Aos 27 anos, Glendha Melissa carrega consigo uma trajetória marcada por desafios, mas também por conquistas. Mulher trans, alagoana e estudante de Jornalismo, ela se tornou a primeira diretora e produtora trans a receber uma menção honrosa na Mostra Sururu, com o documentário Cultura Ballroom: A Arte da Resistência. A conquista, além de pessoal, representa um marco para a comunidade trans no audiovisual em Alagoas.
“Posso dizer que vim da periferia e hoje estou conseguindo vencer”, reflete Glendha ao falar sobre sua trajetória. À reportagem, ela contou que ingressou no curso de Jornalismo em 2018, mas enfrentou desafios que foram além da sala de aula.

Segundo ela, durante o período acadêmico, trabalhou em uma empresa de telemarketing, mas sofreu transfobia e preconceito, que acabaram impactando diretamente seu desempenho acadêmico.
“Eu tinha que dividir meu trabalho com o curso. Acabei me atrasando muito e, devido à pressão psicológica que sofri nessa empresa, saí do curso”, relembra.
No entanto, Glendha não desistiu. “Fiz uma declaração explicando tudo o que passei, tudo o que enfrentei, e consegui retomar o curso. Quando retornei, percebi que não seria mais uma estatística. Poderia, sim, permanecer e me formar”, afirma.
Foi nesse retorno que ela encontrou no audiovisual uma ferramenta de resistência e transformação. Cultura Ballroom: A Arte da Resistência nasceu como um trabalho de uma disciplina de produção audiovisual, mas ganhou dimensões maiores ao ser selecionado para a Mostra Sururu e, posteriormente, premiado.
“O prêmio representou muito para mim porque mostrou que eu tenho capacidade para terminar esse curso. Antes, não tinha motivação devido a todas as dificuldades que enfrentei”, destaca. O documentário aborda a vivência de mulheres trans dentro da cena ballroom em Alagoas, um espaço de arte e acolhimento para a comunidade LGBTQIA+.
Glendha ressalta a importância da conquista não apenas para sua trajetória pessoal, mas para toda a comunidade trans.
“Esse documentário teve um grande impacto porque foi o primeiro feito e dirigido por uma pessoa trans a vencer essa premiação na Mostra Sururu. Além disso, trouxe exclusivamente narrativas de mulheres trans”, explica.
Caminho árduo
Apesar do reconhecimento, ela reforça que o caminho no audiovisual ainda é árduo para pessoas trans. “O mercado deu esse prêmio, mas vejo que conquistas individuais não são tão significativas. Precisamos de mais espaço, mais pessoas trans sendo reconhecidas. Este ano, por exemplo, nenhum trabalho de uma pessoa trans foi selecionado. Inscrevi outro documentário e não fui contemplada”, lamenta.
Ainda assim, Glendha segue determinada. “Eu tenho capacidade de continuar produzindo. Mas é necessário abrir mais portas. Uma andorinha só não faz verão. Precisamos de mais pessoas unidas para essa revolução, porque sinceramente, uma só não muda o mundo”, conclui.