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A cada 10 minutos, nascem no Brasil seis bebês prematuros, o que equivale a mais de 340 mil casos por ano, segundo a OMS. Esse percentual coloca o país em décimo lugar no ranking mundial dos que mais registram nascimentos prematuros, ou seja, antes das 37 semanas.
Adriana Beltrão é bancária aposentada e tem dois filhos que fazem parte dessa estatística. No entanto, ela destaca uma atenção especial para o nascimento de sua primogênita, que envolveu mais de 15 horas de trabalho de parto e também experiências de violência obstétrica.
“Eu achava que ela tinha morrido e estavam escondendo isso de mim”

Ao Eufêmea, ela contou que não teve complicações durante a gestação. Com o pré-natal em dia, a dificuldade surgiu na hora do parto, que durou mais de 15 horas.
“Minha bolsa estourou às duas e meia da madrugada. Quando liguei para a minha médica, ela pediu para eu ir até o hospital às 6 horas. Ao chegar lá, o tempo passava, e eu não tinha dilatação suficiente, fazendo com que a bebê ficasse indo e voltando na tentativa de sair. Foi então que a minha médica resolveu aplicar soro para induzir a dilatação, porém, logo depois, saiu e me deixou sem assistência”, afirma ela.
Segundo Adriana, enquanto tomava o soro fisiológico na veia, a médica foi para uma aula de inglês. Quando retornou ao hospital, deu continuidade aos atendimentos do ambulatório, deixando-a sem amparo. “Quando eu já estava com muitas dores e não aguentava mais, porque o soro já tinha induzido a dilatação há muito tempo, minha mãe foi chamá-la por volta das 17 horas. Minha filha nasceu às 17 horas e 40 minutos. Eu não tinha noção de que isso se tratava de violência obstétrica”.
Marcela nasceu um mês antes do esperado, absorveu resíduo da placenta e desenvolveu uma infecção generalizada, devido ao atraso para a realização do parto. Foram 12 dias na incubadora sem ter o primeiro contato com a família.
Para Adriana, sua maior dificuldade foi essa: ficar sem ver a filha. “Eu achava que ela tinha morrido e estavam escondendo isso de mim, porque nos três primeiros dias ela não reagia ao antibiótico. Meu pai até achava que ela não ia se criar. A família toda ficava naquela expectativa porque ela era a primeira de tudo, a primeira neta, a primeira sobrinha, a primeira filha”.
Marcela “se criou” e está com 31 anos. A mãe reitera que depois dos 12 dias no hospital, não precisou voltar lá com a filha. “Marcela é uma mulher saudável. A complicação que teve foi por causa da negligência da médica que priorizou suas atividades pessoais. Filho prematuro não é sinônimo de filho doente”, desabafa Adriana.
“Meu filho me ensina a ser forte e resistente todos os dias”

Outra mãe que compartilha experiências com um filho prematuro é a jornalista Mariana Lima, que teve uma gestação de risco e o pequeno Samuca nasceu com 36 semanas, sendo classificado como prematuro tardio.
Pelo fato de ser hipertensa, a jornalista conta que durante o parto do seu filho, teve um pico de pressão arterial.
“Samuel era um bebê muito aguardado. Eu demorei seis dias para ver o meu filho, porque ele acabou indo para uma UTI e eu para outra”, diz ela.
De acordo com Mariana, alguns estigmas relacionados à UTI precisam ser superados, principalmente, entre as mães. “No momento que é falado para uma mãe que o bebê dela vai para a UTI, ela já fica sem chão, mas na verdade, o tratamento lá é espetacular para que o seu filho se desenvolva. Claro que nenhuma mãe quer ver um filho internado, mas aquele momento é extremamente necessário”, reforça a jornalista.
Segundo ela, o filho não desenvolveu muitos problemas devido à prematuridade. Ele apresentou uma fragilidade no pulmão e dificuldade para começar a amamentação. Os cuidados após receber alta do hospital foram semelhantes aos de um recém-nascido comum nascido com 37 semanas, por exemplo. “Os principais desafios ocorreram nos primeiros dias. Samuel tem uma vida normal hoje e é muito ativo”, explica Mariana.
Ao contrário da médica de Adriana, a de Mariana deu total assistência e atenção durante o parto e os dias de internação na UTI. Hoje, o Samuca continua sendo acompanhado pela mesma pediatra “Eu confio demais nela e sei que ela conhece todo histórico e o caso dele”.
Mariana também destaca a atuação da sua rede de apoio, que esteve presente da gestação aos desafios enfrentados no hospital. Segundo ela, sem o auxílio da família e dos amigos mais próximos, o processo teria se tornado ainda mais doloroso. “Samuca me ensina a ser forte e resistente todos os dias. Eu aprendi mais com ele do que com a vida”.
O que você precisa saber…
Em 2011, foi instituído no Brasil o Novembro Roxo, que é o mês internacional de sensibilização à prematuridade. Além disso, a campanha também inclui o dia mundial da prematuridade, comemorado no dia 17 de novembro.
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou este ano o projeto de lei (PL) 386/2023, que aumenta em 120 dias a licença e o salário-maternidade em casos de internação por prematuridade ou complicações no parto. Pelo texto original, o benefício extra seria de 60 dias após a alta hospitalar. O substitutivo determina que, em casos de internação que supere duas semanas, a licença e o salário-maternidade poderão se estender em até 120 dias após a alta da mãe e do recém-nascido, descontado o tempo de repouso anterior ao parto.