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“Um par de seios não define uma mulher”: como Gerlane dos Santos lidou com o corpo após a mastectomia

“A experiência da mastectomia me fez perceber que somos muito maiores do que apenas um par de seios e que isso não define uma mulher. O mais importante está em nossos pensamentos, sentimentos e na maneira como nos comportamos diante de cada situação. Isso sim é mais relevante do que apenas um par de seios”, disse Gerlane dos Santos Nemezio, 44 anos, assistente social e estudante de psicologia.

Gerlane é uma das mulheres entrevistadas para a campanha do Eufêmea em parceria com a marca Alma de Sereia. A campanha “Cada corpo tem sua história” tem o objetivo de destacar e honrar as jornadas individuais das mulheres em relação à autoaceitação e ao amor-próprio. Além das mulheres entrevistadas para o portal de notícias, o Eufêmea também entrevistou mulheres para vídeos que serão publicados nas redes sociais.

Aceitação é a verdadeira felicidade

Diagnosticada com câncer de mama em 2019, a estudante de psicologia compartilhou que sua jornada rumo à autoaceitação foi marcada pela necessidade de enfrentar a mastectomia bilateral. Para Gerlane, o procedimento não foi uma escolha, mas uma necessidade devido ao histórico familiar de câncer.

“No meu caso, o histórico de câncer é muito forte. Tenho 10 casos de câncer na família, já perdi duas tias, uma prima e uma irmã. Então não foi uma decisão, foi uma necessidade,” revela Gerlane.

Ao abordar a autoestima corporal, Gerlane enfatizou a importância de valorizar princípios e valores em vez de padrões de beleza impostos pela sociedade. Para ela, a verdadeira felicidade reside na aceitação de si mesma, independentemente de tentar se encaixar nos estereótipos corporais.

“Eu acredito que cada pessoa deve buscar a felicidade dentro daquilo que considera mais importante. Padrões não existem; o que realmente importa é encontrarmos a felicidade com aquilo que temos de mais precioso dentro de nós, que são nossos valores e princípios.”

Rede de apoio

De acordo com Gerlane, ter uma rede de apoio foi essencial no processo de aceitação do corpo após a mastectomia. “O mais significativo foi a opinião e a aceitação do meu esposo. Isso contribui muito quando temos um parceiro que segura nossa mão e que está realmente presente pelo amor, não pela estética. É importante ter ao lado alguém que deseje nossa cura, nosso bem-estar, e não apenas o físico.”

A rede de apoio dela não foi somente a família, mas também amigos e a sociedade como um todo. “Por ter sido um fato inusitado, eu e minha irmã ao mesmo tempo, muitas pessoas se sensibilizaram muito e vieram prestar solidariedade”, continua.

Ela aborda os desconfortos físicos que podem surgir após a mastectomia, mas destaca que, diante da dádiva da cura, esses desconfortos se tornam insignificantes. “Com relação à estética, hoje contamos com a possibilidade de fazer a reconstrução mamária e colocar silicone, e as mamas muitas vezes ficam até mais bonitas do que eram”, diz Gerlane.

Coragem e determinação

A assistente social avalia que a coragem e determinação foram importantes para ter consciência de que sua cura estava acima de tudo. Ela compartilhou que antes da intervenção cirúrgica, já estava ciente da necessidade e importância de remover as mamas para preservar sua saúde diante do câncer.

“A minha cura estava acima de tudo. A mama é importante para a mulher, mas diante de um câncer, isso se tornou muito insignificante. Se tornou muito pequeno com relação à vontade de ficar curada para que eu pudesse ver o meu filho crescer, que na época tinha um ano e oito meses. Eu estava disposta a fazer o que fosse preciso para ter a minha cura”, expõe Gerlane.

A alagoana reconhece que lidar com uma doença grave como o câncer é desafiador, não apenas para a diagnosticada, mas para todo o círculo próximo. Ela destaca a falta de preparo emocional da maioria das pessoas ao se aproximarem de alguém diagnosticado com câncer, mas ressalta sua própria fé e determinação como fontes fundamentais de apoio durante o processo.

“Todas as pessoas, a grande maioria daquelas que se aproximavam de mim, estavam bastante abaladas, mostravam-se muito afetadas, mas muitas vezes eu pude confortá-las, porque há pessoas que realmente passam por um processo de sofrimento e não estão preparadas.”

Ajuda psicológica e espiritual

Ao oferecer conselhos para mulheres que enfrentam experiências semelhantes, Gerlane destaca a importância de eliminar pensamentos negativos que possam surgir, reconhecendo o impacto direto que esses pensamentos podem ter em sentimentos e comportamentos. Ela enfatiza a busca por ajuda psicológica e espiritual como recursos valiosos.

“Tentem eliminar todo o pensamento negativo que possa vir. Porque o pensamento vai gerar um sentimento e isso vai refletir nos nossos comportamentos. E se for o caso, se vê que precisa, procure uma ajuda psicológica, uma ajuda espiritual, que faz toda a diferença”, conclui.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.