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“Racismo e intolerância religiosa”: líder de terreiro de Umbanda cita desafios da religião de matriz africana

“Eu já nasci líder do terreiro de matriz africana. Foi quando minha mãe engravidou de mim. Eu já era médium, dentro do ventre dela, minha avó materna e minha avó paterna tinham terreiro de Umbanda”. O relato é da Mãe Paloma de Oxóssi, yalorixá do Terreiro de Umbanda Pai Joaquim de Angola, no município de Vitória da Conquista, na Bahia.

Ao Eufêmea, ela compartilha suas vivências e desafios ao longo de seus 39 anos como zeladora de santo. É que desde os 15 anos, ela se dedica ao trabalho no terreiro e enfrenta diversos desafios.

Intolerância religiosa

Foto: Cortesia

O número de denúncias de intolerância religiosa no Brasil aumentou 106% em apenas um ano e passou de 583, em 2021, para 1,2 mil, em 2022, uma média de três por dia, de acordo com dados do Disque 100, serviço de disseminação de informações sobre direitos de grupos vulneráveis e de denúncias de violações de direitos humanos.

O Estado recordista foi São Paulo (270 denúncias), seguido por Rio de Janeiro (219), Bahia (172), Minas Gerais (94) e Rio Grande do Sul (51).

“É muito preconceito, é muito racismo, é muita intolerância religiosa que a gente sempre está demandando, debatendo com nossos códigos de direito penal da nossa religião de matriz africana”, afirma Mãe Paloma. A baiana ressalta que, apesar dos obstáculos, os orixás têm proporcionado justiça e apoio para lidar com essas situações.

Os dados apontam ainda que a maior parte das denúncias foram realizadas por praticantes de religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé. Seis em cada dez vítimas são mulheres. Só nos primeiros 20 dias de 2023, o Disque 100, canal para denúncias de violações de direitos humanos, registrou 58 ocorrências.

“Umbanda é amor”

Ao aconselhar aqueles que estão começando na Umbanda, Mãe Paloma destaca a importância da responsabilidade, respeito e dedicação às entidades e à religião de matriz africana. “A Umbanda é paz, amor, harmonia, tranquilidade e família”.

Ela reconhece ainda a transformação que a Umbanda trouxe para sua vida. “A Umbanda me transformou em uma pessoa persistente, focada e muito mais”, destaca.

No Dia Nacional da Umbanda, Mãe Paloma deixa uma mensagem de união.

“A mensagem hoje que eu deixo aqui para todos umbandistas: a umbanda brasileira, o povo de terreiros de matriz africana, é que a gente todos se dê a mão, se una, levante a nossa bandeira branca, vamos lutar com as forças de Xangô, Oxalá, meu pai Oxóssi”.

Além disso, Mãe Paloma destaca a importância de comemorar a data como um momento de celebração à diversidade, cultura e religiosidade. Ela conclui com um apelo para combater a intolerância religiosa: “E vamos combater a intolerância religiosa, que não podemos deixar acontecer.”

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.