Nascida e criada no Vale do Reginaldo, em Maceió, Mavi Brown é uma multiartista que se destaca também como empreendedora na área cultural. Além de sua carreira solo como cantora, ela é professora de música e integra as bandas Royal Garden e Nação Palmares. Como se não bastasse, Mavi ainda cultiva sua paixão pelos palcos atuando como atriz.
Mas antes de se tornar Mavi, a pequena Mayra Santos—seu nome de batismo—foi influenciada pela atmosfera de seu bairro. Ela lembra que sempre havia sons de reggae e outros estilos característicos das periferias de Maceió.
“Cresci nesse ambiente, compreendendo todos os aspectos de ser uma mulher preta e periférica na parte baixa da cidade, especialmente naquela região do Vale do Reginaldo”, destaca.
Empreendedora desde criança
Ainda na época da escola, Mavi conquistou uma bolsa de estudos em um colégio de elite da capital alagoana. Foi nesse período que seus pais se divorciaram, e, para ajudar nas despesas de casa, ela sugeriu a ideia de vender doces na sala de aula.
“Minha mãe também é uma mulher preta e periférica, mãe de quatro filhos. Para ajudá-la, comecei minha jornada como empreendedora, vendendo trufas, bolo de pote e outros docinhos. Logo, passei a receber encomendas dos colegas da escola”, relembra.
Seu espírito empreendedor também foi crucial durante sua formação universitária. Enquanto cursava Educação Física na Universidade Federal de Alagoas, Mavi conciliava os estudos com a produção e venda de donuts, que, por anos, foi a principal fonte de renda de sua família.
Hoje, na cena artística, ela aplica todo o conhecimento adquirido ao longo dessa trajetória para empreender no universo cultural. “Eu trouxe esse empreendedorismo para a minha vida como professora e também para a minha vida como artista, né? Vendendo esse serviço de cantora e ensinando arte, mas sempre deixando minha marca”, afirma Mavi.
Dificuldades de uma artista periférica
Mavi reflete sobre os principais desafios de empreender no meio cultural, especialmente estando fora do eixo central da cidade. Para ela, deixar sua marca com estilos tão característicos como o black music e o reggae roots alagoano é uma batalha constante.
“Muitas vezes, esses estilos são julgados como uma subcultura, uma arte menor, e o desafio é mostrar que nossa arte não é menor que as outras. Ela é importante, necessária e transformadora”, ressalta.
Apesar das adversidades, Mavi mantém o otimismo e observa, pouco a pouco, essas barreiras diminuindo. Ela acredita que a originalidade é uma ferramenta indispensável para romper bolhas e expandir sua arte para além da periferia.
“É um desafio comunicar essa mensagem em outros espaços, mas, aos poucos, as pessoas estão abrindo mais a mente para aceitar a diversidade cultural e compreender a pluralidade do fazer artístico, com identidade e contemporaneidade”, reforça.
Influência para a periferia
Muitas pessoas do Vale do Reginaldo, especialmente amigas da época da escola pública, enviam mensagens para Mavi dizendo que se sentem inspiradas por sua trajetória. “Isso me faz crer que, de alguma forma, eu transformo a minha comunidade”, reflete.
Para Mavi, o empreendedorismo foi uma maneira de usar as regras do sistema a favor das pessoas periféricas. “Eu digo que não fiz o empreendedorismo pelo empreendedorismo, mas sim pelo social. É uma semente que foi plantada individualmente e vem germinando”, explica.
Recentemente, Mavi palestrou para crianças de escola pública no complexo cultural do Teatro Deodoro. Durante o evento, compartilhou sua história e vivências, inspirando jovens a romperem com as barreiras da vulnerabilidade social e a conquistarem seus objetivos.
Identidade artística
Mesmo com uma vasta experiência, Mavi considera que a identidade de sua carreira solo está “em eterno processo de manutenção”. Como artista, ela rejeita padrões muitas vezes impostos, especialmente para mulheres negras.
Para Mavi, recusar padrões impostos é essencial para exercer seu trabalho de forma autêntica e afetiva. Sua missão principal é empoderar outras pessoas por meio de sua voz e visão. Ela acredita que é na multiplicidade que reside sua originalidade e ativismo.
“A Mavi existe aqui dentro e fala por si. É autônoma. É atriz, cantora, professora. Ela é múltipla. Hoje, me compreendo como uma multiartista. Ser múltipla é a identidade da Mavi”, destaca.