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Adiar a maternidade: mulheres compartilham suas experiências com o congelamento de óvulos e o controle da fertilidade

Foto: Reprodução/Internet

Com as mudanças sociais e culturais, um número crescente de mulheres está optando por adiar a maternidade e ter o controle sobre o momento mais adequado para iniciar uma família. Nesse contexto, o congelamento de óvulos surge como uma das principais alternativas para tomar decisões conscientes e bem-informadas sobre a fertilidade.

No Brasil, o congelamento de óvulos tem experimentado uma crescente popularidade, com um aumento de mais de 200% ao longo da última década. A Dra. Micaele Muruci, médica ginecologista e obstetra especializada em reprodução assistida e infertilidade conjugal, compartilha ao Eufêmea informações sobre as razões que podem explicar esse crescimento significativo.

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De acordo com a Dra. Micaele, uma série de fatores tem contribuído para esse aumento:

  • Mudanças Sociais e Culturais: muitas mulheres estão optando por adiar a gravidez para se concentrarem em suas carreiras, educação e outros aspectos de suas vidas.
  • Empoderamento Feminino: com a crescente igualdade de gênero e a luta por direitos reprodutivos, as mulheres estão se sentindo mais empoderadas para tomar decisões sobre sua própria fertilidade.
  • Conscientização e Educação: a divulgação de informações sobre o congelamento de óvulos e seus benefícios tem se ampliado nos últimos anos.

“É importante ressaltar que esses são apenas alguns dos possíveis motivos para o aumento do congelamento de óvulos no Brasil. A decisão de congelar óvulos é pessoal e pode variar de acordo com as circunstâncias individuais de cada mulher”, destaca a especialista.

De acordo com a médica, a preservação da fertilidade é crucial, especialmente por volta dos 35 anos. Micaele enfatiza que o procedimento é rápido, durando em média 15 dias, e pode ser uma escolha sábia para quem deseja manter as portas abertas para a maternidade no futuro.

“Tenho outros planos agora”

É o caso de Marina que aos 35 anos tomou a decisão de que o congelamento de óvulos era a opção certa para ela, permitindo ganhar mais tempo antes de se tornar mãe.

“Eu realmente gosto de viajar, tenho outros planos agora. Então, já que a ciência está ao nosso favor, resolvi utilizar o congelamento de óvulos para poder adiar um pouco a decisão de ter filhos”.

O processo de congelamento de óvulos envolveu consulta médica inicial para avaliar sua aptidão, seguida por duas etapas de procedimentos, uma para a doação e outra para a preservação dos óvulos. “Tomei algumas medicações que eu mesma aplicava depois eu voltava lá para verificar se estava ovulando, a cada dois dias eu ia na clínica”, descreve a administradora.

No aspecto financeiro, Marina encontrou alívio, pois optou pelo processo de doação que lhe proporcionou um desconto significativo. Segundo ela, o procedimento foi “bastante acessível”.

A jornada de Marina também envolveu desafios emocionais, especialmente devido à pressão social para ser mãe em uma idade em que muitas de suas amigas estavam construindo famílias. “Eu não tendo motivos sérios, digamos como não ter um parceiro, ou não ter uma casa, então eu ficava na dúvida se estava fazendo a coisa certa”, revela Marina.

Decisão lógica e planejada
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Tatiana Reuter Ferreira, diretora de conteúdo, também compartilhou sua experiência e motivações.

Ela refletiu sobre a ideia de ser mãe e concluiu que não queria ter filhos a qualquer custo ou com qualquer pessoa. No entanto, como o parceiro ainda não havia surgido, ela começou a considerar o congelamento como uma decisão lógica e planejada.

A pandemia de COVID-19 e sua mudança de volta para Salvador também influenciaram sua decisão. “Era uma decisão lógica, se a opção que eu tenho agora, de manter uma situação controladamente saudável para ter um filho no futuro, é essa, então vamos nessa”, compartilha Tatiana.

Antes de iniciar o processo de congelamento de óvulos, Tatiana descreve sua sensação como tranquila. Durante o processo, ela não hesitou ou considerou desistir.

“Era uma coisa que eu já tinha decidido e comecei a considerar desde os 25 anos, então eu estava muito tranquila e consciente de que era a melhor coisa que eu podia fazer naquele momento, diante do que eu queria para o futuro”.

Sobre sua experiência com a sensação física gerada pelo procedimento, Tatiana descreve como “uma experiência relativamente suave, enfrentando principalmente desconforto leve e temporário, como a prisão de ventre e o inchaço”.

“Desgastante emocionalmente”

A decisão de congelar embriões não foi fácil para Gabriela*. Aos 37 anos, ela recebeu o diagnóstico de uma alteração nas trompas, o que dificultaria sua gravidez natural.

Após mais de um ano tentando engravidar, ela procurou um médico de reprodução humana, que recomendou a fertilização in vitro (FIV) como o melhor caminho. “A motivação principal é que eu quero ter filhos e o congelamento de embriões seria o primeiro passo para tornar esse sonho realidade”, diz Gabriela.

Gabriela relata que enfrentou o medo do desconhecido, especialmente o receio de tomar hormônios e enfrentar um processo que não tinha familiaridade. “Eu me senti muito sozinha, por mais que tivesse o apoio do meu marido. Medo de passar por tudo e de não dar certo e gastar todas nossas economias”, compartilha.

Para ela, o caminho para a maternidade envolveu uma série de etapas, incluindo exames, injeções de hormônios, apoio de profissionais de saúde, como nutricionistas e psicólogos, e o tratamento de questões de saúde paralelas, como pré-diabetes e hipotireoidismo. “Foi um processo desgastante emocionalmente para mim”, admite.

Além dos desafios médicos, Gabriela conta que também enfrentou o impacto emocional da pandemia de COVID-19. “Quando estava iniciando o processo vieram o vírus, demissões no trabalho, inseguranças financeiras”.

Ainda de acordo com Gabriela, ela e seu marido decidiram manter um círculo restrito de amigos e familiares a par do processo, evitando a pressão e as expectativas externas. Ela relata momentos de dúvida e frustração ao longo do processo. “Será que vale a pena? Se eu soubesse que teria todo o desgaste físico, emocional e financeiro e que isso seria o suficiente para ter 100% de certeza de que as coisas dariam certo, ok. O fato é que, por mais que a gente se esforce nesse processo, nada é 100% certo”, pondera.

Sobre as preocupações financeiras, Gabriela reflete que embora o processo tenha representado um investimento significativo, ela colocou na balança o que lhe traria mais arrependimento. “Aprendi a lidar com o dinheiro de outra forma e pensar que estou gastando por um sonho que quero e acredito… Se não der certo, pelo menos vou ter certeza de que fiz tudo que estava ao meu alcance”.

“Terminei o processo de congelamento e confesso que sinto um alívio por ter concluído essa etapa, mas agora estou enfrentando o medo em relação à próxima fase, que é a transferência do embrião”, concluiu.

*A reportagem usou nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.

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Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.