Ontem (2), a talentosa alagoana Marta despediu-se das competições mundiais após o confronto do Brasil contra a Jamaica, que resultou em um empate de 0 a 0 na fase de grupos da Copa Feminina. Vestindo a amarelinha por 20 anos, Marta participou de 189 jogos e marcou 122 gols, deixando um legado para as futuras gerações.
Em uma entrevista concedida ao término da partida, a atleta destacou que a performance do Brasil ficou distante das expectativas iniciais, porém ressaltou que as jogadoras da seleção possuem uma jornada promissora pela frente.
“É difícil falar num momento desses. Não era, nem nos meus piores pesadelos, a Copa que eu sonhava. É só o começo. O povo pedia renovação, e está tendo. A única velha aqui sou eu. Eu termino, mas elas continuam”, afirmou.
Mesmo com a despedida, Marta reforçou que o apoio à seleção precisa ser mantido. “Resultado não acontece de um dia para o outro. Isso mostra que o futebol feminino dá lucro, é produto. A Marta acaba por aqui, estou muito grata pela oportunidade que tive e estou muito contente com o que está acontecendo. Para elas é só o começo, para mim é o fim da linha”, avisou
Com a jogadora se despedindo das competições mundiais, embora não dos campos, o Eufêmea traz à memória os momentos marcantes e os títulos conquistados pela atleta alagoana, natural de Dois Riachos, uma cidade do interior de Alagoas.
Conquistas e medalhas na seleção canarinha
A maior jogadora de todos os tempos e ícone da camisa 10 da seleção brasileira se despede do cenário do principal torneio mundial como a maior artilheira em todos os tempos, considerando tanto atletas masculinos quanto femininos. No decorrer das várias edições, Marta acumulou impressionantes 17 gols.
Vale destacar que a Copa de 2023 foi a única na qual não teve oportunidade de balançar as redes. Caso tivesse concretizado um gol, teria estabelecido um marco ao se tornar a primeira jogadora a realizar tal feito em seis edições consecutivas.
Além disso, ao serviço da seleção, a jogadora colecionou conquistas notáveis, assegurando a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2003 e 2007, e sagrando-se campeã da Copa América em 2003, 2010 e 2018. Adicionalmente, Marta desempenhou papel vital no time que alcançou o vice-campeonato na Copa em 2007 e conquistou medalhas de prata nas edições das Olimpíadas de 2004 e 2008.
Entre 2006 e 2010, a alagoana conquistou o título de melhor jogadora do mundo consecutivamente. Em 2018, mais uma vez, ela recebeu o mesmo prêmio.
Luta por equidade
Na Copa do Mundo da França, em 2019, Marta se recusou a renovar o contrato de patrocínio com a Puma, além de rejeitar outras propostas por não achar justo o valor que lhe foi oferecido, em relação aos atletas masculinos.
Inclusive, em uma das partidas, a jogada chegou a usar uma chuteira do movimento “Go Equal”, que busca a igualdade de salário entre homens e mulheres.
Calçada da fama no Maracanã
A jogadora deixou sua marca na calçada da fama do Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro. Ela foi e é, até hoje, a única mulher a realizar a cerimônia no local que carrega memórias de grandes jogadores do futebol nacional, como Pelé, Garrincha e Zico.
A homenagem foi recebida após Marta receber o sexto título de melhor jogadora do mundo. O registro fica em um espaço com o nome de “Rainha Marta”.
Nomeação na ONU
Em 2018, Marta foi nomeada Embaixadora da Boa Vontade para mulheres e meninas no esporte, pela Organização das Nações Unidas (ONU). A jogadora é considerada como exemplo de superação no esporte desde a infância, inspiração para jovens atletas e símbolo da luta pela igualdade de gênero.
Após receber o título, a alagoana passou a se dedicar e apoiar ainda mais o trabalho das mulheres no esporte pelo mundo, se tornando referência não só no futebol, como em diversas áreas.
Homenageada no Carnaval do RJ
Em 2020, a escola de Samba Inocentes de Belford Roxo homenageou a jogadora devido a “sua jornada de empoderamento e superação das barreiras de gênero”. O título do enredo foi “Marta do Brasil – Chorar no começo para sorrir no fim”, de autoria do carnavalesco Jorge Caribé.
Na época, a escola disputava a Série A (equivalente à segunda divisão) do Carnaval do Rio de Janeiro.
Outros títulos
Em 2001, com o Vasco da Gama, Marta conquistou seu primeiro título em um clube, o Campeonato Brasileiro Sub-19. Pelo Umea IK, da Suécia, venceu a Liga dos Campeões da UEFA (2003/2004), o Campeonato Sueco (2005, 2006, 2007 e 2008), a Copa da Suécia (2007) e a Super Copa da Suécia (2003/2004).
De volta ao Brasil, em 2009, ela venceu a Copa Libertadores da América e a Copa do Brasil.
Já nos Estados Unidos, a jogadora conquistou a Liga de futebol feminino do país, pelo FC Gold Pride, em 2010. No ano seguinte, venceu novamente o campeonato, mas pelo Western New York Flash.
Na Suécia, pelo time Tyreso FF, Marta venceu o campeonato Damallsvenskan e a Super Copa da Suécia, ambos em 2012. E pelo C Rosengard, garantiu mais uma vez o Damallsvenskan, em 2014 e 2015, a Super Copa da Suécia, em 2014, 2015, 2016 e a Copa da Suécia, também em 2016.
Em 2017, Marta retorna aos Estados Unidos e se torna jogadora do Orlando Pride.
Outras homenagens
Em 2015, Marta recebeu uma homenagem especial do Museu do Futebol, situado em São Paulo, por meio do projeto “Visibilidade para o Futebol Feminino”. Sua presença já era parte do acervo do museu desde sua inauguração em 2008, sendo reconhecida na Sala das Copas do Mundo.
Adicionalmente, na seção “Números e Curiosidades”, a atleta conquistou um marco significativo ao se tornar a primeira jogadora, juntamente com Formiga, a integrar a prestigiada Sala Anjos Barrocos. Essa inclusão, outrora reservada apenas a jogadores masculinos, amplia ainda mais o seu impacto e a importância do futebol feminino.
Em dezembro de 2016, Marta foi eleita uma das 100 mulheres mais influentes do mundo pela BBC. Em 2018, foi homenageada pelo GloboEsporte no Prêmio Craque do Brasileirão e pela ESPN com o Troféu Bola de Ouro.