Em épocas de realidade virtual temos a sensação que estamos cada vez mais conectados, afinal compartilhamos nossa vida, somos vistos, e observamos o cotidiano até mesmo de pessoas que nem sequer temos proximidade. E quando falamos em relacionamentos amorosos, porque parece que mesmo com toda essa aproximação que as redes sociais proporcionam, estamos nos sentindo tão distantes de ter um amor possível e saudável?
A Psicanalista Carol Tilken nos fala que “em época de consumismo afetivo estamos buscando ser nossa melhor versão, mas para quem exatamente?” Porque o que se apresenta na cultura dos filtros muitas vezes é uma perfeição que serve para atrair mas que pode ir na contramão da nossa autenticidade, algo de bastante relevância quando o tema é vínculo seguro entre duas pessoas. É o medo de ser quem se é, o medo da rejeição, o medo do abandono…
Essas inquietações não estão presentes apenas nos diálogos das sessões de terapia. E não estou aqui julgando porque a sensação de pertencimento é inerente ao ser humano, porém muitas pessoas querem vivenciar relações perfeitas a qualquer custo, e querendo ter a certeza absoluta sobre o êxito no relacionamento, como se o (a) parceiro(a) amoroso(a) fosse uma bóia de salvação! Experienciam mentir ou ocultar sobre sentimentos e situações como forma de evitar conflito e sempre agradar, porque mostrar vulnerabilidade não é visto com bons olhos. Apontar quais são as necessidades emocionais que precisam ser atendidas pode oferecer represálias…
Será que a perspectiva é de controle total para prevenir incertezas nessa díade? Mas como se estamos falando sobre algo subjetivo e oscilante como o ato de amar? Aproximação e distanciamento em algum momento nos ajudam a redescobrir não só a nós mesmos como ao nosso(a) compaheiro(a). Em entrevista à revista Marie Claire há uns anos, o Psiquiatra Jorge Forbes afirmou “a felicidade amorosa não tem garantia. Buscá-la é obrigação de todos, mesmo sabendo do risco de se machucar no caminho.”
Buscar compreender que nem sempre conseguiremos manter o encantamento, “o apaixonamento mágico” e que desconstruir o ideal do amor romântico é necessário, pode ser a resposta que trará leveza e solidez aos encontros amorosos e um imenso alívio em tempos de burnout afetivo .
A escritora norte americana Bell Hooks, em tudo sobre o amor e novas perspectivas, diz que “Quando nos engajamos num processo de amor próprio e de amar os outros, devemos nos mover além do reino do sentimento para tornar o amor real. É por isso que é útil ver o amor como prática”.
Devemos estar mais atentos aos gestos do que às palavras, e nos abrir ao convite para agir de forma proativa buscando a construção diária de espaços seguros onde o amor possa se fortalecer e que relacionamentos saudáveis sejam o resultado dos esforços e entregas de um para com o outro, num ciclo contínuo de apoio, compreensão e crescimento mútuo.
Apesar das incertezas que se apresentam no relacionamento afetivo, amar é uma escolha que pode alimentar o melhor de mim, porque mostrar quem sou de verdade me deixa livre para também conhecer o outro em essência e juntos, quem sabe, diante de nossas imperfeições, não cair em armadilhas tóxicas de” tudo suportar em nome do amor”.
O amor humano não é todo poderoso e nem perfeito, e para ser saudável precisa de disponibilidade empática, respeito e diálogos assertivos, ou segundo o Psicólogo Walter Riso:” o amor saudável não é um amor completo e definitivo de uma vez por todas; ao contrário, se trata de uma orientação que permite nos reinventarmos junto à pessoa amada. É uma bela mistura de razão e emoção a serviço de uma vida aprazível a dois.”
Maria Manoella Medeiros
Psicóloga CRP 15/1624
Terapeuta do esquema pelo Instituto de Educação e Reabilitação Emocional
Formação em Avaliação Psicológica