Colabore com o Eufemea

Famílias Atípicas Empreendedoras: conheça o projeto que se tornou uma rede de apoio em AL

Foto: Victor Vercant (Secom Maceió)

Luana Rodrigues é baiana, tem 43 anos e é mãe solo de cinco filhos atípicos. Ela é bacharela em Direito e confeiteira. Ela também é dona de uma história única, que tem como pontos chave a perseverança e resiliência.

A história de Luana Rodrigues é marcada por caminhos dolorosos, incluindo abusos na infância, violência doméstica e a perda parcial da visão. No entanto, determinada a trilhar um novo caminho, ela fundou o projeto Famílias Atípicas Empreendedoras em Alagoas.

O projeto une empreendedorismo e rede de apoio para mães, e surgiu a partir da necessidade de famílias que precisavam criar oportunidades para gerar renda e lidar com as demandas de ter um membro neurodivergente. (Neurodivergente refere-se a uma condição em que o funcionamento cerebral difere significativamente do que é considerado típico ou neurotipicamente esperado).

Hoje, com a participação de 245 famílias, a iniciativa tornou-se não apenas um suporte essencial para os empreendimentos, mas também uma importante rede de apoio para elas.

A história de Luana

Foto: Cortesia

Foi na confeitaria, dom herdado de sua avó, lembrada com muito carinho, que ela encontrou uma forma de garantir sua renda. “Eu sempre pedia para ela fazer bolo para mim, e ela dizia para eu ir para o terraço do sítio em que morávamos para esperar ficar pronto, mas o cheiro sempre chegava lá”, relembra. Ela batizou seu empreendimento como “Terraço dos Bolos”, em homenagem a essa lembrança.

Em 2014, após um rompimento da retina nos dois olhos, ela passou por uma cirurgia, mas acabou perdendo a visão do olho esquerdo. Em 2021, enfrentou outro descolamento da retina no olho direito, desta vez mais grave. “Precisei passar por outra cirurgia e tive mais sequelas. Hoje, já estou bem adaptada, embora tenha algumas limitações. Mas a vida segue”, desabafa.

Mãe de cinco filhos, quatro diagnosticados com autismo e uma com TDAH, Luana disse que sempre se manteve engajada em frequentar palestras e rodas de conversa que abordavam temas relacionados à neurodivergência. Seu objetivo era aprender o máximo possível para compreender a melhor forma de cuidar de seus filhos.

O início do projeto

O ponto de partida ocorreu durante uma audiência pública em 2023, realizada em homenagem ao Maio Furta-Cor, um mês de conscientização sobre Saúde Mental Materna. Foi nesse evento que Luana se deparou com os relatos de diversas mães e famílias atípicas enfrentando dificuldades semelhantes às suas.

“Quando me sentei, senti no meu coração que precisava dar vida a um projeto. Ali mesmo na audiência, falei com algumas pessoas sobre isso, e uma delas foi Mércia”, relembra Luana. Elas já haviam se encontrado anteriormente em uma feira promovida pela Universidade Federal de Alagoas, mas foi nesse dia que estreitaram seus laços.

Luana, juntamente com Mércia Silva, Dayse Alves e Shirlene Fragoso, deu o pontapé inicial no projeto “Famílias Atípicas Empreendedoras”.

“Naquele dia, conversei com algumas mães, muitas me passaram o contato para quando eu iniciasse o projeto, para que pudessem participar, mas acabei perdendo esses números”, conta Luana. Apesar da certeza sobre o projeto, ele permaneceu apenas no papel por um tempo.

A ideia permaneceu adormecida até agosto, quando uma vizinha de Luana foi até ela para desabafar. Dayse, sua vizinha, acabara de descobrir que sua filha era uma criança atípica e que seria obrigada a retirá-la da escola por decisão da direção.

Foto: Cortesia

Preocupada com onde deixaria sua filha para poder trabalhar, Dayse encontrou em Luana uma rede de apoio e compartilhou com a amiga suas dificuldades como mãe atípica.

“Naquela mesma noite, Luana tirou do coração e da mente esse projeto e deu o pontapé inicial, criando o grupo de WhatsApp das Famílias Empreendedoras e me convidando a participar ativamente desse projeto. Unindo dores e desafios em busca de oportunidades e paz para educar nossos filhos”, relembra Dayse.

Atualmente, Dayse faz parte do projeto como administradora e com seu empreendimento, o Bioterapia, focado em educação ambiental em diferentes ambientes, como escolas, creches e clínicas terapêuticas. Para ela, a experiência vai além.

“Está me inserindo, assim como minha filha, num universo desconhecido de ‘neurodivergência’. Através das experiências de cada família, tenho me fortalecido, sem contar que tenho conhecido tantas pessoas com histórias de vida inspiradoras!”, destaca.

Propósito do projeto

Foto: Cortesia

Segundo Mércia Silva, uma das administradoras do projeto, o “Famílias Atípicas Empreendedoras” foi criado com o intuito de divulgar o trabalho dessas famílias e garantir novas oportunidades de exposição desse trabalho em feiras, a fim de atrair novos clientes.

Para além do objetivo financeiro, o projeto tornou-se uma rede de apoio, onde, por meio do compartilhamento de informações e experiências, essas famílias podem redefinir o que significa ser uma família atípica.

“Não queremos ser vistas como coitadas, queremos mostrar à sociedade que a verdadeira inclusão é aquela que proporciona oportunidades para crescermos, mesmo diante de um diagnóstico”, afirma Mércia.

Assim como suas amigas, o empreendedorismo surgiu em sua vida como uma forma de reformular sua realidade. “Nunca pensei em deixar um emprego fixo para empreender, mas quando meu filho perdeu o tratamento pelo plano de saúde, precisei empreender para custear o tratamento”, relembra. A partir daí, nasceu o “Meu Sonho Azul”, uma loja de roupas infantis.

“Hoje, nosso projeto está crescendo e ganhando mais visibilidade. Estamos levantando a bandeira da inclusão, e a mensagem mais importante para essas mães é que há vida após um diagnóstico. Podemos vencer se tivermos fé e coragem. Nosso propósito é proporcionar oportunidades e esperança de dias melhores para essas famílias”, afirma Mércia.