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Não espere por sinais divinos para sair de relações violentas: denuncie!

Não espere por um sinal divino para sair de relações violentas: denuncie!

“Eu estava conversando com uma irmã da igreja e a irmã disse que Deus não vai deixar ele tocar em mim”. “Deus vai resolver”. “Deus tem que resolver, estou no aguardo de Deus responder”. Essas falas são cantora gospel Sara Mariano, morta pelo marido Ederlan Santos Mariano.

Escutei o áudio que Sara gravou para a irmã, Soraya Correia, em uma matéria publicada no G1 e fiquei refletindo sobre o assunto. Certa vez, Padre Fábio de Melo disse em um post no Twitter: ‘Eu acredito na proteção divina, mas olho para os dois lados antes de atravessar a rua. Crer em Deus não significa abrir mão do bom senso’.”

Sara diz no mesmo áudio que não confia no marido e que ele tem um temperamento complicado. Ela sabia quem era ele…

Em entrevista à TV Bahia, afiliada da Rede Globo, neste sábado (28), o advogado da família, Marcus Rodrigues afirmou que Sara era agredida de diversas formas por Ederlan, inclusive que ele bebia muito, chegava em casa agredindo e forçava a Sara a ter relações sexuais.

Eu não sou da família dela nem amiga, mas esse caso se parece com outros casos que já relatei enquanto jornalista ou que já vi acontecer bem perto de mim.

Cito aqui algumas situações que fazem a mulher permanecer em relacionamentos tóxicos, abusivos e violentos: dependência financeira, emocional e social; a ideia de que o casamento deve suportar tudo; o julgamento da sociedade (imagine que feio uma cantora gospel que fala sobre a importância da família ser uma mulher separada!); relação com os filhos; falta de apoio dos amigos e família, entre outros.

Se isso já tem um peso para uma mulher que não é tão religiosa assim, imagine para quem tem a religião como base de tudo. Será que Sara foi incentivada alguma vez a denunciar o marido? ou será que ela só recebia conselhos de que “Deus não iria deixá-lo tocá-la?”

Existem alguns fatores que podem dificultar a denúncia por uma mulher religiosa:

Crenças: algumas religiões ensinam que o casamento é sagrado e que as mulheres devem submeter-se aos seus maridos. Isso pode levar a mulher a acreditar que ela deve tolerar o abuso, mesmo que ele seja prejudicial à sua saúde e segurança.

Comunidade: em alguns casos, a comunidade pode ser cúmplice do abuso, ao negar ou minimizar a gravidade do problema.

Medo: a mulher pode temer o julgamento ou a rejeição da comunidade religiosa se denunciar o abuso.

Infelizmente, Sara se tornou mais uma vítima. Quero deixar claro que a religião em si não é um problema; acredito que Deus nos protege, mas precisamos fazer a nossa parte: DENUNCIAR.

Acredito que Deus quer que sejamos felizes. Ele não nos quer em relações que nos causam medo.

Se você é vítima de violência, não espere por sinais divinos. O primeiro sinal de violência é o suficiente para você sair dessa relação.

Quer falar comigo? Estou no Instagram: @raissa.franca

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.