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Líder de terreiro denuncia motorista de aplicativo por intolerância religiosa; homem foi banido da plataforma

Líder de um terreiro de Candomblé em João Pessoa, na Paraíba, a mãe de santo Lúcia Oliveira denunciou ter sido alvo de intolerância religiosa por um motorista de aplicativo no dia 25 de março. Ela solicitou uma corrida saindo do terreiro, mas o motorista enviou uma mensagem com expressões religiosas e cancelou a corrida.

O motorista, identificado como Leonardo, respondeu através do aplicativo: “Sangue de Cristo tem poder, quem vai é outro kkkkk tô fora”. Logo após, a corrida foi cancelada.

Ao Eufêmea, ela expressou sua preocupação com o caso e a importância de tomar medidas contra atitudes discriminatórias. Já o motorista teve a conta banida do aplicativo de transportes, que, em nota, afirmou não tolerar qualquer forma de discriminação e encorajar a denúncia.

Lúcia comentou que, apesar de o motorista ter sido banido do aplicativo, ela não fica feliz. “Jamais teria a índole de ficar feliz com uma situação dessas, até porque ele pode ser um pai de família. Só que tomei essa atitude como exemplo para os outros motoristas, pois não foi a primeira vez; mas desta vez ele fez essa frase infeliz, discriminando a minha fé”, declarou Oliveira.

Ela explicou que o caso não foi um incidente isolado, mas sim o terceiro episódio de intolerância religiosa que enfrentou em viagens de aplicativo.

Intolerância religiosa

Mãe Lúcia ressaltou que a intolerância religiosa é um crime previsto na lei e que não poderia deixar de tomar uma atitude diante dessa situação. Ela destacou que, além dela, outros praticantes de religiões de matriz africana também enfrentam discriminação, seja em viagens de aplicativo ou em outros contextos sociais.

A Lei prevê que é crime “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional” e que “serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.

“Não acontece só comigo, mas também com os outros filhos de santo e até clientes que vêm se cuidar, quando os motoristas veem na plataforma que é em terreiro e já cancelam. Tudo bem, ninguém é obrigado, é até bom que cancele para que a gente não vá em uma corrida com uma pessoa desse nível. Mas não se pode discriminar e cometer intolerância religiosa”, explica a mãe de santo.

“Já tomei pancada de bíblia nas costas”

Ao longo da entrevista, Oliveira compartilhou outras experiências de intolerância religiosa que enfrentou, incluindo agressões verbais e até mesmo o apedrejamento de sua casa. Ela enfatizou a necessidade de conscientização e educação para combater esses preconceitos enraizados na sociedade. “Eu não acredito que uma pessoa que segue Jesus de verdade faça uma situação dessas”, destacou.

“Eu já tomei uma pancada de bíblia pelas costas, eu estava vestida paramentada, em Campina Grande, em um evento religioso, mas não fiz o BO porque era uma senhorinha então eu fiquei com pena. Ela proferiu coisas terríveis e eu deixei passar, mas dessa vez não porque já estamos saturados de sofrer”, desabafa.

Ela relatou como já teve que lidar com a presença de evangélicos em sua casa, incomodando-a com comentários sobre planos divinos.

“Eu não chamo a polícia, mas eu converso e explico, falo sobre a lei, que eles não podem fazer isso, mas não fazem mais porque sabem que aqui tem uma mãe de santo que é empoderada politicamente”, enfatizou.

Ela destacou sua determinação em enfrentar a intolerância religiosa e proteger sua comunidade. “É muita falta de amor, Cristo não pregou isso que eles estão fazendo, o nosso Deus não manda ninguém ir pra cima de outro. É muito complicada a vida de uma mãe de santo no Brasil”, conclui.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas. Colaboradora do portal Eufêmea.