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Lídia Ramires foi a primeira repórter esportiva de Alagoas e continua sendo um dos grandes nomes do radiojornalismo no estado. No entanto, consolidar-se em um ambiente dominado por homens não foi fácil. Durante anos, enfrentou o preconceito por ser mulher em um meio tradicionalmente masculino.
Atualmente, Lídia Ramires é docente na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e dedica-se à pesquisa sobre mídia, gênero e jornalismo esportivo. Em 2020, concluiu seu pós-doutorado com o estudo “Deixa Ela Trabalhar: jornalismo esportivo e gênero”, que aborda o assédio contra mulheres jornalistas na cobertura esportiva no Brasil e em outros países.
Antes mesmo de ter seu primeiro contato com o rádio, Lídia já cultivava uma grande paixão: o futebol. Foi o esporte, segundo ela, que a motivou a seguir a carreira no jornalismo esportivo. O rádio, por sua vez, entrou em sua trajetória mais tarde, quando surgiu a primeira oportunidade de estágio durante a faculdade.
“Fui para o rádio sem conhecer nada. O que me favorecia era o fato de que, embora as pessoas não acreditem, sou tímida, e no rádio não há imagem, apenas a voz. Isso me permitiu trabalhar com futebol”, relata Lídia.
Foi na Rádio Difusora de Alagoas que Lídia teve seu primeiro contato com o radiojornalismo, um espaço onde pôde se desenvolver e consolidar sua trajetória na área. Somente anos depois, ela percebeu que havia sido pioneira no jornalismo esportivo no estado.
“Até então, algumas jornalistas haviam feito participações, mas não integravam as equipes. Isso foi no século passado, viu? Em 1995”, relembra.
Demitida por ser mulher
Na década de 1990, Lídia passou a integrar a equipe da Rádio Gazeta. Paralelamente, atuou como assessora e fundou a primeira empresa de clipping digital de Alagoas.
Mesmo com outras experiências profissionais, sua dedicação e paixão pelo radiojornalismo, especialmente pelo futebol, sempre falaram mais alto. No entanto, nesse mesmo período, a jornalista enfrentou um episódio marcante de preconceito por ser mulher.
Em 1998, quando a Seleção Brasileira embarcou para a França para disputar a Copa do Mundo, a Rádio Gazeta organizou uma equipe para cobrir o evento. Na hora da escalação, Lídia foi deixada de fora. “Fui demitida por ser mulher”, afirma.
Inspirada por essa e outras experiências de preconceito e assédio — vividas por ela e por outras colegas de profissão — Lídia decidiu aprofundar-se na carreira acadêmica e se dedicar à pesquisa sobre gênero, mídia e jornalismo esportivo.
Os caminhos da vida a levaram, em 2020, já como docente da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), a concluir e apresentar sua pesquisa de pós-doutorado, “Deixa Ela Trabalhar: jornalismo esportivo e gênero”, na Universidade de Toulouse, na França.
Maiores desafios na profissão

Para Lídia Ramires, ser mulher já é, por si só, um desafio. No entanto, dentro do jornalismo esportivo, os obstáculos se multiplicam. “Hoje, essa é minha área de pesquisa, até como forma de denúncia dessa violência que é tão silenciada”, destaca.
Segundo a jornalista, há um tripé que resume as principais dificuldades enfrentadas por mulheres nesse meio: “Em Alagoas, não se abre vaga para mulher”, afirma. “Quando conseguem chegar, não conseguem permanecer. Esse foi o meu caso. E, por fim, tem a questão da ascensão: muitas não chegam a cargos de chefia”, diz.
Ela relembra que, após sua demissão da rádio, a equipe ficou sem nenhuma mulher. E mesmo depois de 25 anos, a realidade pouco mudou: atualmente, há apenas uma mulher atuando no rádio esportivo alagoano.
Conselhos para outras mulheres
Apesar dos desafios, Lídia incentiva outras mulheres que desejam ingressar no jornalismo esportivo a cultivarem resistência. Ela também destaca a importância de construir uma rede de apoio e denunciar episódios de assédio.
“Eu saí em um tempo em que não se falava em assédio moral. Assédio sexual era chamado de cantada, e muitas vezes essa cantada deveria ser considerada um elogio. Hoje em dia, a gente sabe que não é”, afirma.