(Texto colaborativo com a psicóloga Huíla Cardoso – CRP 15/5673)
(Tempo de leitura – 3 minutos)
O início do ano pode parecer o momento ideal para novos começos. Mudar é desafiador, mas também necessário, às vezes até imperativo. Também é incrível, mesmo que durante o processo não possamos perceber essa possibilidade. Naturalmente, podemos duvidar se valerá mesmo a pena. Mas, normalmente, quem mergulha no processo de mudança e chega “do outro lado da ponte” costuma sentir orgulho de si mesmo, da sua trajetória e da sua força.
As dores que sentimos, a relutância em mudar, o medo e a resistência são naturais, porque mudar realmente é difícil. Temos uma tendência a preferir aquilo que nos é conhecido e familiar, mesmo que hoje isso já não faça mais tanto sentido para a vida que queremos viver.
Algumas grandes mudanças são precedidas por momentos de caos. Como em uma obra ou reforma: é preciso tirar tudo do lugar, quebrar, descartar, aproveitar o que é essencial e, só então, alcançar o resultado desejado. Da mesma forma, a angústia e a aflição muitas vezes antecedem grandes transformações. Mudar exige revisão, intencionalidade e disciplina.
Duas grandes certezas são inerentes à vida: a morte e as mudanças. Desde que o mundo é mundo, evoluímos como espécie porque mudamos. Só evolui quem se adapta.
Abandonar e perder são partes inevitáveis da vida. Deixamos a segurança do ventre de nossas mães para nascer, o leite para experimentar os sabores das papinhas, e amizades ou relacionamentos que chegam ao fim para abrir espaço a novas conexões.
Mudar impacta diretamente nossa identidade. Pegando meu próprio exemplo, a Huíla de sete anos atrás é muito diferente da Huíla de hoje. Mudanças significativas aconteceram. E, claro, vieram acompanhadas de muito caos, dificuldade e dor. Mas eu amo a minha versão atual.
É comum, diante de certas mudanças, surgir o desejo de manter tudo como está. No entanto, a vida acontece e, aos poucos, traz pequenas alterações até o momento em que uma grande mudança se torna inevitável.
A vida é impermanência; nada permanece igual para sempre. Reconhecer que as coisas mudam tem um lado muito positivo e saudável, pois nos ajuda a aceitar o fechamento de ciclos e a chegada do novo.
Querer que a vida nunca mude é uma ilusão, pois as transformações não dependem apenas da nossa vontade. A rigidez, embora possa parecer útil, na verdade torna a vida mais difícil. Mesmo que você não deseje mudar, as mudanças virão.
Uma vida mais leve está profundamente ligada à flexibilidade e à tolerância, especialmente diante dos desconfortos.
Talvez você, que está lendo estas palavras agora, esteja enfrentando algum conflito ou desconforto que, no fundo, revela um desejo de mudança — junto ao medo do novo. Vale a pena pensar nos incômodos e conflitos como agentes transformadores, capazes de nos fazer crescer e fortalecer nossas relações. Esses momentos, por mais desafiadores que pareçam, carregam o potencial de nos tornar a nossa melhor versão.
A psicoterapia pode ser o espaço onde essas mudanças, muitas vezes difíceis de digerir ou atravessar, são acolhidas e trabalhadas. A perda de alguém especial, o fim de um casamento — mudanças tão significativas como essas podem abalar a vida, mas também trazem oportunidades de transformação.
Se mudar tem sido difícil para você, olhe para essa experiência com carinho. Nunca é tarde, e talvez a melhor hora para começar seja agora. Prolongar o sofrimento raramente ajuda, então, se for complicado enfrentar tudo isso sozinha ou aceitar as mudanças, não hesite em procurar ajuda profissional.
Forte abraço,
Huíla Cardoso
CRP 15/5673.