Foto: Larissa Cabus
“Houve uma fase em que já estive mais magra e em que engordei mais. Quando eu estava mais magrinha, ouvi alguns colegas e parentes dizendo que eu estava magra demais. Agora, que não estou mais com o mesmo corpo, ouço que preciso emagrecer.”
A fala da alagoana Karla Silva e as recentes notícias envolvendo o peso da atriz Paolla Oliveira, bem como a quantidade de comida ingerida pela modelo Yasmin Brunet, demonstram que romper a bolha da pressão estética é um desafio maior do que se imagina, conforme explica a psicóloga e psicanalista Larissa Cabús.
Mecanismo para o controle de mulheres
A psicóloga destaca ainda que a pressão estética é tão intensa que funciona como um mecanismo de controle, impedindo as mulheres de exercerem sua autonomia. Ela observa que, com frequência, mulheres belíssimas chegam ao consultório com a autoestima destruída, seja por maridos, parentes, pela mídia e até por outras mulheres que alimentam o sistema de opressão.
“Esse culto à juventude e aos ideais de beleza inalcançáveis fazem, cada vez mais, com que mulheres se enquadrem, sendo capazes de se submeterem a procedimentos estéticos arriscando a própria vida”.
“Ninguém me pergunta se estou me sentindo bem”
Tendência essa que também não é difícil de encontrar. Apesar de deixar claro em entrevista que não se incomoda com seu peso, Karla Silva demonstra se incomodar com os comentários e não nega que faria uma cirurgia estética se pudesse.
“Fica nítida a cobrança do outro sobre o meu corpo, mas ninguém pergunta se a gente está satisfeita, se está se sentindo bem. É verdade que sinto vontade de, quando olho no espelho, fazer um ajuste ou outro em cirurgia porque me sentiria mais confortável.”
E neste ponto, a psicóloga Larissa Cabús também emite o alerta para a importância de analisar o motivo por trás desses desejos, de onde eles vêm e para onde se direcionam: “O que eu questiono, e que faço questão de pontuar no consultório e fora é: por quem você vai fazer isso? Somos carregados de pesos, palavras, expectativas de outros ao nosso redor desde antes de nascermos. São muitos anos de mistura de desejos dos outros e que não se sabe o que é de si e o que não é.”
Risco à saúde física e mental
Para além dos riscos físicos, a psicóloga aponta que se preocupa também com os impactos da pressão contínua à cultura estética sobre a saúde mental das mulheres e reforça a necessidade da vigilância constante, não ao peso alheio, mas sim, ao nosso bem estar.
“Essa pressão gera sintomas que pode levar ao adoecimento psíquico severo. Acredito que o melhor caminho para talvez escorregar menos nessas armadilhas que se impõe ao longo de nossa vida seja fazer uma boa análise”, conclui a especialista.