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Mulheres na tecnologia: elas romperam estereótipos e inspiram mudanças no universo digital

Rompendo com estereótipos preestabelecidos e desbravando novos horizontes em um domínio predominantemente marcado por homens, as mulheres surgem como protagonistas fundamentais no panorama tecnológico atual. Elas se destacam nos circuitos da inovação, criando narrativas que não apenas moldam, mas revolucionam a indústria tecnológica.

Os dados revelam que…

Segundo a pesquisa Woman in Technology, menos de 20% dos cargos das áreas de tecnologia no Brasil são ocupados por mulheres. Em toda a América Latina, elas ocupam menos de 30% dos cargos de liderança no setor.

Conforme o estudo, as mulheres representam apenas 33% do total de profissionais em empresas de TICs em Alagoas. Além disso, os dados salariais são alarmantes: em média, as mulheres recebem 17% a menos do que os homens. Em atividades específicas, como Analista de Sistemas, essa disparidade é ainda mais acentuada, com as mulheres ganhando, em média, 37% menos do que seus colegas masculinos.

A presença feminina também é baixa em várias ocupações do setor. Para ilustrar, na Administração de Redes, apenas 13% dos profissionais são mulheres. No Suporte de Informática, esse número apresenta um leve aumento, alcançando 15%.

Em posições como Administração em Banco de Dados, a representação feminina é de apenas 20%. As posições de Programador(a) de Internet e Desenvolvedor(a) de Software apresentam as menores porcentagens, com apenas 7% e 11% de mulheres, respectivamente.

Capacitação de mulheres

Num cenário em que a tecnologia se destaca como o propulsor da inovação, nasceu a startup Mulheres Conectadas com o propósito transformador de impulsionar mulheres a conquistarem espaços historicamente dominados por homens.

Fundada em 2020, esta iniciativa carrega consigo um compromisso claro: “empoderar as mulheres, proporcionar acesso às tecnologias e enfrentar o desequilíbrio de gênero na inovação”, conforme detalha Alessandra Pontes, uma das co-fundadoras.

Alessandra, nascida em Penedo, é mestre em Modelagem Computacional e doutora em Distúrbios do Desenvolvimento, tornando-se uma voz influente na batalha pela igualdade de gênero na tecnologia.

Ao seu lado está Gesyca Santos, natural de Matriz de Camaragibe, em Alagoas, especialista em Geografia e Propriedade Intelectual, o que traz uma perspectiva única ao projeto. Unindo forças, elas moldam o futuro, proporcionando trilhas de conhecimento e oportunidades para mulheres empreendedoras por meio da tecnologia.

Através de suas iniciativas, como o Developer Start e soluções de alfabetização digital, a startup quebra barreiras. Segundo Gesyca, o Developer Start estimula habilidades de programação e capacita mulheres para participarem de editais e desenvolverem projetos de inovação. “Já as soluções de alfabetização digital fornecem conhecimento acessível sobre tendências tecnológicas, empreendedorismo e inovação”, explica.

Assédio sexual e moral

A diretora de diversidade e igualdade de gênero na ASSEPRO, Alessandra, reforçou que os principais desafios que as mulheres enfrentam no mercado da tecnologia estão relacionados aos assédios moral e sexual.

“O assédio sexual e o assédio moral são problemas comuns, criando um ambiente hostil para as mulheres. Desta forma, é de suma importância o trabalho que as mulheres vêm executando, impulsionando outras mulheres para o mercado de inovação”, expõe.

Através de palestras, workshops e avaliações contínuas, elas garantem que a diversidade e inclusão sejam mais do que palavras, mas também ações concretas. “Acompanhamos nosso impacto através de feedbacks e avaliações. Nosso objetivo é claro: igualdade de gênero e inclusão total”, enfatiza Alessandra.

Gesyca explica que é valorizar a participação da mulher é essencial para enriquecer a indústria com diferentes perspectivas, habilidades e talentos. “Isso pode ser alcançado através de programas de inclusão, mentoria, educação e conscientização sobre o machismo, bem como apoio a organizações e comunidades que promovem a igualdade de gênero na tecnologia”, afirma.

“Tive acesso ao computador com dois anos”

A empreendedora digital Micaele Marques, de 27 anos, também tem contribuído para redefinir este cenário. Desde cedo, Micaele teve uma relação especial com a tecnologia. “Tive o privilégio de ter acesso ao computador aos dois anos de idade”, ela compartilha, lembrando de uma época em que possuir um computador era algo raro.

