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“Ele disse que não tinha nada a perder”, diz advogada ameaçada por ex-marido de cliente em Fórum

Foto: Raíssa França/Eufêmea

“Naquele momento em que ele estava me ameaçando, passou uma advogada, e eu a puxei, sem nem conhecê-la, e disse no ouvido dela: Por favor, me ajude!”. A fala é da advogada alagoana Sandra Gomes, que foi ameaçada pelo ex-marido de uma cliente, que é parte em um processo de violência doméstica. O ex-marido, conforme apurou a reportagem, é um empresário de Maceió. Sandra foi ameaçada por ele dentro do Fórum, situado no bairro do Barro Duro, na capital.

Em uma entrevista exclusiva ao Eufêmea, a advogada criminalista relatou o que aconteceu e disse que precisou sair escoltada pela polícia do local, já que estava temendo por sua vida.

“Eu estava conversando com alguns clientes na lanchonete que seriam submetidos a uma audiência, quando o homem chegou e ocupou uma mesa próxima. Eu notei que ele estava me encarando, até que se aproximou e disse que gostaria de falar comigo. Expliquei que iria até à Vara onde ocorreria a audiência dos outros clientes e voltaria”, contou.

Sandra comentou que achou a atitude do ex-esposo da cliente estranha, já que não era o dia da audiência do caso dele. “Quando estava voltando, fui abordada por ele, em um local com pouca movimentação. Ele se aproximou, deixou o corpo bem próximo ao meu e perguntou qual era o meu preço para encerrar o processo. Me chamou de vagabunda e disse que não gostava de advogados”.

Além dos insultos, a advogada afirmou que ele disse que a profissional tinha destruído a vida dele e a ameaçou.

“Ele disse que tinha perdido a família dele, o casamento. Chegou a colocar a aliança no meu braço e ficou apertando meu braço. Disse que eu o fiz perder tudo e que ele não tinha mais nada a perder, se ele não resolvesse daquele jeito (via dinheiro), resolveria de outra maneira”.

Sandra relatou que percebeu o comportamento dele muito nervoso e não sabia se ele estava armado. O homem continuou a proferir insultos e ameaças e chegou a colocar a mão no ombro da profissional, após amassar uma garrafa e dizer que gostaria que o objeto fosse o pescoço da ex-esposa dele, cliente da advogada.

Nesse momento, outra advogada passou pelo local e Sandra resolveu abordá-la como se a conhecesse. “Eu dei um beijo na bochecha dela e disse: ‘Por favor, me ajuda’. Ela percebeu e ficou parada ao meu lado. Até que ele saiu”.

Após o acontecimento, a advogada tinha uma audiência presencial, mas entrou em contato com a AMADA via mensagem, que acionou a OAB Alagoas. Além disso, a polícia também foi ao local para fazer a segurança da profissional, que precisou sair escoltada. O Conselho Estadual de Segurança Pública (Conseg) foi acionado para garantir a integridade física da advogada.

“Fiz o boletim de ocorrência porque não sei se ele estava me seguindo, se foi uma coincidência ele estar lá naquele dia. Precisamos protocolar os pedidos para as medidas cautelares de afastamento. Eu não sabia do que ele era capaz”, ressaltou.

Segurança da mulher advogada

Sandra desabafou, e em meio às lágrimas, disse que demorou a falar porque não havia uma garantia de segurança para ela. No entanto, ela diz que o principal objetivo é trazer a reflexão sobre como o exercício da profissão para mulheres advogadas está vulnerável, sobretudo quando falamos de profissionais pretas.

“As pessoas se sentem no direito de nos invadir e violentar. Não que isso tenha acontecido em razão de ser uma mulher preta, mas claro que meu lugar é mais vulnerável”.

A advogada acrescentou que é necessário que as profissionais tenham mais segurança no exercício da profissão.

Para utilizar as imagens no processo, a OAB e a AMADA enviaram um ofício ao Fórum solicitando a liberação das imagens das câmeras de videomonitoramento. “Até o momento, não recebemos as imagens que vão ajudar a identificar e entender a dinâmica dele: se ele já estava lá, se estava me seguindo”.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.