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Ancestralidade e empoderamento: a jornada de Tereza Olegário com os turbantes

“O turbante tem um significado muito importante, principalmente na nossa cultura, pois resgata a ancestralidade. Quando coloco o turbante, seja na minha cabeça ou na de outras mulheres, sempre falo sobre a questão do empoderamento, pois ele não é apenas um enfeite, mas sim a nossa coroa,” relata Tereza Olegário, mulher negra, afroempreendedora e fundadora da Olegário Turbantes.

Nascida em Maceió, Alagoas, Tereza se mudou ainda pequena para o Rio de Janeiro, onde foi criada na comunidade da Rocinha por sua avó e tia. Após 14 anos na capital carioca, ela retornou a Maceió, onde concluiu seus estudos e ingressou no mercado de trabalho como office girl.

Primeiros passos e crescimento

Ao Eufêmea, ela conta que a Olegário Turbantes surgiu em um momento de reconhecimento e aceitação de sua identidade negra. “Foi quando comecei a me envolver mais com a questão do movimento negro e deixei de alisar o meu cabelo”, relembra Tereza.

Durante a transição capilar, um período importante para muitas mulheres negras, Tereza começou a confeccionar turbantes usando retalhos de tecidos. O interesse crescente das pessoas ao seu redor inspirou a criação de seu negócio, que leva seu sobrenome e se dedica à produção de turbantes.

“Eu não imaginava que teria uma proporção tão grande, onde naquela época as pessoas não viam o turbante como é visto hoje. Muitas pessoas me perguntavam onde eu comprava. Então parei e pensei: por que não criar a Olegário Turbantes? Foi assim que surgiu. Peguei meu sobrenome, Olegário, e o turbante, que é o trabalho que eu faço,” explica a afroempreendedora.

Uma das experiências mais marcantes para Tereza aconteceu em uma oficina que ela ministrou em uma escola municipal de Maceió. Foi sua primeira oficina voltada para crianças. Naquela ocasião, meninas e meninos ficaram encantados e colocaram o turbante pela primeira vez.

“Depois que essa época passou, a mesma professora que me convidou chegou até mim e disse: ‘Olegário, eu tenho um aluno que até hoje usa o turbante que ganhou durante a oficina.’ Para mim, é como se eu pensasse: eu estou indo pelo caminho certo.”

Impacto social

Foto: Arquivo Pessoal

Além das oficinas para crianças, Tereza também realiza atividades durante o Outubro Rosa, mês de conscientização sobre o câncer de mama e de útero. Nesses eventos, ela ensina mulheres em tratamento a usarem lenços, oferecendo apoio emocional e ajudando a recuperar a autoestima. “Ouvir dessas mulheres que fui fundamental no tratamento delas é muito gratificante”, revela Tereza.

Ela também contou que a maioria dessas mulheres foram abandonadas pelos companheiros e pelas famílias. “Então, é difícil perder o cabelo, que é o nosso bem mais precioso, e ainda mais ser abandonada pelos nossos parceiros. Ouvir dessas mulheres, que me abraçam e me agradecem, foi um dos momentos mais importantes,” continua Tereza.

Tereza, que ainda não possui formação técnica em moda, baseia suas criações na curiosidade e na pesquisa, valorizando o resgate histórico e cultural em seu trabalho diário. De acordo com ela, a empresa é inspirada por outras afroempreendedoras e figuras históricas como Dandara e Tereza de Benguela. “Minhas referências são mulheres negras empoderadas, batalhadoras, sempre lutando pelo seu espaço,” afirma Tereza.

Um caminho de conquistas

Foto: Arquivo Pessoal

A alagoana revela que, apesar das dificuldades e dos momentos em que pensou em desistir, nunca deixou de acreditar em si mesma. “Eu me sinto muito honrada em ver as conquistas que a Olegário Turbantes vem alcançando durante esse tempo”, comemora.

A trajetória de Tereza é marcada por uma série de conquistas. De acordo com ela, uma das mais notáveis foi sua seleção entre as 300 ganhadoras de um concurso do TikTok, que lhe rendeu um prêmio de R$ 5.000,00.

Com esse valor, Tereza pôde comprar sua própria máquina de costura industrial e um overlock, ferramentas essenciais que melhoraram a qualidade de seu trabalho. “Até então, eu costurava na máquina da minha avó, que não tinha um acabamento perfeito”, relembra.

Outra realização importante foi a oportunidade de confeccionar uma saia envelope para a primeira-dama de Maceió, um feito que muitos estilistas almejam. “Nunca imaginei também fazer a roupa da primeira-dama de Maceió”, diz Tereza, destacando a gratificação e o reconhecimento que essas oportunidades trouxeram para sua vida.

Para Olegário, cada um tem um dom e a capacidade de realizar grandes feitos, desde que acredite em si mesmo e se esforce para alcançar seus objetivos. “Eu quero empoderar essas mulheres de uma forma como eu fui empoderada lá atrás”, explica.

Com uma abordagem humilde e pés no chão, Tereza Olegário inspira outras mulheres a olharem para si mesmas e enxergarem o quanto são poderosas e capazes.

Seu sonho é que muitas pessoas possam se espelhar em sua história e tornarem-se referências em suas áreas de atuação. “Se a gente pudesse erguer a cabeça e ver o quanto somos especiais, tenho certeza que muitas mulheres estarão divulgando seu trabalho e sendo referência”, conclui.

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Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.