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Convite da OAB à palestrante que prega a submissão da mulher ao homem gera protesto em palestra

A palestra da influenciadora Cíntia Chagas na IV Conferência Nacional da Mulher Advogada, em Curitiba, na sexta-feira (15), causou indignação por parte de um grupo de advogadas que participavam do evento, incluindo algumas advogadas alagoanas presentes. O grupo protestou imediatamente após a entrada da influenciadora.

A palestrante foi convidada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

Mas por qual motivo tudo isso aconteceu?

  • Cíntia Chagas é especialista em oratória e foi convidada para fazer a palestra na Conferência. Ela não é advogada.

  • Ela é conhecida por declarações que reproduzem o machismo.

  • Em uma delas, criticou mulheres que bebem cerveja. Em outra, falou que “a mulher precisa se submeter ao homem.”

  • “Eu me refiro à ação de deixar o homem ser homem. Porque uma relação só se torna longeva e feliz quando a mulher assume o papel dela e o homem assume o papel dele”.

  • Nas redes sociais de Cíntia, há vários conteúdos criticando alguns comportamentos de mulheres, como, por exemplo, mulheres que dançam funk.

  • No evento, quando ela entrou, o grupo de mulheres vaiou a palestrante e gritou: “machista!”

  • A palestrante argumentou que um grupo minoritário estava impedindo todas as presentes de assistirem ao evento, rotulando as manifestações como “pseudodemocracia” e “pseudochororidade”.

  • Ela solicitou, durante o evento, que a organização tomasse as providências cabíveis e afirmou, nas redes sociais, que permitiu que as advogadas se manifestassem. Nas redes sociais da influenciadora, ela conta a sua versão.

A presidenta da Associação das Mulheres Advogadas (AMADA), a advogada alagoana Anne Caroline Fidelis, estava na conferência e explica que, assim que foi divulgada a informação de que a palestrante seria Cíntia Chagas, advogadas se uniram e elaboraram um abaixo-assinado repudiando a escolha do nome.

“Consideraram que se trata de uma pessoa que propaga nas redes sociais ideias de que a mulher deve ser submissa, que precisa de permissão do homem, ideias essas que vão totalmente contra o tema da Conferência, que tratava do protagonismo da mulher”, disse ao Eufêmea.

Anne explicou que no momento da palestra, algumas advogadas decidiram se manifestar no evento. A organização do evento chamou a polícia. “Pouco antes da palestra, ela fez um post ao lado do presidente da OAB, dizendo que ele tinha ‘palavra de homem’ e por isso a palestra ia acontecer”.

A presidenta da AMADA reforçou que a manifestação não era sobre a palestrante, “mas sobre a grande incoerência que é a manutenção de alguém que sedimenta o machismo ter espaço de fala em um evento que só existe porque lutamos contra o machismo”.

Outra revolta por parte das advogadas é que a palestrante foi remunerada com as anuidades pagas pelas profissionais. “A palestra sequer deveria estar naquele evento. Houve um ofício assinado por centenas de advogadas que se opunham à sua participação.”

“Se seguíssemos a liturgia do que ela prega, sequer estaríamos neste evento, pois estaríamos esperando permissão ou seguindo nossa rotina pelo horário dos homens”, concluiu.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.