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Mãe solo é impedida de entrar com filho em festa de Dia dos Pais em colégio de Caruaru: “Me senti excluída por ser mulher”

“Eu e meu filho fomos ridicularizados, humilhados e constrangidos na frente da escola. Todo mundo viu a humilhação! Eu tive que sair com ele daquele local para tentar minimizar os danos e traumas”. O relato é de Alynne Siqueira, uma cirurgiã orofacial e mãe solo.

Ela passou por um momento de constrangimento e indignação ao ser proibida de participar da festa do Dia dos Pais na escola do seu filho, localizada no Colégio Diocesano, em Caruaru, Pernambuco.

Ao Eufêmea, a mãe aborda que o incidente ocorreu durante a celebração festiva, quando Alynne e seu filho, de oito anos, chegaram à escola para comemorar o evento.

Foto: Cortesia

No entanto, antes mesmo de passar pelas catracas, foram abordados por funcionários da escola, que questionaram a presença do pai da criança. Surpreendida com a abordagem, Alynne perguntou o motivo, pensando inicialmente que fosse uma brincadeira.

“Eu não entendi o porquê da indagação, e aí ele disse que na festa só poderiam entrar homens, que eu arrumasse um avô ou um tio para o meu filho poder participar da festa”, disse a mãe.

“Humilhação e constrangimento”

Alynne explicou que ela é a mãe e pai da criança, já que seu filho mora apenas com ela e não há nenhuma figura masculina para representá-lo. Mesmo com a explicação, ela foi impedida de entrar, o que gerou “humilhação e constrangimento em frente a outros pais e mães presentes”.

“O sentimento que eu tive foi de indignação. Eu fiquei consternada com a situação porque foi a primeira vez que aconteceu esse tipo de coisa. Eu sempre participei de festinhas na escola do meu filho. Inclusive, na hora de ser responsável financeira, ninguém pediu a presença do pai”, desabafou Alynne.

Ela relatou que se sentiu completamente excluída da situação devido ao seu papel como mãe solo, algo que nunca havia enfrentado anteriormente em outras escolas em que seu filho frequentou. “Eu saí de lá com meu filho, que ficou chorando, ao vê-lo chorando, eu chorei também, porque nenhuma mãe gosta de ver uma criança naquela situação.”

“Vivemos em uma sociedade em pleno século 21 em que a mulher não pode desempenhar o papel de pai sem ser vítima de preconceito. Já não basta os traumas, a ausência física, a ausência de amor e de carinho. Eu tento amenizar esse sofrimento”, continuou.

Ao tentar resolver a situação, Alynne e seu filho aguardaram por mais de 20 minutos até que a coordenadora da turma do menino aparecesse. No entanto, já abalados emocionalmente, decidiram não entrar mais na festa, já que o clima havia sido prejudicado.

“Extrema vulnerabilidade”

“Eu e meu filho ficamos em uma situação de extrema vulnerabilidade, porque ficamos à mercê da escola e das pessoas que ali estavam, que presenciaram toda a situação vexatória e que nos deixou totalmente sem chão”.

Alynne ressaltou que sua situação como mãe solo não é incomum e que ela é a única referência paterna na vida do seu filho desde que ele tinha um ano e meio de idade. O episódio a deixou ainda mais incomodada, pois teve que justificar a ausência de um pai na vida do seu filho, algo que para ela é inadmissível. “A sensação que eu tive foi de desrespeito e preconceito. Me senti totalmente excluída da situação por ser mulher e por ser mãe solo”.

Em nota enviada ao Eufêmea, o colégio Diocesano de Caruaru informa que “em nenhum momento houve proibição, inclusive muitas mães acompanharam o momento para registrar as atividades entre pais e filhos no interior da escola”.

Confira a nota na íntegra:

O Colégio Diocesano de Caruaru, ao longo de sua trajetória quase centenária, sempre pautou suas ações no respeito às famílias.

A comemoração do Dia dos Pais, conforme comunicado enviado para as famílias, foi uma oportunidade de interação entre filhos e pais ou pessoas que representem a figura paterna para seus filhos, por isso, tivemos a participação de muitos avós, tios, padrastos, padrinhos e outros parentes, bem como algumas mães.

Na entrada do Colégio, as mães que foram apenas acompanhar seus filhos e não participar representando a figura do pai receberam a orientação para ficarem na recepção aguardando enquanto o filho entraria no Colégio acompanhado do pai ou representante para as atividades preparadas para tarde recreativa. Em nenhum momento houve proibição, inclusive muitas mães acompanharam o momento para registrar as atividades entre pais e filhos no interior da escola.

Sobre o caso que circula nas redes sociais, a mãe não foi proibida de entrar na escola, inclusive os vídeos que ela gravou foram feitos na parte interna do Colégio. O que ocorreu foi um mal-entendido por parte da mãe pela indicação prévia dada pelo funcionário da escola para que as mães que estavam apenas como acompanhante da família aguardassem na recepção, fato este que foi sanado pelo diretor pedagógico do Colégio presente no momento.

Os familiares que chegaram após o horário marcado também ficavam aguardando na recepção para que as equipes pudessem direcionar para as atividades já iniciadas, de forma que todos pudessem contemplar os momentos de interação, sempre primando pelo melhor conforto para as famílias.

Repudiamos qualquer forma de discriminação e entendemos que as famílias são plurais e, portanto, devem ser respeitadas em suas diferentes configurações.

Nossa missão de educar com excelência a pessoa humana, à luz dos valores cristãos, é implementada por uma pedagogia que atende as exigências de uma sociedade em transformação.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas. Colaboradora do portal Eufêmea.