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“Gosto do que vejo: sou bonita e sexy”: como Cristina Sampaio tem lidado com o envelhecimento

“Estar próxima aos 60, que farei em novembro de 2024, me faz pensar nas estratégias que tenho que organizar para seguir meu caminho tendo integridade com meu espaço de criação, de liberdade, de vida, garantidos. Essa condição exige investimentos espirituais e materiais. E exige também renúncias e muita aceitação”. Essa fala é da jornalista alagoana Cristina Sampaio, 59 anos.

Cristina é uma das mulheres entrevistadas para a campanha “Cada corpo tem sua história”, uma parceria entre o Eufêmea e a marca Alma de Sereia. A campanha tem como objetivo contar as experiências particulares de mulheres com seus corpos e o processo até a autoaceitação e o amor próprio. Além das entrevistas para o portal de notícias, o Eufêmea também entrevistou mulheres para vídeos que foram publicados nas redes sociais.

Foto: Arquivo Pessoal

Sampaio, uma mulher multifacetada, já trilhou caminhos como modelo, dançarina e é mãe de dois filhos. Ela se define como uma mulher de paixões. Sua jornada é um testemunho da capacidade de se reinventar, mostrando que não há limites de idade para conquistar novos horizontes e realizar sonhos.

Preciso ressaltar que encontrei amor após os 50 anos, depois de viver uma fase turbulenta. Aos 45 fiquei desempregada e precisei me reinventar. Vendi brigadeiros e virei concurseira. Aos 57 assumi meu posto de funcionária pública concursada como assessora de comunicação na CBTU“, conta.

“Não atendia aos padrões de beleza”

Foto: Arquivo Pessoal

Ao Eufêmea, ela relata que desde muito cedo não gostava e não aceitava as regras impostas a ela por causa do seu gênero. Na escola, sofreu preconceito por não atender aos padrões de beleza e à conduta dos anos 70/80, no Sudeste do País, seja pelo sotaque ou pelas características.

“A beleza naquela época e naquele lugar que eu vivia, estava ligada a cabelos lisos, franja, voz doce e delicada, pele branca, e corpo pequeno e delicado”, relembra.

Idoso não é sinônimo de remédios

Foto: Arquivo Pessoal

Hoje, Cristina afirma que envelhecer não é fácil, especialmente sendo mulher. No entanto, para ela, é possível percorrer um caminho significativo desafiando o etarismo, afirmando sua identidade como indivíduo e, ao mesmo tempo, buscando compreender as mudanças que ocorrem e minimizar os impactos causados pelos anos de vida.

“Envelhecer exige programação antecipada sobre que tipo de idoso você quer ser. Eu decidi que serei uma pessoa que vai seguir autônoma, íntegra, atuante e que possa viajar muito, conhecendo as belezas das mais diversas culturas”, diz.

Cristina Sampaio

A jornalista reforça que idoso não é sinônimo de remédios. “Não vou usar minha pouca aposentadoria para comprar remédios”, avisa.

Ela diz que essa cultura de consumo em que vivemos nos faz considerar natural as matérias jornalísticas que mostram idosos que usam todo o salário mínimo em medicamentos, como se isso fosse aceitável e comum. “Este é um desvio imposto que beneficia diretamente a indústria farmacêutica e a indústria das doenças”, comenta.

Cristina diz que faz a sua parte: é ativa, cuida da saúde, alimentação, relações de afeto e de empatia com os mais necessitados. O resto não está sob o domínio dela. “E isso não me dá medo. Eu me sinto, antes de tudo, uma mulher privilegiada sob todos os aspectos da vida, porque sei quem sou, o que quero, e o que represento no meu entorno. Tenho consciência das minhas escolhas e sei o que elas trazem pra mim. Não permito que ninguém diga ou faça o que cabe a mim fazer”.

Caminho da aceitação…

Foto: Arquivo Pessoal

Segundo ela, o caminho da aceitação e do amor-próprio é árduo, é diário, é contraditório mas é libertador, grandioso, profundo e lindo. “Para alcançar exige de nós, antes de tudo, coragem. Sem coragem, vegetamos e passamos por essa jornada sem fazer o menor sentido”.

Sobre a pressão que a sociedade exerce para que a mulher não envelheça, ela comenta que essa questão não é ‘nada fácil’ e que ainda não está resolvida dentro dela. “Hoje, tenho consciência de cada movimento que a sociedade de consumo faz para aprisionar as mulheres na ditadura da aparência, da superficialidade e da futilidade”, diz.

No entanto, ela afirma que apenas a consciência não é suficiente para que nos libertemos dessa escravidão. “Então, para que eu siga meu caminho saudável física e mentalmente, eu escolho algumas batalhas de mudança e as realizo. Outras deixo reservadas para os próximos passos. E outras ainda não sei o que farei, mas percebo cada movimento interno quando elas surgem. Procuro me policiar para não repetir comentários que reforcem essa loucura de buscar perpetuamente a juventude para as mulheres”.

E é nesse caminho que Cristina está: olhando-se no espelho e gostando do que vê. “Quero continuar assim”.

“É o que me interessa. Eu gostar de mim. O resto vem junto logo após essa aceitação. Me acho bonita, sexy, gostosa, maravilhosa. Sigo como uma menina danadinha, peralta, insubordinada e ousada. Sou uma pessoa inteira”, conclui.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.