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Por que ser mulher na política é mais desafiador do que parece

Foto: Keiny Andrade

Sempre ouvi que ser mulher na política era um desafio. Cresci vendo poucas mulheres ocuparem cargos como vereadoras, senadoras, deputadas, e tivemos apenas uma presidenta. A política sempre pareceu um caminho distante, até que a vida me conduziu para ele. Nunca compreendi bem o motivo, mas talvez eu precisasse aprender a enxergar as coisas de outra forma, a entender que a política é um poderoso instrumento de transformação. Muitas vezes, é somente através dela que conseguimos provocar mudanças significativas.

Como assessora de imprensa, trabalhei com algumas mulheres na política. Antes delas, atuei ao lado de homens — seis, ao todo. Posso afirmar com convicção que para uma mulher, estar na política é muito mais doloroso e desafiador. Elas precisam abrir mão de muita coisa para ocupar seu espaço.

Posso dizer, sem medo de errar, que homens apoiam outros homens dez mil vezes mais do que as mulheres são apoiadas. Muitas vezes, elas são colocadas à margem ou utilizadas apenas para preencher uma cota. Não são levadas a sério. E quando precisam erguer a voz para expor suas opiniões, são rapidamente taxadas de histéricas.

Elas suportam, em silêncio, inúmeras violências. Sim, no plural. Muitas engolem o choro para seguir em frente, de cabeça erguida e peito aberto. A mulher não pode errar; ela é cobrada dez mil vezes mais do que um homem.

Se uma mulher reclama, ela é vista como “chata”. Se um homem reclama, ele é apenas um “chefe”. As mulheres não podem demonstrar cansaço, não podem admitir que estão tendo um dia difícil, porque se o fazem, são consideradas fracas. Se uma mulher não se posiciona, dizem que ela não serve para a política. Mas, se ela fala, logo a rotulam de “mimizenta”.

Eu apoio e sempre vou lutar para termos mais mulheres na política – mulheres que verdadeiramente defendem os nossos direitos. Mas preciso ser honesta com vocês: se soubessem ao menos 10% do que uma mulher enfrenta para ocupar um espaço na política, com certeza teriam mais empatia e votariam mais em mulheres.

O caminho é árduo, cheio de desafios e injustiças. Mas, a gente precisa resistir. Lembram do que eu disse lá no começo? A política é um poderoso instrumento de transformação. Se não tivermos mulheres na política, infelizmente, essa transformação não será completa, porque nossas vozes, nossas lutas e nossas demandas continuarão sendo ignoradas ou sub-representadas.

Estou no Instagram: @raissa.franca

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Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.