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“Ainda não me sinto bonita, mas me sinto vitoriosa”: arquiteta conta sua trajetória na luta contra o câncer de mama

Um mito que os médicos buscam desmistificar é o de que o câncer de mama se manifesta apenas em mulheres com histórico familiar da doença. A arquiteta Vanine Pimentel pertence à maioria que não tem casos de câncer na família, mas ainda assim foi diagnosticada com câncer de mama.

“Fui para a consulta com a ginecologista sem nenhuma suspeita, não tenho herança genética para câncer de mama. Foi um grande susto para mim”, desabafa a arquiteta.

O diagnóstico

Em abril de 2022, Vanine perdeu sua mãe e enfrentou o processo de luto. Queda de cabelo, ganho de peso e desânimo tornaram-se parte de sua rotina. No entanto, foi durante uma consulta com o psiquiatra que ela considerou esses sintomas como suspeitos e optou por não atribuí-los apenas ao luto.

“Comecei a suspeitar que estava passando por algum problema hormonal e meu psiquiatra recomendou ir à ginecologista. Ao me examinar, ela percebeu uma retração na mama direita, como se fosse um repuxadinho, mas muito discreto. No mesmo dia, eu já fiz a mamografia e o ultrassom”, relata ela.

O “repuxadinho” identificado pela médica foi pontapé para o diagnóstico, já que não era possível apalpar o nódulo, porque ele estava escondido atrás de um cisto benigno. A pele, ao dar esse sinal, agilizou o diagnóstico e Vanine foi encaminhada para o devido tratamento. “Era muito sutil, só um médico bom descobriria. A minha médica agilizou todos os exames necessários. Eu devo minha vida a ela”, expressa emocionada.

Ao todo, foram 16 quimioterapias a que a arquiteta foi submetida, e o tratamento teve êxito total. A biópsia da peça retirada na cirurgia deu negativo para células cancerígenas, revelando que o corpo de Vanine realmente aderiu ao tratamento.

No entanto, os cuidados ainda continuam. Além das radioterapias, ela seguirá à risca o tratamento hormonal pelo fato de o câncer ter sido do tipo Luminal B, ou seja, de caráter hormonal. Por isso é necessário reduzir o nível desses hormônios para evitar uma recidiva (retorno da atividade de uma doença).

“Nunca estive só, por mais que essa doença seja muito solitária”
Foto: Cortesia

É inegável a importância de uma sólida rede de apoio durante esse processo, especialmente quando se tem filhos, como é o caso de Vanine.

“Meu marido, minha irmã e minhas amigas, que apelido de “anjas”, foram minha rede de apoio. Eles cuidaram de mim e dos meus filhos, buscando eles na escola e ajudando nas tarefas escolares, por exemplo. Até as mães dos colegas dos meus filhos me ajudaram com as atividades escolares. Eu me sinto muito abençoada”, reconhece ela.

A cada sessão de quimioterapia, Vanine conta que uma amiga lhe acompanhava, transformando o que era pra ser um momento doloroso e árduo, em leve e divertido. Também não foi diferente no dia que ela resolveu raspar a cabeça, as amigas, os filhos e o marido estavam presentes para participar e colaborar com o novo corte e visual que estava por vir. “Nunca estive só, por mais que essa doença seja muito solitária”, diz a arquiteta.

“Ainda não me sinto bonita, mas me sinto vitoriosa”

Quando ouvimos os relatos de mulheres que passaram pela quimioterapia e tiveram que raspar a cabeça, é evidente que a baixa autoestima frequentemente está relacionada à perda de cabelo. No caso de Vanine, a ausência de cabelo também causou desconforto, mas a baixa autoestima estava particularmente ligada à perda de pelos das sobrancelhas.

“No começo, eu achava que a baixa autoestima estaria ligada ao meu cabelo, e lógico que é muito difícil e doloroso, mas sabe o que foi pior? A sobrancelha. Quando ela começou a cair foi péssimo para mim, porque foi como se eu estivesse perdendo a expressão do rosto. Eu não queria colocar a cara na rua”, recorda ela.

Apesar disso, a arquiteta frisa que vencia a insegurança e continuava saindo de casa para trabalhar. “Nunca parei de trabalhar. O trabalho também me deu força”.

Agora, com as quimioterapias encerradas, os pelos das sobrancelhas e os cabelos de Vanine estão voltando a crescer, para demonstrar sua força e inspirar outras mulheres que ainda estão na luta contra o câncer de mama.

“A sobrancelha já voltou com tudo e o cabelo tá crescendo. Ainda não me sinto bonita, mas me sinto vitoriosa. Os olhares são desconfortáveis, mas não deixo ninguém sentir pena de mim, tento estar com o meu melhor sorriso, sendo testemunha do amor de Deus”, completa ela.

  • Se você está em Alagoas e ainda não fez sua consulta ao ginecologista neste ciclo, aproveite as campanhas do Outubro Rosa para realizar seus exames de rotina! A Secretaria de Estado da Saúde está disponibilizando exames de ultrassonografia e mamografia no Centro de Diagnóstico e Imagem (Cedim) e participará de eventos relacionados à campanha em várias cidades do interior.
Cecília Calado

Cecília Calado

Pernambucana vivendo em terras alagoanas, Cecília Calado é estudante de Jornalismo com experiência em mídias sociais e produção de rádio e TV. Considera o Jornalismo uma ferramenta de transformação social.