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Transição capilar é um processo interno: alagoanas relatam processo de descoberta e mudança na autoestima

Foto: Internet

Nas últimas duas décadas, tem havido um aumento significativo no número de mulheres que optaram por abraçar seus cabelos naturais, abandonando o alisamento químico e embarcando na jornada da transição capilar. Apesar de esse tema estar se tornando mais comum e aceito, ainda é uma questão que está intrinsecamente ligada ao empoderamento feminino. Por isso, neste mês dedicado às mulheres, o Eufêmea relembra e traz à tona essa importante discussão.

“Não me identificava mais com o cabelo liso”

Foto: Arquivo Pessoal

Com clientes em Arapiraca e Maceió, a barbeira visagista Arianna Costa, de 22 anos, costuma atender pessoas que já passaram ou estão passando pela transição capilar. Ela mesma enfrentou esse processo, o que a fez compreender melhor as dificuldades envolvidas.

Ela relata que durante a infância e adolescência enfrentou uma relação conturbada com seu próprio cabelo, pois não via beleza nele. Era comum as pessoas apontarem a textura e o volume como defeitos.

“Então, eu cresci acreditando nisso: que para ser bonita, aceita e me sentir mais incluída nos lugares, precisava ter os cabelos alinhados. Aos 11 anos, comecei a alisar o cabelo. Minha tia, era cabeleireira, e eu pedi para fazer uma progressiva para ‘redução de volume'”, explica.

O processo de alisamento perdurou por quase sete anos, porém, aos poucos, a jovem percebeu que não era mais o que desejava para sua rotina.

“Não me identificava mais com aquele cabelo liso no espelho. Foi quando percebi que não se tratava apenas do cabelo, mas também compreendi que entrei nesse processo devido à pressão social para se adequar a um padrão estético, influenciado pelas opiniões de outras pessoas”.

Arianna comenta que, ao parar e refletir sobre os motivos por trás dos procedimentos capilares frequentes, percebeu que seu cabelo estava totalmente fragilizado. “Percebi que não fazia mais sentido para mim e decidi dar uma chance ao meu cabelo natural”.

Se amar de maneiras diferentes

Atualmente, a visagista afirma estar passando por uma transição capilar diferente: do cabelo curto para o longo.

“Particularmente, estou achando tão difícil quanto a transição de texturas, mas, retornando a essa, eu não fazia ideia de como meu cabelo natural era. Sabia que tinha muito cabelo, mas não fazia ideia da textura e curvatura que ele teria. Além disso, não conhecia produtos que ajudassem na definição”, diz.

Ela admite que desistiu e retornou ao processo de transição capilar algumas vezes, pois achava difícil se acostumar com o cabelo sem nenhum volume e, de repente, ter uma raiz totalmente diferente.

Para a profissional, o processo acompanhou um momento de muitas descobertas pessoais. “Temos essa questão de querer estar sempre bonita. Não queremos passar por essa fase em que nos sentimos estranhas, onde não sabemos cuidar do próprio cabelo, mas foi uma fase extremamente importante para tirar essa pressão de estar bonita o tempo todo”.

“Está tudo bem eu aceitar e respeitar meus processos e enxergar minhas diferentes versões. Durante a maior parte da minha vida, eu me cobrava demais, e precisei dar uma ‘segurada’ porque meu cabelo não ia crescer do dia para a noite. Foi um processo, e conforme fui vivendo, fui aprendendo a me amar de maneiras diferentes”, comenta.

Experiência com clientes

Apesar de ser barbeira e a grande maioria de clientes serem homens, devido à sua especialização em cortes de cabelo curto, muitas mulheres têm procurado Arianna em busca do “corte ideal” para passar pela transição, buscando um corte que facilite o processo.

Arianna afirma que comentários como “nunca me vi de cabelo natural”, “alisava meu cabelo desde muito pequena” e “sempre tive muita dificuldade em cuidar dele na adolescência” são muito comuns entre essas mulheres.

“Não era para mim porque dava muito trabalho”

Foto: Arquivo Pessoal

Já a administradora Julyanna Pereira, de 39 anos, relata que começou a alisar os cabelos aos 12 anos, devido ao bullying frequente que sofria na escola onde estudava. “Me sentia feia”, diz ela.

A profissional conta que a motivação para iniciar o processo de transição capilar foi ver outras mulheres que estavam passando pelo mesmo e observar cabelos naturais.

“Comecei a ver mulheres lindas, cacheadas, e um belo dia encontrei Tamires, proprietária da Assessoria dos Cachos em Maceió, e disse a ela que achava lindo o cabelo dela, mas não era para mim porque dava muito trabalho”.

Julyanna relata que, posteriormente, descobriu que Tamires possuía três filhos pequenos e frequentava bastante a praia. “Fiquei com aquilo na cabeça. Um ano depois, tive uma crise de estresse e de identidade ao mesmo tempo. Percebi que deveria ser eu mesma, fiz logo o corte big chop”.

Segundo a administradora, suas inspirações para a mudança foram Tamires e o próprio noivo. “Ele foi o único que me apoiou de verdade no meu círculo de convívio”, diz.

Mudança na autoestima

Após a rápida transição, Julyanna começou a se ver e a se sentir de outra forma. “Me deu mais força, energia, vontade de ser eu mesma, poderosa”, afirma.

“Sou mais vaidosa agora, gosto de me olhar no espelho, gosto do que vejo, sinto que cada vez mais minha identidade aparece e gosto do que está acontecendo. Cada vez mais só me empodera”, diz.

Ela conta ainda que após postar o resultado do novo corte, muitas mulheres entraram em contato e afirmaram admirar a coragem dela.

“Disseram que queriam ser assim, que os maridos não gostavam, por isso não cortavam. Algumas delas estão entrando na transição depois disso, outras ficam apenas sonhando. Mas desejo a todas que possam viver suas identidades com liberdade e alegria”, finaliza.

Maria Luiza Lúcio

Maria Luiza Lúcio

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