Seu envolvimento com o mundo digital aumentou durante a adolescência, impulsionado por sua paixão por games online. No entanto, a jornada empreendedora começou muito antes. “Sou uma empreendedora nata”, diz Micaele. Ela conta que seus primeiros negócios surgiram aos nove anos, vendendo desde roupa de boneca até trufas.

Em 2020, ela identificou uma lacuna no mercado alagoano ao perceber a ausência de desenvolvimento digital, especialmente entre as pequenas empresas.

Assim, ela se tornou a única corretora de Alagoas com um site de suporte pós-compra. “Decidi deixar pra trás uma sócia maravilhosa para trabalhar no que trabalho hoje: desenvolvendo empreendedores no digital”, revela.

“De um lado tem um empreendedor com dificuldade de vender, e do outro lado tem um cliente com dificuldade de comprar. Minha empresa hoje resolve isso, cria esse link entre o cliente e o empreendedor, otimiza processos e digitaliza informações através de plataformas digitais”, continua.

Inclusão na tecnologia

Ao discutir a inclusão das mulheres na tecnologia, Micaele analisa: “A mulher estar vinculada à tecnologia de alguma forma, seja como profissional ou apenas usuária, não é mais uma opção.”

Ela destaca a importância da tecnologia em simplificar as complexidades da vida moderna. “Socialmente, a mulher está com muita carga! A tecnologia e o mundo digital têm o poder de tornar mais práticas algumas tarefas que demoram horas, otimizando processos e aliviando a carga. A tecnologia tem que ser mais das mulheres! Tem muita coisa ainda para ser ajustada, mas já está no caminho certo”, avalia.

Além dos estereótipos relacionados a maquiagem e roupas, é fundamental que as mulheres vistam também a autoconfiança. Para a empreendedora digital, “antes de desejarmos que o mundo compreenda qual é o nosso lugar, precisamos entender e não aceitar nada diferente disso”.

Expandindo a digitalização na vida cotidiana, Micaele aconselha incorporar ferramentas digitais em rotinas diárias. “Mude para uma agenda e bloco de notas online”, ela sugere.

Com o vasto arsenal de ferramentas disponíveis, ela destaca o Google como um recurso indispensável, repleto de plataformas que podem facilitar e enriquecer a vida diária.

Ela também incentiva experiências práticas, como realizar compras pela Cornershop, um serviço semelhante ao “Uber Mercado”, e utilizar o Mordomo Digital, um aplicativo alagoano projetado para simplificar o gerenciamento doméstico. Além disso, para aqueles que apreciam a leitura, ela sugere a assinatura de jornais por e-mail, ressaltando a conveniência e o acesso instantâneo à informação.

Cenário em evolução

Na busca por ser uma fonte de inspiração para mulheres que aspiram trilhar caminhos não convencionais, Regi Mafra atua como gestora de uma empresa de marketing, desenvolvimento web e outros serviços. “Minha trajetória na tecnologia começou de forma inusitada”, reflete Regi, lembrando seus primeiros passos no setor após concluir a faculdade de Biologia.

A decisão de se aventurar na empresa id5, liderada pelo esposo, foi o catalisador que definiu sua carreira tecnológica. Ao se deparar com desafios iniciais, Regi não recuou. Em uma indústria dominada por homens, ela enfrentou estereótipos e subestimações, mas persistiu.

“É gratificante observar que o cenário está evoluindo, com cada vez mais mulheres fortalecendo e consolidando sua presença na tecnologia. Embora os desafios tenham sido reais, encarei cada obstáculo como uma chance para aprimorar meu trabalho, mas que hoje está claro que as mulheres desempenham um papel vital nesse setor dinâmico e em constante evolução”, afirma.

Hoje, como Gestora do Setor Comercial e Vendas e Sócia da id5, Regi está na vanguarda da transformação digital, guiando clientes através da plataforma TimmY. “Nossa missão é levar inovação e eficiência”, enfatizando o compromisso da empresa em promover resultados reais e dados tangíveis para seus clientes.

Com uma perspectiva otimista, Regi acredita firmemente na importância da diversidade e da inclusão para impulsionar o setor tecnológico para o futuro. “Abraçar a curiosidade e a coragem”, ela aconselha, destacando a importância da resiliência e do aprendizado contínuo. “Acredite no seu potencial, ouse desafiar-se”, conclui.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.