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“Amor que transcende o físico”: mulheres relatam como lidam com a saudade e a dor após a perda dos pais

Foto principal: Cris e o pai

Saudade. Para as mulheres que perderam seus pais, cada lembrança se transforma em um tesouro precioso. Os sorrisos compartilhados, os momentos vividos, os conselhos sábios e os gestos de carinho agora encontram morada em suas memórias.

O Eufêmea conversou com mulheres que perderam seus pais e que, mesmo com a ausência, encontram conforto nas lembranças que ficaram.

Primeiro dia dos pais sem o pai
Foto: Arquivo Pessoal

A publicitária e mentora de negócios femininos, Cris Oliveira, de 37 anos, perdeu o pai recentemente. Esse é o primeiro dia dos pais sem Rildo Oliveira, de 66 anos. 

“Será o primeiro dia dos pais sem ele e ele tendo falecido tão próximo à data, a dor da saudade é ainda mais intensa”, disse.

Cris contou que apesar disso, sente que deve cultivar mais as memórias construídas. “Por mais que sinta que ele se foi cedo demais, sei que sua missão foi cumprida e muito bem”.

Ela compartilhou que, após o falecimento de seu pai, pretende honrar o aprendizado e o legado que ele deixou. “Todos os meus princípios éticos e morais foram moldados por ele, algo que carrego com orgulho. Sua resolução em transformar objetivos em realidade e sua dedicação à família foram valores que absorvi”, revelou Cris. 

Ela também mencionou que seu pai desafiou os padrões de sua época, sendo um pai atencioso em uma época em que tal papel era menos comum entre os homens. 

“Ele brincou, cuidou, ensinou, segurou minha mão, sonhou comigo e me apoiou. Essas experiências são inestimáveis, pois estão gravadas em minha vida. Além disso, testemunhar minha filha desfrutar das mesmas oportunidades que tive (ainda mais aprimoradas, é claro, dado que os tempos são diferentes) me permite reviver, de certa forma, toda a minha jornada. A saudade e o vazio sempre permanecerão presentes, mas o passar do tempo suaviza a tristeza e preenche nosso coração com as memórias mais impactantes”, enfatiza.

Silêncio e saudade
Foto: Arquivo Pessoal

Edson Miranda, aos 56 anos, faleceu em 2010, quando Larissa Miranda tinha 25 anos. Hoje, com 37 anos, a dor da perda ainda é uma presença constante. Segundo ela, a família não conseguiu lidar de maneira saudável com a partida dele.

“Minha família ainda sente profundamente a ausência do meu pai. Isso acabou gerando um certo ‘silêncio’ entre nós por um longo período. A mãe do meu pai, que ainda está viva aos 98 anos, também não consegue lidar bem com a situação. Meu tio, que também era padrinho do meu pai e seu melhor amigo, enfrenta dificuldades semelhantes”, compartilhou.

O silêncio sobre o falecimento de Edson se faz presente, mas algumas lembranças pontuais acontecem e são sempre regadas a muita emoção. No entanto, a chegada do padrasto de Larissa trouxe mais leveza para a data.

“Por outro lado, há cerca de 5 anos, entrou em nossas vidas o meu padrasto, alguém que nunca exigiu nada, que respeita as memórias e este dia especial, tornando tudo leve, sem pressões e sem ausências. No início, isso gerou confusão, mas hoje ele consegue transformar esse dia em apenas mais um dia, como deve ser, um dia para celebrar a união da família”, ressaltou.

Larissa também compartilhou seu desconforto em relação à celebração dessas datas, e explicou os motivos por trás disso. “Seja porque muitas pessoas, como eu, perderam seus pais, ou porque a configuração da família tradicional brasileira evoluiu, ou até mesmo devido à presença inconsistente de pais. Comemorar tais ocasiões está se tornando cada vez mais ‘fora de moda’. Minha escolha de não celebrar essa data foi uma forma de estabelecer uma nova tradição, transformando-a apenas em mais um dia. Um dia no qual podemos celebrar ou não, estando cercados por entes queridos, apreciando tanto a vitalidade deles quanto as memórias agradáveis e leves, ou até mesmo desfrutando de nossa própria companhia”.

Amor transcende o físico
Foto: Arquivo Pessoal

“Sempre foi uma relação de amizade, meu pai me ensinou que a relação entre pai e filha tem que ser de respeito, não de medo”. Essa fala é de Caline Passos, 29 anos, que perdeu o pai quando ele tinha 51 anos. 

Ela compartilhou que o primeiro ano sem seu pai se traduziu em dois sentimentos predominantes: dor e saudade. “A aproximação do Dia dos Pais ecoava em meus ouvidos a ausência dele. Com o passar do tempo, a dor cedeu lugar à gratidão. Aprendi a agradecer a Deus por me conceder a oportunidade de vivenciar uma relação com meu pai que, apesar de breve, foi profundamente intensa e autêntica”.

Ela expressou que gradualmente compreendeu como o amor transcende o físico.

“Inicialmente, focamos intensamente na ausência visual, na impossibilidade de tocá-lo ou de receber um abraço. No entanto, ao longo desses sete anos, nunca passou um único dia sem que ele estivesse presente em minha vida, não apenas no Dia dos Pais. Ele permanece através de memórias, tradições, lições e até mesmo na simples sensação de saudade.”

Oração e boas lembranças
Foto: Arquivo Pessoal

A Supervisora de Merchandising, Paula Pimentel, 38 anos, ‘celebra’ o dia dos pais com “muita oração e lembranças boas sempre em mente”. Ela perdeu o pai Paulo Pimentel, 84 anos, em 2021. 

Ela compartilhou com a reportagem que “ainda está lidando intensamente com o sofrimento da perda e, por essa razão, busca se distrair”.

Paula contou que não celebra mais o dia dos pais, mas que a maior celebração acontece dentro de si: “A celebração em memória dele, sempre estará viva em mim, pois quase tudo que me rodeia, tem um pouco dele”.

Ela também compartilhou que sua relação com o pai era pautada pela presença e apoio mútuo. “Quando precisávamos de algo ou quando algo não saía como planejado, ele costumava dizer: ‘Mai rapaz!!!’, e imediatamente se prontificava a oferecer ajuda.”

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.