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“Pesquisei e vi que tinha seis meses de vida”: jornalista conta sua trajetória na luta contra o câncer de mama

“Eu estava passando pelo tratamento do câncer de mama e acompanhei minha mãe durante a sua luta contra a doença, então para mim, o Outubro Rosa é um misto de sensações”. A jornalista Renata Pais teve neném em abril de 2018 e, em 2019, sentiu um carocinho na mama esquerda ao realizar o autoexame.

Ela já era acompanhada por um mastologista e estava com os exames em dia, mas a genética a mantinha em alerta. “Eu fazia o autoexame diariamente, pois vivia na neura do fantasma do câncer de mama ameaçando. O caroço não doía, não incomodava. Voltei para o médico e ele pediu ultrassom, mamografia e biópsia”.

“Não tive coragem de buscar o resultado”

A jornalista revela que não teve coragem de buscar o resultado, o esposo quem recebeu o diagnóstico, mas contou que quando abriu o envelope já sabia o que era. “Pensei que estava com os dias contados. Estava no auge da maternidade, um bebê de um ano e outro filho com dez anos. Minha única preocupação era criar os meus filhos”.

No dia seguinte, Renata foi ver o mastologista para ouvir suas opções. “Ele indicou retirar o quadrante da mama e eu perguntei o que aconteceria se retirasse a mama toda. Quando ele disse que reduziria a chance do câncer, decidi que tiraria não apenas uma, mas as duas. Foram 22 dias desde o diagnóstico até a cirurgia”.

“Pesquisei e vi que tinha seis meses de vida”
Foto: Arquivo Pessoal

O procedimento invasivo trazia esperanças de cura completa, mas o que a biópsia do tumor revelou foi que o tratamento estava só começando.

“O meu tipo de câncer era o triplo negativo, que é extremamente agressivo. Receber o diagnóstico de câncer já não é fácil, e desse tipo é pior ainda. Lembro que pesquisei na internet e quando cheguei na oncologista perguntei: é verdade que tenho seis meses de vida?”.

Ela precisou passar por 12 sessões de quimioterapia e outras 27 de radioterapia. Diz que lembra bem do cansaço, do enjoo, dos drenos, e de em alguns momentos achar que não ia aguentar, mas para ela, o que causou maior sofrimento foi perder os cabelos.

“Para mim foi a pior parte. Não sofri o baque de ficar sem a mama porque fiz a retirada e reconstrução na mesma cirurgia. A Rosa, minha cabeleireira, me ajudou muito. Me ensinou a maquiar a sobrancelha e uso até hoje. Raspei a cabeça e ela conseguiu uma peruca de cabelo natural e não tirava nunca”.

Renata conta que essa rede de apoio de amigos e familiares foi fundamental para que ela conseguisse enfrentar a doença e o tratamento. “Lembro que meu filho mais velho viu a cicatriz da cirurgia e disse: mãe, ficou feio! E foi só depois dela que expliquei que fiz isso por estar correndo risco de morrer e ele me apoiou do jeitinho dele. Meu esposo vivia me colocando para cima, dizendo que eu estava linda, que era maior que a doença. Meu pai foi vítima da Covid em 2020 e sua última missão na Terra foi ser meu suporte”.

Foto: Cortesia
“Aprendi a viver”

Foi neste mesmo ano que a jornalista concluiu os tratamentos e, de lá pra cá, segue sendo acompanhada, fazendo exames a cada três meses e tomando todas as medidas que estão a seu alcance para reduzir a possibilidade de retorno da doença. “Existe um comprimido que pode ser tomado para amenizar a chance de recidiva, mas meu tipo de câncer não reage a ele. Fiz exame genético e descobri que tenho alteração cromossômica. Fiz a histerectomia completa e retirei útero, ovários e trompas. Fora isso, cuido da alimentação, faço exercícios e mantenho a fé”.

Para as leitoras, Renata faz um alerta e diz que aprendeu uma grande lição com a doença. “Se eu tivesse descoberto meses depois, certamente não estaria mais aqui para contar. O Outubro Rosa é um puxão de orelha para a gente que cuida de casa, filho, marido, trabalho e não se cuida, a gente vai embora e deixa tudo para trás. Aprendi a viver, ser grata diariamente pela vida e pela possibilidade de mais um dia”, completa.

Meline Lopes

Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.