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Elas decidiram assumir os cabelos grisalhos e mudaram sua relação consigo mesmas: “orgulho do que sou”

Desafiar os padrões de beleza, confrontar o medo do envelhecimento e fortalecer a autoestima tem sido um tabu constante para muitas mulheres quando se trata de assumir seus cabelos grisalhos. Enquanto os fios brancos são frequentemente celebrados e bem aceitos entre os homens, para as mulheres, a pressão social para escondê-los ainda persiste.

Demonstrando a maioria feminina que vive essa realidade, de acordo com a pesquisa realizada pela autora do livro “Sem Tinta” (2023), Camila Balthazar, em 54 salões de beleza, houve um aumento significativo de 74% no número de mulheres que deixaram de pintar o cabelo durante a pandemia.

A análise indica, no entanto, que há variações significativas de comportamento conforme as faixas etárias e regiões do país.

“Cabelo branco é muito estranho, diferente e meio rebelde”

Cristina antes de assumir os grisalhos

A psicóloga Cristina Sibaldo, de 57 anos, possui uma clínica online na qual ajuda mulheres com mais de 50 anos a desenvolver uma autoimagem positiva para que se tornem mais confiantes, felizes e realizadas.

Ela conta que decidiu assumir os fios brancos em fevereiro de 2022. Para Cristina, a ideia de deixar de pintar os cabelos não era uma ideia, mas era uma decisão de se conhecer melhor e trabalhar a aceitação da idade. “Sabia que não seria fácil, mas mesmo assim, eu queria dar esse passo”, completa.

‌Segundo ela, após a atitude, algumas pessoas afirmaram que logo a profissional mudaria a decisão, “porque o cabelo branco é muito estranho, diferente e meio rebelde”.

‌“Outras disseram que eu não iria suportar o cabelo de várias cores até chegar a ficar todo branco. Também ouvi que meu cabelo já estava muito lindo e eu poderia ficar mais velha com ele branco”, explica.

Cristina declara que ao decidir fazer a transição e acolher o cabelo natural, não tinha ideia de como seria a transformação e, por isso, começou a seguir mulheres com cabelos grisalhos para se inspirar.

“Essa atitude foi fundamental, pois fui me apaixonando e me reconhecendo nelas, o que me fez relaxar e viver um dia de cada vez, com a certeza de que se elas conseguiram, eu também chegaria lá”, destaca.

Assumindo os fios brancos

A profissional relata que aos 23 anos já possuía alguns fios brancos. Logo, iniciou o processo de se adequar ao padrão. “Já comecei a pintar e mantê-los longe dessa ameaça, afinal, deixar os cabelos brancos era sinal de desleixo e eu não queria ser apontada por isso”, explica.

Foi apenas aos 54 anos que resolveu assumir os cabelos grisalhos.

“Eu estava pintando a cada 15 dias no máximo para não aparecerem os brancos por baixo dos loiros. Além das tintas, eu fazia selagem para mantê-los lisos e brilhantes. Fazendo isso, eu achava que me amava, quando na verdade eu me escondia de mim mesma. Hoje, com eles naturais, sou livre para molhá-los quando quiser e isso me trouxe mais liberdade”.

Cristina reforça que hoje encontrou o verdadeiro amor por eles como são e não pelo que ela queria que fossem. “Essa atitude ajudou a me reconhecer como uma mulher madura, linda e capaz de ser feliz aos 57 anos”.

“Mulher tem prazo de validade”

Foto: Cortesia ao Eufêmea

Para a jornalista Dayane Laet, de 46 anos, a decisão de manter o tom natural do cabelo ocorreu ao perceber que os fios estavam sofrendo muito com luzes e químicas, na tentativa de mantê-los “jovens”. Ela chegou a desenvolver uma reação alérgica no couro cabeludo devido aos procedimentos.

Ela afirma que ao começar a deixá-los naturais, ouviu de mulheres que estava sendo desleixada, que iria envelhecer e afastar possíveis ‘crushes’. Mesmo assim, manteve a decisão em prol da saúde. “Quem tinha que se afastar, se afastou mesmo. E tudo bem, porque a gente faz escolhas por nós mesmas, e não pelos outros”.

“Vivemos em uma sociedade machista em que a mulher tem um prazo de validade. Entre os homens, ainda sou olhada com desconfiança, porque mesmo com mais da metade dos cabelos brancos, tenho uma aparência relativamente jovem”, destaca.

De acordo com a comunicadora, usar produtos específicos para cabelos grisalhos e cortá-los quando necessário são as únicas rotinas que mantém hoje.

“Nada de loucuras para aparentar uma idade que não tenho. Isso é ilusão. Eu sou muito mais bonita agora, sendo eu mesma. Cuido da minha pele, do meu corpo, mas não pensando em voltar no tempo, e sim em envelhecer com saúde. Afinal, estamos envelhecendo”, diz.

Assumir o grisalho

Laet conta que convive com os fios brancos desde os 15 anos de idade, mas a decisão de assumi-los aconteceu muito tempo depois. Aos 40 anos, optou por cortar os cabelos bem curtos para assumir de vez o grisalho, passou a pesquisar nas redes sociais e encontrou alguns perfis que divulgavam mulheres que haviam tomado a mesma decisão.

“Também recebi muitas mensagens comentando minha coragem, dizendo que queriam fazer a mesma coisa, mas não se viam sem a pintura. E tudo bem, sabe? Temos que fazer as coisas pensando no nosso bem-estar. Me sinto bem ao natural, mas não critico quem segue seu caminho colorida. Acho que a sociedade já nos impõe muitos pesos, precisamos aprender a não ser mais um fardo sobre outras mulheres e ser mais acolhedoras entre nós”, expõe.

Sobre sua relação com o cabelo, Dayane menciona que, inicialmente, raspou e manteve cortado na máquina durante a pandemia. “Hoje estou cuidando com shampoo apropriado, condicionador e hidratação com colágeno, o que nos falta na fase madura e torna os fios rebeldes, independente do tipo. Corto quando preciso, e só”.

‌“Com a maturidade a gente entende que não é uma coisa só. Meu cabelo não me define, ele é parte da mulher que eu me tornei. Eu sinto muito orgulho de ser quem eu sou hoje”, conclui.

Maria Luiza Lúcio

Maria Luiza Lúcio

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