O uso de celulares em salas de aula, intervalos e recreios de escolas públicas e privadas de todo o Brasil está agora proibido. Os dispositivos deverão permanecer guardados nas mochilas dos estudantes e só poderão ser utilizados para fins pedagógicos, com orientação dos professores, ou em situações relacionadas à segurança e acessibilidade.
Kelly Almeida, coordenadora pedagógica da Escola SEB, em Maceió, considera a medida positiva, pois está embasada em pesquisas que mostram os efeitos negativos do uso excessivo de celulares por crianças e adolescentes, principalmente em relação ao desenvolvimento cognitivo e emocional.

“A dependência emocional do celular é uma realidade. Basta uma notificação para tirar o aluno do foco da aula”, afirma a coordenadora.
A limitação, segundo Kelly, pode ajudar a diminuir a indisciplina e a distração, contribuindo para melhorar a concentração dos alunos. No entanto, ela ressalta que a aceitação da nova regra depende de estratégias bem definidas.
“É fundamental promover espaços de diálogo com as famílias e os estudantes, desenvolver guias e cartilhas explicativas, e incentivar debates que levem à reflexão e à autocrítica”, observa.
Conscientização escolar
Um dos desafios mais destacados por Kelly é a necessidade de conscientizar toda a comunidade escolar. Segundo ela, “se os adultos — família e colaboradores — não derem o exemplo no uso consciente dos dispositivos, a proibição será vista de forma negativa”. “Por isso, diálogo, orientação e paciência são indispensáveis para superar essa barreira”, reforça.
A coordenadora também aponta que, sem os celulares como distração durante os intervalos, os estudantes terão uma oportunidade valiosa de fortalecer a socialização. Nesse contexto, eles poderão desenvolver habilidades importantes, como interação social, resolução de conflitos, memória, atenção e até liderança.
Ela reforça que a orientação deve ser constante e parte do cotidiano escolar. “Para alcançar esse objetivo, é fundamental que as diretrizes sejam incluídas no código de ética e conduta da instituição,” diz.
Adaptação inicial
A proibição do uso de celulares promete reduzir distrações e indisciplina, ajudando os estudantes a se concentrarem mais nas aulas. Porém, o período inicial de adaptação será desafiador. É o que afirma Mariana Yezzi, psicóloga escolar do Colégio Santíssimo Senhor, em Maceió.

“Muitas crianças e adolescentes estão habituados a usar o celular constantemente para comunicação e entretenimento. A ausência desse recurso pode causar ansiedade, irritabilidade, raiva e até episódios de agressividade no início. Eles terão que aprender a lidar com o tédio e buscar outras formas de se entreter”, explica Mariana.
Para enfrentar esses obstáculos, ela reforça a necessidade de um suporte emocional ativo por parte das escolas, bem como do desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
“As instituições precisarão acolher, escutar e compreender que, para muitos jovens, o celular é uma extensão da sua identidade, já que cresceram imersos no universo digital. Essa transição exigirá paciência e ações de psicoeducação,” afirma.
Suporte emocional e diálogo
A psicóloga reforça a necessidade de estabelecer estratégias bem definidas para o uso de celulares em contextos pedagógicos ou emergenciais. “É essencial que o uso para fins pedagógicos seja cuidadosamente planejado e alinhado com os professores. Se for necessário recorrer ao celular para uma atividade específica, a escola deve estabelecer regras claras, como guardar o dispositivo imediatamente após o uso”, explica.
Em relação a situações de acessibilidade, como aplicativos para monitorar condições de saúde, Mariana destaca a importância de transparência e diálogo contínuo com pais e alunos. “É fundamental que a escola mantenha uma comunicação aberta, explicando como serão conduzidas essas situações, de forma que todos entendam as diretrizes e os motivos por trás delas.”
A psicóloga também salienta a relevância de uma comunicação eficiente entre escola e família. Ela recomenda que os pais sejam informados sobre o processo de uso e armazenamento dos celulares, garantindo que eventuais emergências sejam geridas de forma organizada, sem prejudicar o ambiente de aprendizagem.
“Sem a presença constante do celular, os estudantes poderão explorar habilidades essenciais para a convivência em grupo, como interação social, resolução de conflitos e resiliência,” conclui Mariana.