Tratamento injusto, estereótipos e vigilância excessiva em estabelecimentos comerciais. Essas são algumas das dificuldades que mulheres negras enfrentam no combate ao racismo no momento das compras. Um levantamento realizado pela Globo expõe essa realidade: 79% dos consumidores negros acreditam que vivenciar situações de discriminação racial em lojas impacta diretamente na saúde mental e autoestima.
O levantamento ainda aponta que que brancos e negros têm percepções diferentes sobre as experiências de consumo quando questionados sobre a forma com que são tratados. Na hora das compras, na maioria das situações, mais pessoas negras declaram ter vivido ou ter visto alguém em situações de discriminação, muitas delas motivadas por questão racial.
Durante suas visitas às lojas, 70% dos negros dizem ter sido seguidos ou ter visto alguém seguido por funcionários ou seguranças. É o caso de Alycia Oliveira, professora e ativista.
“Adoecimento psicológico”
Ao Eufêmea, ela compartilhou sua experiência pessoal de discriminação racial enquanto fazia compras em um shopping de Maceió. Ela descreveu uma situação em que entrou em uma loja que vendia produtos de beleza e cuidados capilares, incluindo aqueles destinados a pessoas com cabelos cacheados e crespos.
No entanto, ao se dirigir à seção de produtos para cabelos cacheados, Alycia percebeu que um segurança a seguia de perto, o que a deixou desconfortável. “E seguiu dessa forma até que cheguei ao caixa para realizar o pagamento”, disse Alycia.
De acordo com Alycia, ao longo da vida, as pessoas negras frequentemente são percebidas como suspeitas. “Por esse motivo internalizamos comportamentos que nem percebemos. Como o hábito de não entrar em estabelecimentos com sacolas ou mochilas, nunca abrir uma mochila dentro de um estabelecimento, por exemplo. Porque sabemos de forma internalizada que já nos observam como suspeitas.”
“Nós, mulheres negras, somos afetadas pelas inúmeras opressões de raça e gênero em nosso cotidiano, o que nos causa adoecimento físico e psicológico. Esse estado de alerta constante para não sermos vistos como suspeitas contribui para quadros de ansiedade”, continua.
Para lidar com o estresse cotidiano do racismo e do machismo, ela busca apoio em tratamento terapêutico, onde encontra acolhimento e escuta ativa. “Tenho consciência de que a maior parte da população, e principalmente mulheres negras não têm acesso a esse serviço, o que explica o adoecimento psicológico da nossa população.”
A professora acredita que é crucial que as mulheres negras se conscientizem de seu papel na sociedade e denunciem o racismo cotidiano que muitas vezes é normalizado. Ela defende o movimento de “aquilombar-se”, que envolve unir-se à comunidade negra, consumir produtos de empreendedores negros e denunciar casos de racismo às instituições para garantir que elas produzam respostas apropriadas.
“Você não está sozinha!”
Já com Mirian Soares, Assistente Social e Coordenadora de Igualdade Racial no Município de Maceió, a situação aconteceu em uma livraria, quando estava com uma amiga branca. Enquanto sua amiga mexia na bolsa, Mirian é que foi abordada por um segurança que insistiu em verificar a sua bolsa, mesmo sem motivo aparente. Sua amiga, por outro lado, não enfrentou nenhuma abordagem.
Para enfrentar o estresse e a ansiedade resultantes dessas situações, Mirian enfatiza a importância da educação, especialmente na criação de crianças para que sejam conscientes da igualdade racial. “O principal é que você não está sozinha!”