Quem passa pela fachada da “Barraca da Empoderada” dificilmente imagina a história de superação por trás daquele nome. Conhecida no bairro de Santa Amélia pelo apelido que estampa sua barraca, Thayse Lima decidiu empreender após receber o diagnóstico de fibromialgia, doença que a obrigou a se afastar de seu trabalho como técnica de enfermagem.
Para consolidar o próprio negócio, ela precisou enfrentar as marcas deixadas pela violência doméstica. Hoje, tornou-se um exemplo para muitas outras mulheres que, assim como ela, foram vítimas de parceiros abusivos, mas lutaram para reescrever suas histórias. O negócio é um símbolo de resistência.
Início do empreendimento
Após se afastar do trabalho, em busca de uma nova fonte de renda, ela identificou uma oportunidade ao saber que um posto de saúde seria inaugurado justamente ao lado de sua casa.
Com essa estratégia em mente, ela transformou um cômodo de sua própria casa em um pequeno ponto comercial, bem em frente à nova unidade de saúde. Determinada a realizar seu sonho, Thayse investiu todas as economias que tinha na compra de uma estufa e um frigobar, dando vida ao “Cantinho dos Lanches”.
Sem experiência na área, Thayse pesquisava na internet receitas para preparar e vender. “Minhas primeiras tentativas na cozinha não eram muito boas”, relembra. “Mas eu sempre gostei de estudar e decidi cursar Gastronomia para aprimorar meus conhecimentos”, disse.
Mais do que aprender uma nova profissão, a escolha de se especializar no ramo e investir no próprio negócio era também uma estratégia para contribuir com as despesas de casa. Na época, Thayse ainda morava de aluguel e precisava ampliar sua renda.
“Não é coisa de mulher”
Apesar de todo o esforço, o apoio que Thayse precisava nunca veio do ex-marido. Pelo contrário, ele reagiu com agressividade à dedicação dela ao novo negócio.
“Ele me derrubava com palavras hostis, me perseguia e me humilhava. Até então eu não reconhecia que sofria violência doméstica. Só queria me sentir útil e aprender uma nova profissão”, relembra. Entre as ofensas, Thayse recorda de ouvir que “estar à frente de um negócio não era coisa de mulher”, o que constantemente descredibilizava seu trabalho.
Por anos, ela foi vítima de agressões físicas e psicológicas e chegou até a ser impedida, pelo companheiro, de frequentar a faculdade. Nesse mesmo período, o proprietário do imóvel em que Thayse mantinha sua pequena lanchonete decidiu construir uma garagem no espaço destinado ao seu empreendimento. Ao questioná-lo, ouviu que o ex-marido havia dito que o negócio “não tinha futuro”, justificando assim o encerramento forçado daquela etapa inicial de seu projeto.
A barraca da empoderada
O período que se seguiu foi um dos mais difíceis de sua vida, mas ela se recusou a desistir. Com o pouco dinheiro que lhe restava, investiu na compra de uma tenda e instalou o empreendimento na calçada de casa.
No dia de seu aniversário, 13 de novembro de 2017, Thayse foi até a Prefeitura pedir autorização para manter o negócio naquele local.
Fim do relacionamento abusivo
Pouco tempo após retomar o negócio, Thayse conseguiu finalmente denunciar o agressor e dar início ao processo de divórcio. Nesse período, o acompanhamento de uma psicóloga e a participação em rodas de conversa sobre violência contra a mulher foram fundamentais para que ela conseguisse romper com o relacionamento abusivo.
“Participei de protestos e palestras sobre o tema, ouvi outras mulheres e compartilhei minha superação”, relembra. Ela ressalta que, desde o começo, a “Barraca da Empoderada” não tinha apenas a missão de crescer financeiramente, mas também a de impactar positivamente a vida de outras mulheres vítimas de violência doméstica.
“Na barraca, escrevi algumas palavras para que, mesmo quando ela estiver fechada, as mulheres possam ler e sentir que é possível recomeçar, retomar o controle sobre suas vidas e conquistar independência financeira”, afirma.
Recomeço
Recentemente, Thayse pôde retomar sua atuação como técnica de enfermagem. Embora tenha precisado fechar a barraca por um período, ela reabriu o empreendimento e já faz planos de investir em melhorias na infraestrutura.
Agora, a principal meta é compartilhar sua trajetória de superação com outras mulheres. “Quero transmitir toda essa coragem e determinação, impactando a vida de quem enfrenta desafios semelhantes aos meus. Minha história pode ser um exemplo de que é possível recomeçar e transformar dificuldades em conquistas”, afirma Thayse.