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Mãe e filha com autismo usam redes sociais para desmistificar preconceitos sobre o TEA

Tainã Feitosa de Matos, pedagoga residente na cidade do Crato, no Cariri cearense, tem utilizado as redes sociais como meio de promover a conscientização e desmitificação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com 29 anos de idade, Tainã descobriu ser autista após o diagnóstico de sua filha, Nicole, de 6 anos.

Dois anos após o diagnóstico, Tainã compartilhou que está no nível 1 do espectro autista, enquanto sua filha está no nível 2. Segundo relatou ao Eufêmea, em sua família, oito pessoas, entre crianças e adultos, são autistas.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por um desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo incluir um repertório restrito de interesses e atividades.

Tainã contou que enfrentou vários desafios ainda na infância – desde o bullying na escola até as dificuldades de compreender suas próprias características autistas sem um diagnóstico -. Ela destaca a importância de criar um ambiente de aceitação e compreensão para Nicole, permitindo que ela cresça sem se envergonhar.

“Eu, com 14 anos, fui diagnosticada com TDAH [Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade], na época eu não sabia que era autismo. Muitas mulheres, assim como eu, que foram diagnosticadas tardiamente, já tinham diagnóstico de TDAH, ansiedade ou borderline. Até que, no fim, elas descobriram que algumas dessas coisas eram características do autismo”, explica a pedagoga.

Ela disse que tem pensado em todo o suporte para a filha, garantindo que ela receba os cuidados necessários desde cedo, como as sessões de fisioterapia para melhorar sua motricidade.

“De certa forma, sinto um grande alívio em saber que sou autista e que ela também é. Vou lutar ao máximo para que ela não passe pelas mesmas dificuldades que eu passei”, expressou Tainã.

Diagnóstico tardio

Tainã compartilhou sobre suas experiências pessoais e os desafios enfrentados tanto por ela quanto por Nicole. “Minha filha e eu apresentamos muita estereotipia. Praticamos muito flapping (abanar as mãos na altura dos ombros). Hoje em dia, em meu caso, é mais tranquilo, só ocorre quando estou bastante ansiosa. No entanto, com a Nicole, isso acontece com mais frequência”, compartilha Tainã.

Ela descreve como, na infância, enfrentou momentos difíceis, como as crises de choro inexplicáveis e a dificuldade em manter contato visual em fotos, características que agora reconhece como parte do espectro autista, mas que na época eram mal compreendidas.

“Minha mãe conta que, quando chegava a um certo horário, no final da tarde, eu começava a chorar sem parar e ela não sabia o porquê. Todas as minhas fotos de infância têm uma expressão triste, porque eu odiava tirar fotos. Estava sempre olhando para outros lugares, porque não conseguia olhar diretamente para a câmera. A Nicole também enfrentava a mesma dificuldade em olhar diretamente para a câmera. Ela faz as mesmas coisas que eu e nunca suspeitei que isso pudesse ser autismo”, desabafa.

Tainã destaca os estereótipos prejudiciais que ainda cercam o autismo, como a noção errônea de que todos os autistas têm altas habilidades e superdotação, ou o equívoco de que não gostam de contato físico. Ela ressalta a importância de educar as pessoas sobre a diversidade dentro do espectro autista e desafiar esses estereótipos.

“Acho que cada vez mais tem que aparecer pessoas como eu, como a minha filha, que dão realmente a cara tapa nas redes sociais para realmente divulgar”, afirma a mãe.

“Muito bonita para ser autista”

Ela e Nicole compartilham suas experiências ao educar o público sobre o autismo. Ao usar as redes sociais como plataforma para conscientização, Tainã diz que espera contribuir para um mundo mais inclusivo e compreensivo para todas as pessoas no espectro autista.

“Já ouvi dizer que minha filha é muito bonita para ser autista. Também já ouvi que ‘além de ser mulher, ainda é autista’. Comecei a ouvir coisas bizarras, então comecei a pensar em uma maneira de reverter isso. Eu queria mostrar ao mundo que ela não é assim”, relata a mãe, que hoje já conta com mais de mil seguidores no Instagram.

“Temos muitas pessoas que chegam, que querem escutar, querem entender sobre isso, e eu tenho o maior prazer do mundo em explicar”, compartilha Tainã. Ela destaca a importância de estar aberta para responder perguntas e dissipar equívocos sobre o autismo, contribuindo para uma mudança cultural positiva na sociedade.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas. Colaboradora do portal Eufêmea.