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“Prevenção de abusos e gravidez precoce”: especialistas analisam a inclusão do programa de educação sexual nas escolas

(Getty/Reprodução)

O debate sobre a inclusão da educação sexual no currículo escolar ganha nova relevância com a retomada de um programa voltado para fornecer informações essenciais e promover a saúde entre os estudantes. Essa iniciativa é parte do Programa Saúde na Escola, uma colaboração entre os Ministérios da Saúde e Educação.

O debate sobre a inclusão da educação sexual no currículo escolar ganha renovada relevância com a retomada de um programa voltado para fornecer informações essenciais e promover a saúde entre os estudantes. Essa iniciativa é parte do Programa Saúde na Escola, uma colaboração entre os Ministérios da Saúde e Educação.

De acordo com as informações, o projeto tem como objetivo abordar tópicos na grade curricular como prevenção de violência e acidentes, promoção da cultura de paz e direitos humanos, saúde sexual e reprodutiva, além de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

Ao Eufêmea, a professora Fernanda Borba, expressa otimismo quanto ao ressurgimento da educação sexual nas escolas. Ela enfatiza que o programa está reconquistando a centralidade que merece no ambiente educacional, após ter sido marginalizado durante a administração anterior.

“É fundamental implementar ações educativas de prevenção e promoção da saúde para estudantes da rede pública, visto que frequentemente a escola é a única rede de apoio e proteção para esses alunos.”

“Orientação, saúde e proteção”
Foto: Cortesia ao Eufêmea

Ela destaca a importância de abordar assuntos como violência sexual, prevenção de ISTs e gravidez precoce de maneira acessível e adequada à idade dos estudantes. “A escola deve participar ativamente, já que é um espaço onde os estudantes passam a maior parte do dia e se sentem seguros e acolhidos”, destaca.

Uma das preocupações frequentes em relação à educação sexual nas escolas é a resistência por parte de alguns pais ou responsáveis. Fernanda Borba ressalta a importância de estabelecer um diálogo aberto com as famílias, explicando que o programa é respaldado por leis como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e é adotado em diversos países ao redor do mundo.

“Educação sexual não é sobre sexo em si, muito menos uma promoção de atividade sexual precoce. É um instrumento para adquirir conhecimento sobre o próprio corpo, promover orientação, saúde e proteção”, enfatiza.

Para Borba, a retomada do programa de educação sexual traz consigo uma série de expectativas positivas. Ela espera que essas ações proporcionem aos estudantes um senso de segurança e informações precisas.

“O fortalecimento de um programa que possa quebrar tabus e preconceitos com relação a educação sexual, que visa proteger os estudantes de violência sexual, de diferenciar carinho de abuso, de ter voz e coragem para denunciar e de como cuidar do seu corpo de maneira saudável e responsável.”

“Falar de educação sexual é proteger nossas crianças, adolescentes e jovens e proporcionar saúde física e mental”, continua.

Prevenção de abusos
Foto: Cortesia ao Eufêmea

Laylla Brandão, Psicóloga, Educadora e Terapeuta Sexual, ressalta a importância dessa abordagem e defende sua implementação abrangente nas instituições educacionais.

Para Laylla Brandão, educação sexual é muito mais do que apenas informar sobre anatomia e reprodução. “É um meio crucial para empoderar crianças e jovens com conhecimentos precisos e uma compreensão saudável sobre seus próprios corpos, relacionamentos e sexualidade”.

“Ensinar educação sexual às crianças é fundamental para fornecer informações precisas e adequadas sobre o corpo, relacionamentos e sexualidade, ajudando a evitar mitos e tabus que podem levar a concepções errôneas sustentadas por nossa cultura”, destaca Brandão.

A especialista avalia que um dos principais pilares da educação sexual é seu papel na prevenção de abusos e exploração. Ao capacitá-los a reconhecer comportamentos inadequados e buscar ajuda, a educação sexual contribui para a construção de relações saudáveis e o desenvolvimento de respeito próprio e pelos outros.

Além disso, Laylla Brandão enfatiza que a educação sexual é essencial para preparar crianças para as transformações físicas e emocionais da puberdade. Ao reduzir a ansiedade e o medo associados a essas mudanças naturais, a educação sexual pode auxiliar na construção de uma adolescência mais saudável e tranquila.

“Quando ensinada de maneira apropriada, respeitando a idade e a maturidade emocional, a educação sexual pode ser uma ferramenta valiosa para promover relações saudáveis, o consentimento mútuo e a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada”, ressalta Brandão.

Ela também destaca que a escola desempenha um papel crucial nesse processo: “A escola é o maior campo de aprendizado da criança, onde as primeiras experiências de sociabilidade e informações seguras para a vida se iniciam.”

“Sexualidade não é sexo”

A resistência de alguns pais ou grupos à educação sexual pode ser um desafio, mas Brandão tem uma visão clara sobre como superar esse obstáculo.

Ela sugere começar a educação sexual pelos pais, reconhecendo que as crenças arraigadas na cultura familiar e religiosa podem influenciar suas opiniões. “É um processo gradual e que precisa de um planejamento estratégico para que a informação seja passada cuidadosamente e com fontes e profissionais capacitados para isso”, afirma Brandão.

Quanto à idade adequada para iniciar o ensino de educação sexual, Laylla Brandão acredita que as crianças devem ser os guias deste processo. “As crianças dirão!”, diz ela.

“Sexualidade não é sexo! Sexualidade é a vivência social, é o auto olhar, é como nos vemos e como nos colocamos no mundo. Falar de sexualidade é falar da própria expressão no meio social. Ela é contínua e cheia de fases que se encaixa a cada idade e conforme seus alcances.”

Questionada sobre como os professores podem ser preparados para fornecer uma educação sexual eficaz ela discorre que “existe um universo de educadores dentro da sexualidade”. Ela menciona a Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana (SBRASH) como uma fonte valiosa de políticas públicas e diretrizes nesse campo.

“É necessário um plano de preparação dos professores e sem dúvidas a presença de um Psicólogo preparado e especializado em sexualidade para auxiliar essa construção escolar a partir da Docência.”

Por fim, a especialista lista os principais benefícios da implementação abrangente da educação sexual nas escolas:

  • Redução de casos de gravidez precoce;
  • Repasse de informações científicas e condizentes a cada fases das nossas crianças e jovens;
  • Fortalecimento de autoestima e construção segura das fases infanto-juvenil;
  • Abertura para prevenção de abusos emocionais;
  • Psicológicos e sexuais;
  • Disseminação da diversidade social e de gênero, atuando em cima do respeito e coletividade;
  • Desenvolvimento de relações saudáveis;
  • Promoção de saúde sexual reprodutiva.
Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas. Colaboradora do portal Eufêmea.