”, lembra Renata.
Em relação a Fernanda Lins, torcedora do CRB, Renata a conheceu através de comentários “técnicos e sempre pertinentes” que ela fazia no Twitter durante os dias de jogo. “Então, quando tive a ideia do filme e pensei em uma torcedora do CRB, Fernanda veio logo à mente”.
Quanto a Charlene Araújo, Brígida Cirilo Ferreira e Pei Fon, a produtora explica que são figuras sempre presentes no Estádio Rei Pelé. “Eu diria que observá-las em ação até me inspirou a fazer o filme. A escolha do UDA [União Desportiva Alagoana] foi devido ao protagonismo que o time tem em Alagoas.”
Sobre a decisão do título “Impedimento”, a diretora diz que gosta dessa palavra por significar tantas coisas no Brasil.
“Remete a obstáculos – e as mulheres, em suas diversas realidades, conhecem bem o que isso representa. Além disso, é também uma das regras do futebol que, há muito tempo, é usada por homens para tentar colocar à prova a mulher que demonstra gostar de futebol, com a pergunta: ‘o que é impedimento?’. E o filme é uma resposta a essa atitude.”
“Só consigo me sentir grata por ter sobrevivido para contar essa história”

Em 2019, o filme conquistou o apoio financeiro do Edital do Audiovisual e obteve uma vitória significativa. No entanto, sua produção foi interrompida pela pandemia de Covid-19. “Eu diria que a pandemia foi o maior dos nossos desafios, não apenas para o filme em si, mas também devido à instabilidade que provocou. É realista afirmar que ninguém saiu desses anos pandêmicos sem sequelas, nem mesmo o próprio filme.”
“Impedimento foi um filme que enfrentou muitos desafios de produção (e aqui, vale um agradecimento especial à Renah Berindelli, diretora de produção, e Pedro Krull, assistente), devido ao grande número de personagens para um curta-metragem e por termos o Trapichão como nossa locação principal, onde todas as pessoas ali também se tornaram personagens do filme”, relata.
Renata explica que comunicar o que estava sendo produzido, obter autorizações e, ao mesmo tempo, se misturar junto à torcida sem distrair demais as pessoas do jogo em si, foi um grande desafio. “Apesar disso, a equipe sempre foi muito bem recebida em todas as torcidas, dentro e fora do estádio também.”
“Além disso, pensar em como conectaríamos essas realidades pré e pós pandemia, em termos de imagem e narrativa, também foi uma preocupação. Durante muito tempo, os jogos de futebol aconteceram sem a presença das torcidas, e isso foi histórico e marcante. No entanto, se filmássemos nesse cenário, teríamos um outro filme”, declara.
Por esse motivo, Renata decidiu esperar a situação ficar mais estável, mesmo sem saber quanto tempo isso poderia levar. “No final das contas, levamos três anos para finalizar o filme, o que normalmente é considerado muito tempo para um curta-metragem. Mas ao refletir sobre tudo o que vivenciamos nesses últimos anos, só consigo me sentir grata por, literalmente, ter sobrevivido para contar essa história”, finaliza.
Serviço:
PRÉ-LANÇAMENTO DO FILME “IMPEDIMENTO” Data: 29 de julho (sábado) Local: Cine Arte Pajuçara – Maceió
13h30 – ABERTURA DOS PORTÕES: Retirada do ingresso gratuito na bilheteria do Cine Arte Pajuçara. 14h – 1º TEMPO: Exibição do curta-metragem “IMPEDIMENTO”. 14h30 – 2º TEMPO: Conversa com a equipe e os personagens do filme.