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Medo e angústia: mulheres revelam sentimento de tristeza após o parto

“Não é tão fácil de descrever, às vezes era uma angústia… Um choro que vinha do nada. Estava num momento de extrema felicidade, mas batia um desespero”. Ter um filho… O momento tão feliz e aguardado para algumas mulheres pode se transformar em angústia e sofrimento para grande parcela. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, a fala de Jaynne Kochinski é mais comum do que se imagina, já que o “Baby Blues” ou blues puerperal acomete entre 70% e 90% delas.

Embora a sensação seja experimentada por muitas, o termo ainda é pouco abordado. Ele está associado à tristeza e melancolia que a mãe sente após o bebê nascer, podendo se manifestar logo no dia seguinte ao nascimento devido às alterações hormonais causadas pelo parto e durar por cerca de 21 dias, em média.

Sensação de impotência
Foto: Cortesia

Para Jaynne durou uma semana e ela acredita que a condição tenha sido motivada pela consciência de que sua vida havia mudado para sempre, ao passo que sentia muito medo de não dar conta do novo.

“Eu chorava por besteira, por exemplo, quando cheguei em casa da maternidade e minha cama não estava arrumada. Quando meu filho chorava eu não conseguia identificar logo o motivo, vinha uma sensação de impotência”, revela.

“Eu já tinha conhecimento sobre o baby blues, identifiquei o que estava sentindo e fui me observando. À medida em que eu ia conhecendo mais o meu filho, ia ficando mais fácil e os episódios de choro e tristeza foram diminuindo”.

“Isso sufoca a mãe”
Foto: Cortesia

A preocupação era exatamente a mesma de outra mãe. Aline Oliveira diz que a mudança de rotina abrupta e as cobranças da sociedade em relação à maternidade fizeram com que ela sentisse que não ia conseguir administrar sua nova vida.

“Isso sufoca uma mãe que está lidando com suas próprias questões. Um dia estamos com um bebê na barriga e teoricamente sabemos das responsabilidades, porém de uma hora pra outra estamos com ele nos braços. Como cuidar de uma criança que depende 100% de mim e como ter a minha vida novamente em ordem?”, questionava.

As preocupações da mãe se uniram ao temor pelo quadro de saúde do bebê logo após o parto e fez surgir os primeiros sintomas físicos. “Ela nasceu cansado e ficou cinco dias na UCI, não veio para o quarto comigo e toda vez que eu ia vê-lo, ele piorava. O prazo para desocupar o quarto foi esgotando e aquilo ia me afligindo. Lá mesmo na maternidade comecei ter falta de ar”, relembra.

Quadro evoluiu para depressão

Aline relata que seu quadro durou mais tempo do que o comum para a maioria das mulheres e acabou evoluindo para uma depressão. Para ela, contar com uma boa rede de apoio foi fundamental para que seu sentimento não afetasse o filho e ajudasse em sua cura.

“Fiquei em tratamento com psiquiatra por cerca de um ano porque tive pensamentos suicidas, embora não tenha havido nenhuma tentativa. Era acompanhada por ela duas vezes na semana e, aos poucos, a situação foi amenizando e fui liberada, permanecendo no tratamento convencional com psicóloga”, desabafa.

“Hoje o filho tem 7 anos, me sinto realizada e completa, meu filho é minha vida e não me imagino nunca sem ele. Ele é muito esperto, carinhoso e somos extremamente unidos e companheiros. Tenho certeza que tudo que eu passei me ensinou bastante tanto como mulher, ser humano e mãe”, reforça Aline.

“É natural sentir angústia”
Foto: Cortesia

Renata Lopes, psicóloga clínica e perinatal, acostumada a atender casos como o de Aline, reforça que a  maternidade é naturalmente rodeada de anseios, crenças sociais, crenças religiosas, crenças pessoais, idealizações, expectativas e é, ainda, um ato de doação extrema, o que, de fato, pode ser muito desafiador.

“Muitas mulheres já começam a sentir esses desafios durante a própria gestação, período em que elas vivenciam muitas mudanças, no corpo, hormonais, humor. Então, é natural sentir uma certa angústia. A gestante começa a encarar isso com culpa, já que a expectativa era de plenitude e pode relacionar isso à falta de amor pela criança”.

Capacitada em pré-natal psicológico e especializada em psicologia clínica e hospitalar, Renata ressalta a importância de inserir esse tipo de acompanhamento ainda durante a gestação como parte da rede de apoio da mulher para que seja possível prepará-la para o maternar e identificar transtornos aos primeiros sintomas.

“Do mesmo jeito que existe o pré-natal físico, biológico, a psicologia também tem um pré-natal psicológico, que é quando essa mulher vai processando todas essas mudanças antes mesmo de parir. Essa mãe precisa sentir que pode pedir ajuda quando necessário e ir criando consciência sobre a sua realidade”, aponta.

“A mulher precisa dessa preparação para o maternar em qualquer etapa. Se não for possível durante o planejamento, a gestação, que seja após o nascimento. Eu costumo sempre citar que a gente não consegue oferecer oxigênio, cuidar do outro, cuidar de um bebê se não estiver respirando”, completa Renata.

Alguns sintomas de Baby Blues

Se você é mãe recente e está com algum desses sintomas abaixo, peça ajuda. O Baby Blues e a Depressão pós-parto são condições complexas, por isso, o acompanhamento de um profissional, como um terapeuta perinatal ou psiquiatra deve ser considerado. Se você faz parte da rede de apoio de alguma mulher, fique atenta aos sinais e esteja sempre disposta a ouvir e oferecer o suporte necessário à mãe e ao bebê.

Preocupação em excesso com o bebê;

Vontade constante de chorar;

Baixa autoestima;

Sensibilidade emocional exacerbada;

Bruscas mudanças de humor;

Dificuldade de concentração;

Ansiedade;

Alterações do sono;

Irritabilidade;

Indisposição;

Insegurança;

Impaciência.

Meline Lopes

Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.