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Pressão estética e saúde da mulher: especialistas alertam sobre transtornos alimentares e como identificá-los

Nos últimos anos, a exposição de influenciadores e artistas, juntamente com o aumento do acesso às redes sociais, como o TikTok, está trazendo à tona tendências que haviam sido interrompidas, como a magreza excessiva. A vida saudável e a alimentação restrita muitas vezes exibidas são mascaradas por procedimentos cirúrgicos. Dentro desses espaços, a busca por esses corpos deixa marcas profundas, principalmente na saúde física e mental das mulheres, gerando gatilhos, como os transtornos alimentares.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Psiquiatria, em 2022, cerca de 70 milhões de pessoas no mundo foram afetadas por algum transtorno alimentar, incluindo anorexia, bulimia, compulsão alimentar e outros. A informação também indica que as mulheres são as mais afetadas por esses distúrbios.

Nutricionista afirma que causa é multifatorial

Nutricionista Isabela Peixoto

A nutricionista Isabela Peixoto esclarece que os transtornos alimentares são doenças psiquiátricas que se caracterizam por padrões de comportamentos alimentares inadequados. Por isso, segundo ela, não há uma única etiologia responsável.

“Acredita-se no modelo multifatorial, com participação de componentes biológicos, genéticos, psicológicos, socioculturais e familiares”, diz.

Para Isabela, é possível pensar em alguns gatilhos que afloram esses transtornos, mas que não podem ser classificados com uma causa.

“Como exemplo, vemos a pressão cultural por manter-se magro, seja apenas para atender a um padrão estético ou pela exigência de certas profissões. A repercussão de corpos e vidas padronizadas nas redes sociais gera um altíssimo grau de comparação, o que pode levar a uma baixa autoestima e ao aumento de indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada”, destaca.

Consequências físicas

Com relação a saúde física dos pacientes, a nutricionista esclarece que os distúrbios alimentares podem causar desnutrição, alteração da microbiota intestinal, má absorção dos nutrientes, desenvolvimento de refluxo e/ou gastrite, mudanças significativas no padrão de evacuação, diminuição da imunidade e todas as consequências que se sucedem.

Ela cita como exemplos o desenvolvimento de úlceras em consequência do refluxo, alteração dos níveis de concentração, memória e disposição em consequência da desnutrição e o desenvolvimento de osteoporose/osteopenia devido a má absorção de nutrientes. “Por isso, é muito importante estarmos atentos para que o tratamento desse indivíduo inicie o mais rápido possível”.

“Lembrando que saúde é bio-psico-social, tem-se que, para além do sofrimento mental que esse indivíduo possui, há o isolamento social e alteração no funcionamento do corpo”, comenta.

“É muito importante não se intrometer no corpo alheio”

Peixoto afirma que, no início, os sinais dos transtornos podem passar despercebidos e, muitas vezes, são encorajados por serem vistos como autocuidado ou através do enaltecimento do físico daquela pessoa.

Segundo ela, no entanto, existem alguns sinais de alerta: a percepção que o indivíduo tem de si mesmo passa a não coincidir com o que é visto, aumento de falas autodepreciativas, preocupação exagerada com o que vai comer e como vai gastar aquela caloria, isolamento social e uma oscilação frequente de humor.

“Inclusive, aproveito a brecha para enfatizar que ao elogiar o emagrecimento de uma pessoa, principalmente sem que você saiba a trajetória, você pode estar incentivando um comportamento de risco. É muito importante não se intrometer no corpo alheio”, destaca.

Qual gênero e faixa etária são mais afetados?

“Sem adentrar em qual tipo de transtorno alimentar estamos pensando, fica nítido que é muito mais comum em mulheres do que em homens, apesar de ocorrer em ambos os sexos”, diz a profissional.

Para Isabela, isso é explicado pelo excesso de cobrança em relação à aparência e à alimentação, que recai majoritariamente sobre as mulheres. Além disso, ela afirma que a faixa etária mais acometida varia dos 6 aos 21 anos. “Isso deixa claro como a infância, a adolescência e o início da idade adulta são fases de atenção”.

“Porém, quando vamos fragmentando para ver dentro de cada transtorno, observamos que ao falar da vigorexia – um problema psicológico que faz com que os pacientes se enxerguem fracos e sem músculos, quando são fortes e musculosos -, e apenas dela, a taxa de homens afetados é maior do que a de mulheres”, explica.

Psicóloga fala sobre causas e consequências dos transtornos alimentares

Psicóloga Elisabeth Freitas.

De acordo com a psicóloga Elisabeth Freitas, a causa dos transtornos alimentares é multifatorial, ou seja, é possível considerar que existem influências genéticas, ambientais, sociais, culturais e psicológicas que podem fazer com que uma pessoa desenvolva um transtorno alimentar.

Como exemplos desses fatores, ela menciona possíveis eventos traumáticos relacionados à alimentação na infância e adolescência, pessoas com maior predisposição à ansiedade e ao perfeccionismo, e também com histórico familiar desses transtornos.

A profissional afirma que os pacientes podem desenvolver uma relação distorcida com sua autoimagem, autoestima e o corpo.

“Isso faz com que as ideias de culpa e vergonha relacionadas à alimentação interfiram em seus pensamentos, que geralmente estão disfuncionais e podem gerar comportamentos prejudiciais que reforçam o transtorno”, esclarece.

Como identificar

Questionada sobre como identificar um caso, Elisabeth afirma ser importante que a família e amigos estejam atentos a alguns sintomas mais característicos de pessoas que podem ter transtorno alimentar, como mudança rápida e drástica de peso.

“Além da insatisfação recorrente com a imagem, aliada à evitação alimentar constante, isolamento social, entre outros. Não é tão simples para pessoas leigas identificarem que o quadro se trata de um transtorno. A recomendação é que sempre se procure um especialista para avaliar”, destaca.

Jovens são mais afetados

Ainda de acordo com a psicóloga, adolescentes e jovens mulheres são os mais afetados pelos transtornos alimentares.

“A esse fator podemos atribuir a pressão estética e os padrões de beleza da sociedade, que são fatores ambientais relacionados a esse nicho de indivíduos, mas é importante ressaltar que também afetam outros grupos da sociedade, como homens, crianças e idosos”, finaliza.

Maria Luiza Lúcio

Maria Luiza Lúcio

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