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Empreendedora, defensora da educação antirracista e premiada nacionalmente: quem é a alagoana por trás da Magrela Vivi

Viviane Rodrigues, alagoana de 40 anos, é uma mulher multifacetada que se destaca não apenas por sua versatilidade, mas também por seu compromisso com a educação antirracista e o empreendedorismo sustentável.

Com um mestrado em Intervenção Social, Cultura e Diversidade, além de uma graduação em Relações Públicas, Viviane é uma mulher negra, periférica, mãe e artesã. É assim que ela se descreve ao Eufêmea.

O nascimento da Magrela Vivi
Foto: Cortesia ao Eufêmea/Arquivo Pessoal

“Minha mãe é costureira e feirante, embora hoje ela não atue mais nessa área. Quando eu era criança, eu costumava pintar toalhas de mesa e vendê-las na banca de feira dela. A criação sempre fez parte do meu universo. No entanto, após me formar, trabalhei em várias áreas diferentes, e nunca dei um nome ao meu negócio”, conta Viviane como se deu o início de tudo.

O ateliê Magrela Vivi, reconhecido atualmente por seus produtos lúdicos e educacionais, teve seu início em 2014. “A escolha do nome ‘Magrela’ foi uma sugestão de um ex-namorado, que carinhosamente me chamava assim devido à minha altura (1,80 metros) e magreza. O ‘Vivi’ é uma referência ao meu apelido de infância, já que prefiro não ser chamada de Viviane”, detalhou Viviane.

Inicialmente, o foco de Magrela Vivi era a moda, com ênfase na moda alternativa e afro. Seu slogan, “Exalte sua diferença, use Magrela!”, refletia a abordagem única de suas criações, que eram conhecidas por suas cores vibrantes e designs diferenciados.

“Foi nesse período que me tornei conhecida; as pessoas me encontravam nos eventos e diziam ‘Você é a Magrela?’. Eu respondia, sim”, relatou Viviane.

Da moda à educação Antirracista
Foto: Cortesia ao Eufêmea/Arquivo Pessoal

Contudo, Viviane sentiu uma chamada maior em 2018 e decidiu mudar de rumo, deixando a moda para trás e ingressando na área da educação.

Ela começou a criar brinquedos sensoriais, começando com livros sensoriais personalizados para atender às necessidades das crianças. Esses brinquedos são projetados para promover o desenvolvimento psicomotor por meio da ludicidade.

Ela utiliza seu negócio como uma plataforma para espalhar a educação antirracista por meio do lúdico. Seu objetivo é contribuir para uma sociedade mais igualitária, acreditando que as crianças são a chave para o futuro nesse sentido. Além disso, a sustentabilidade é um pilar fundamental do negócio de Viviane.

“Meu negócio é fundamentado na sustentabilidade. Utilizo o feltro como matéria-prima, e para cada metro de feltro, são reaproveitadas 12 garrafas pets. Além disso, evito o uso de plástico em minhas embalagens. Minhas tags são feitas de papel semente, de modo a preservar o meio ambiente, e ainda proporcionam uma interação especial com a criança, pois ela pode plantar o pé de rúcula”, reforça.

Reconhecimento e prêmios
Foto: Cortesia ao Eufêmea/Arquivo Pessoal

Viviane foi reconhecida por seu trabalho excepcional como empreendedora. Ela recebeu o Prêmio Pretos Empreendedores da CUFA (Central Única das Favelas), em 2020, na categoria mulher em Alagoas. Esse prêmio destacou a importância do trabalho de Viviane e a motivou a continuar sua jornada de empreendedorismo.

“Participei de uma competição com mulheres empreendedoras incríveis, que admiro muito. Ganhar foi uma experiência maravilhosa! Representou que minha jornada estava dando frutos. Muitas vezes, me senti isolada com meu negócio, então ter meu trabalho reconhecido e premiado trouxe um alívio para as dificuldades que enfrentei”, afirmou.

Em 2022, aconteceu o Expo Favela, organizado pela CUFA, e apenas dois empreendimentos de Alagoas foram selecionados. “Novamente, o Magrela Vivi foi o vencedor. Tive a oportunidade de ir a São Paulo e participar do maior evento de afroempreendedorismo da América Latina. Esse momento também foi de grande significado em minha trajetória, pois pude buscar investidores e defender meu plano de negócios”.

Empreendedorismo e Educação Antirracista

Para Viviane, o empreendedorismo é sinônimo de luta. “Caminho nesse universo com coragem e angústia. É impossível não ter medo do amanhã financeiro, mas a capacidade de se recriar é o que me sustenta”.

Como uma mulher negra e da periferia, ela entende que suas oportunidades são limitadas, mas está determinada a seguir seu caminho e defender sua visão.

“Eu sou periférica, fui a universidade onde me graduei, e posteriormente fiz meu mestrado. Parece que o caminho certo é um concurso, para ter estabilidade financeira, afinal não nasci herdeira. Então apostar na minha ideia, e seguir uma vida sem estabilidade financeira parece loucura aos olhos da maioria das pessoas”, disse.

Ela mencionou que é comum algumas pessoas irem até seu estande e presumirem que ela está enfrentando dificuldades.

“Às vezes, sinto olhares de desdém. É comum associar o artesanato a algo inato. Isso, em parte, é resultado de uma narrativa frequente na imprensa que, ao entrevistar artesãs, costuma soltar essa pérola: ‘Aprendeu com sua avó? Está no sangue!’. No entanto, a arte não é inata; ela demanda estudo, dedicação e aprimoramento”, esclareceu.

Viviane acredita que o empreendedorismo e a educação antirracista estão interligados. Enquanto o empreendedorismo é seu meio de criar um impacto econômico e social, a educação antirracista é sua ferramenta para mudar mentalidades e desmantelar preconceitos.

“Eu crio livros e brinquedos que desmistificam o preconceito. Um exemplo é o livro sensorial das Yabas, do qual tenho muito orgulho! Ele é uma forma de falar às nossas crianças sobre os órixas femininos, suas vestimentas e os elementos da natureza. Meu objetivo é que todas as crianças, independentemente de sua religião, possam entender, respeitar e admirar essa diversidade cultural. A busca diária pelo fim do racismo depende de cada um de nós, e embora eu seja apenas uma gota no oceano, acredito que juntos podemos fazer a diferença”, conclui.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.