Colabore com o Eufemea
Advertisement

Dificuldade na leitura e problemas na escrita: mulheres relatam desafios da dislexia

Foto principal: Nathalia. Créditos: John Lins

Lentidão na aprendizagem, dificuldade de concentração, palavras escritas de forma incomum, dificuldade de soletrar e troca de letras com sons ou grafias parecidas. Esses são alguns dos sintomas da dislexia, um distúrbio de aprendizagem que atinge uma mulher para cada quatro homens, de acordo com os dados da Associação Brasileira de Dislexia.

É o caso de Nathália Louise, de 22 anos. Ao Eufêmea, ela compartilhou sua jornada de descoberta sobre a dislexia na vida adulta e os obstáculos que enfrenta diariamente. “A ficha caiu que eu tinha dislexia na vida adulta. Desde pequena sempre confundi algumas sílabas, mas os números eram ainda piores. Pensava que era falta de atenção minha na hora de escrever ou de falar algo”, conta.

A jovem destacou como a dislexia afeta seu cotidiano, especialmente quando lida com números. “Eu sei quais são os números, mas a ordem sempre é uma dificuldade. Bloqueio o cartão por digitar a senha pelo menos 2 vezes no ano, e vez ou outra tenho que trocar as senhas de e-mail e redes sociais. Eu até as Tenho anotado todos, mas acabei trocando a ordem dos dígitos”, revela.

“Não é burrice”

Ao abordar as situações desafiadoras no trabalho, Nathália apresentou experiências em que sua condição gerou mal-entendidos.

“Já ocorreram situações inconvenientes no trabalho, onde parecia que eu não sabia escrever. O que aconteceu foi que escrevi muito rápido e não estava correto; consequentemente, as pessoas tiveram que corrigir depois.”

Nathália ressalta a importância do apoio de amigos e colegas, especialmente aqueles que conhecem sua jornada desde a escola. “As minhas amigas são de longa data, desde o colégio, então são elas que sempre se colocaram à disposição para revisar as coisas que eu escrevia quando estudávamos juntas”.

Ela destaca suas estratégias para lidar com a dislexia, como evitar a digitação rápida e adotar abordagens visuais ao apresentar números. “Eu circulava quais eram os números que eu estava falando, enquanto eu falava, e apontava para eles, para entender a minha linha de raciocínio.”

A alagoana faz um apelo para compreensão no ambiente de trabalho: “Sempre aviso para chefes, quando eles são meus novos chefes, que eu tenho um problema com dislexia e discalculia , e peço para ter paciência. Não é burrice, só que realmente não consigo.”

Métodos e ferramentas

Foto: Cortesia

Aos 27 anos, a jornalista Larissa Pontes, também teve que moldar sua jornada na produção de textos e interpretação.

“A dislexia impacta muito na questão da produção de textos, na questão da interpretação também. Foram sempre coisas que eu tive muita dificuldade na minha vida, mas eu quis esse desafio para mim a partir do momento que escolhi fazer jornalismo e soube que tinha que lidar com a produção de conteúdo diária”.

Larissa descreve as dificuldades em suas leituras, muitas vezes precisando reler páginas várias vezes para compreender o conteúdo. Ela destaca a necessidade de silêncio para concentração e a dificuldade em enxergar algumas palavras, resultando em erros que podem passar despercebidos. A jornalista compartilha como o uso de um software de inteligência artificial a auxilia na correção de textos, proporcionando mais confiança em seu trabalho.

“Eu sempre tento escrever num bloquinho de notas do celular ou no papel, alguma coisa tipo assim. Às vezes não estou conseguindo começar o texto no computador, e aí eu fecho o computador e vou para o papel.”

A jornalista enfatiza a importância de um ambiente organizado para garantir sua produtividade. “Minha mesa é organizada. É muito importante anotar todas as demandas que eu tenho no bloquinho. Poder organizar minha rotina, saber o que eu vou fazer a cada dia, saber o que eu preciso fazer para entregar tal coisa”.

Larissa também compartilha os métodos e ferramentas que encontrou úteis para superar os desafios impostos pela dislexia. Desde a infância, ela passou por intervenções pedagógicas que contribuíram significativamente para o desenvolvimento de suas habilidades. “Se eu não tivesse esse trabalho profissional, eu acho que eu não teria conseguido nem metade das coisas que eu consegui já”.

“Atingiu minha autoestima ao longo dos anos”

Ao ser questionada sobre situações específicas em que a dislexia causou desafios significativos, Larissa compartilha uma experiência impactante na Associação Brasileira de Dislexia, em 2019. Larissa conta que desde a infância, sua mãe desejava levá-la à associação, mas as condições financeiras dificultavam essa oportunidade. Quando finalmente teve a chance de visitar o local, Larissa encontrou um espaço de compreensão e esclarecimento.

“Foi um momento muito significativo para mim, porque eu fui lá e eu consegui conversar com a diretora e várias coisas do que eu tinha passado, tratamentos, que alguns médicos daqui de Recife falaram, tipo, eu tinha que usar um leitor, tinha que usar um apoiador de pé, tinha que usar um óculos específico, que era horroroso, que era abaulado no rosto, várias coisas que, de uma certa forma, atingiram a minha autoestima ao longo dos meus anos”.

A jornalista ressalta como essa visita proporcionou não apenas esclarecimentos sobre tratamentos duvidosos, mas também a descoberta de métodos eficazes para lidar com sua dislexia.

Ela relata um episódio marcante relacionado à sua dificuldade em aprender inglês. “Eu já estava meio que desistindo de aprender inglês, porque eu já tinha feito uma vida toda de inglês, passei por vários cursos de inglês e eu nunca saía do básico”. No entanto, ao descobrir que havia um método adaptado para pessoas com dislexia, ela se sentiu motivada a retomar seus estudos e alcançou resultados significativos.

Picture of Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.