Foto principal: Mayara/Cortesia
Conciliar a amamentação com a carreira pode se apresentar como um desafio marcante para diversas mães. Encontrar o equilíbrio entre as obrigações profissionais e as necessidades do bebê demanda uma elaboração de planos e um suporte adequado. O Eufêmea conversou com mães que retornaram ao trabalho e continuam amamentando.
Antes de tudo, você conhece a Lei Nº 11.770, de 2008?
A lei foi criada para promover a amamentação exclusiva até os seis meses de idade e para proteger a saúde das mães lactantes. A lei prevê que as mães que trabalham tenham direito a dois intervalos de meia hora cada dia para amamentar seus filhos, até que eles completem seis meses de idade. Esses intervalos podem ser tomados juntos ou em momentos diferentes, conforme a necessidade da mãe.
A lei também prevê que as empresas devem fornecer um local apropriado para as mães amamentarem seus filhos. Esse local deve ser limpo, ventilado e com temperatura agradável. A empresa também deve fornecer um refrigerador para que as mães possam armazenar o leite materno.
“É preciso um trabalho em equipe”
Thamires Costa Teixeira König Simões, dentista alagoana de 31 anos, compartilhou sua experiência como mãe do pequeno Guilherme Costa König Simões, com 1 ano e 9 meses. Ela enfatizou que a volta ao trabalho e a continuação da amamentação demandam um esforço conjunto, ressaltando a importância de um trabalho em equipe.
“O pai, avós ou alguma pessoa de confiança precisa dar suporte nesse momento. Eu tenho apoio do meu esposo em casa, o que faz toda a diferença, e no trabalho tenho uma equipe que também me ajuda”, contou.
No entanto, ela reconhece que a jornada ainda é desafiadora. “Embora meu desejo seja priorizar a saúde do meu filho e estar presente nos momentos cruciais para ele, não posso ignorar o cansaço que acompanha. Amamentar é uma tarefa ininterrupta, sem intervalos programados… envolve mais do que apenas o ato de amamentar, incluindo noites sem sono e inúmeras concessões que faço para estar lá. No entanto, com uma rede de apoio e compreensão, encontrei um ponto de equilíbrio”.
No ambiente profissional, Thamires compartilhou que recebeu um apoio notável ao retornar após a licença-maternidade. “Meu ambiente de trabalho é super acolhedor, em sua maioria composto por mulheres que também são mães, então elas já sabiam das dificuldades que eu iria enfrentar. Quando eu retornei ao consultório o meu filho ainda tinha 4 meses e eu amamentava exclusivamente em livre demanda”.
A dentista afirmou que naquele momento não estava preparada emocionalmente para deixar Guilherme em casa, então optou por levá-lo ao trabalho.
Ela disse que “criou um desafio extra” como profissional e mulher, mas que recebeu apoio e carinho. “Eu tinha que contar com a compreensão dos meus pacientes e da equipe que trabalhava comigo, mas me surpreendi como as pessoas foram acolhedoras e carinhosas”.
“Culpa materna”
Thamires destacou que a culpa materna é algo real e que muitas vezes ela é injusta consigo mesma e se julga por sair e deixar o filho em casa. “Continuar amamentando no meio de todo esse processo é um desafio adicional, mas são dificuldades que nós mães vivemos diariamente. E muitas vezes nos vemos em uma posição de escolha, entre amamentar ou trabalhar, e isso é tão difícil, tão injusto”.
Viagens e amamentação
Mayara Melo, de 38 anos e gerente regional de marketing da Allos, a maior empresa de shopping centers da América Latina, compartilha sua jornada como mãe da pequena Maria Luiza, de 1 ano e 3 meses. Enfrentando uma rotina intensa devido ao seu cargo, Mayara alcançou uma promoção enquanto estava a 8 meses e meio de gravidez.
Ela assumiu a responsabilidade por um portfólio abrangente, abrangendo 12 shoppings distribuídos por 6 estados distintos, incluindo Amazonas, Pará, Bahia e São Paulo. Esta posição exigiu que ela viajasse para diversas localidades, ampliando ainda mais o desafio de conciliar a maternidade com suas responsabilidades profissionais.
“Ao regressar da licença-maternidade, quando minha filha tinha 4 meses, eu negociei com meu superior a possibilidade de adiar minhas viagens até que ela completasse 6 meses, para garantir a continuidade da amamentação exclusiva. A compreensão dele nesse aspecto foi de suma importância”, compartilhou Mayara.
Mayara contou que começou a se preparar para a volta ao trabalho quando a filha tinha dois meses. Para isso, ela estudou sobre o tema e foi planejando como seria.
“Por exemplo, quanto tempo o leite precisava ficar congelado? Quantas vezes daria tempo para amamentar? Com 3 meses, decidi começar a introduzir a mamadeira com meu leite como teste. Comecei a extrair e armazenar o leite, e investi em alguns equipamentos para facilitar essa nova rotina, como uma bomba elétrica extratora de leite de qualidade, sacos de congelamento, sacola térmica, gelo e potes de vidro para transporte. Estabelecer essa rotina foi essencial”, compartilhou Mayara.
O processo foi bem cansativo, segundo ela, mas valeu a pena. “Eu tirava leite duas vezes em casa e mais duas vezes no trabalho, garantindo ainda tempo para retornar para casa para almoçar todos os dias. Foi cansativo, mas valeu a pena”.
Quando as viagens começaram, Mayara tirava leite em horários semelhantes ao que ela amamentaria para continuar produzindo leite e também para não empedrar.
“Tirei leite no banheiro em pelo menos 10 aeroportos diferentes, Brasília, Manaus, porque eu precisava esvaziar a mama”. E ela disse que isso vem dando certo, apesar de ser cansativo.
Ela compartilhou que encara a amamentação como um ato importante e natural, embora ainda se depare com questionamentos como “até quando você pretende continuar?”, “ela já não está crescida?”.
“A verdade é que minha meta inicial era chegar aos 6 meses com amamentação exclusiva, depois estendi para 1 ano e agora me sinto em um ‘lucro’. Hoje, optei por não ter uma meta fixa; enquanto for benéfico para mim e para ela, continuarei nesse percurso. Estou aproveitando cada instante desse momento único, que é só nosso, e que proporciona doses extras de saúde e bem-estar para minha filha”, conclui.