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“Para de fazer de difícil”: Quantas de nós já fomos vítimas de um Prior?

Foto: Internet

“Em 2017, se não me engano, começou um movimento do Me Too, que bombou na internet. Eu comecei a entrar em contato com todos esses relatos, essas denúncias de mulheres, e consegui conversar com as minhas amigas sobre isso. Foi quando caiu a ficha que eu tinha sido estuprada”. Essa fala é de Themis*, mulher que foi estuprada pelo ex-BBB Felipe Prior, condenado a seis anos de reclusão pelo crime de estupro.

Essa reflexão é fundamental para iniciar o texto de hoje, pois traz à tona alguns pontos importantes: 1) Ela só compreendeu a gravidade do ocorrido ao ver outras denúncias; 2) A consciência de ter sido estuprada surgiu anos depois.

Ao ler esse trecho da entrevista de Themis, bem como as falas de Prior, como “para de fazer de difícil” e “eu sei que você quer”, questionei-me se também fui vítima de um agressor como Prior. Acredito que muitas mulheres tenham passado por situações semelhantes, sem compreenderem que se tratava de estupro.

Gostaria de abordar o caso de Themis e tantas outras mulheres que denunciaram Prior. É perceptível que uma mulher sozinha talvez não cause tanto impacto, mas mulheres unidas sempre fazem barulho.

Quando percebemos outras mulheres falando, sentimos encorajamento. Afinal, falar sempre foi algo proibido para nós, mulheres. Mesmo quando a dor nos invade, o silêncio parece ser o caminho “correto”, mas não é. Por mais difícil que seja, denunciar é sempre o melhor caminho, mesmo que, muitas vezes, seja um caminho injusto.

O segundo ponto que desejo ressaltar é o fato de que Themis só percebeu anos depois que havia sido estuprada. É triste constatar que não dávamos nomes às violências. É triste perceber que não sabíamos o que era estupro, pois pensávamos que se tratava apenas de ataques violentos nas ruas, forçando-nos a fazer algo.

Embora esses casos ocorram, na maioria das vezes, o agressor se apresenta como um “príncipe”. Ao analisar o caso de Themis, questiono minha própria sanidade ao lembrar de duas situações específicas que vivi. Hoje, aos 31 anos, me pergunto: será que também sofri estupro?

Essa consciência (e acredito que Themis também a tenha) só se desenvolveu quando começamos a nos aprofundar no mundo feminino, por assim dizer. Ao ler relatos, identificamo-nos com as histórias. Aprendemos os nomes das violências.

É doloroso pensar que também ouvi essas mesmas frases e acabei cedendo para não decepcionar a pessoa envolvida. Mas eu não queria, você entende? E somente agora tenho essa consciência.

Portanto, ressalto que qualquer ato que ocorra após o “não” é estupro. E reforço também: você pode até pensar que, sozinha, não faz barulho, mas eu garanto, assim como Themis, que nós gritamos. E gritamos bem alto.

É por isso que nosso trabalho como jornalista é tão importante. Damos voz às mulheres silenciadas pelo medo. E quando essas denúncias são divulgadas, outras mulheres aparecem. Sabe por quê? Porque um agressor nunca faz apenas uma vítima. É um padrão que ele segue.

Infelizmente, acredito que muitas de nós já tenhamos sido vítimas de agressores semelhantes ao Felipe Prior.

Em nota, os advogados de Prior disseram: “A defesa de Felipe Antoniazzi Prior reitera a inocência de Felipe e que a sentença prolatada pela 7ª Vara Criminal de São Paulo será objeto de recurso de apelação ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo”.

Estou no Instagram: @raissa.franca

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.